Não é a lagarta ou o percevejo marrom e nem a falta de chuvas ou o solo pouco fértil do Nordeste que tiram o solo dos produtores do Centro-Sul do Maranhão. Para eles, pior do que conviver com as pragas e outras dificuldades comuns às lavouras é não poder entregar o que produzem. Com estradas esburacadas, de chão batido e/ou sem sinalização o custo do frete vira o maior entrave para deslanchar a produção do estado. Também não há alternativas de modais de transporte na região.
Das poucas rodovias para escoamento da safra, a BR-230 se encontra esburacada e com sinalização deficitária e a MA-006 “é a pior de todas, com 240 km intrafegáveis. Os produtores fizeram uma força-tarefa para tapar buraco e pelo menos tirar a safra”, revela o produtor Rivaldo Moura, que cultiva 1,1 mil hectares de soja e 400 ha de milho safrinha em duas fazendas, uma em Nova Iorque e outra em Fortaleza dos Nogueiras. “Infelizmente, 100% da nossa produção é escoada via estrada”, afirma o engenheiro agrônomo Cleison Silva Reis, presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Cerrado Maranhense (Aeacema).
Mesmo com esses problemas, o Maranhão, assim como os demais estados do Matopiba (Tocantins, Piauí e Bahia) teve um aumento da área plantada de soja e crescimento de produtividade nos últimos anos. “O produtor acaba superando esses desafios porque a região tem grande potencial de desenvolvimento, como terras planas, chuva em períodos bem definidos, tecnologias adaptadas para a região e baixo valor da terra”, enumera o engenheiro agrônomo Leonardo José Motta Campos, da Embrapa Soja Núcleo Palmas (TO).
Para Campos, no entanto, a falta de infraestrutura pode influenciar na expansão da produção de grãos em todo o Matopiba, pois pressiona o bolso do agricultor. “Se o produtor tem capacidade de armazenar e/ou deslocar a produção rapidamente ele retira o grão da lavoura. Sem essa possibilidade, o grão fica no campo, exposto ao clima, o que pode reduzir a qualidade da soja, reduzindo o lucro do agricultor”, observa.
A falta de locais adequados para armazenagem da safra, por sinal, é outra deficiência encontrada pelos produtores maranhenses, o que reduz a agilidade da colheita. “Sem armazenamento, o produtor também não consegue esperar um preço melhor do mercado”, afirma Campos. Por causa da estiagem, este ano a estimativa de quebra da safra no Maranhão é de 10%, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho do estado (Aprosoja-MA). Na propriedade de Rivaldo Moura em Fortaleza dos Nogueiras o veranico durou 45 dias e derrubou a produtividade da oleaginosa para 35 sc/ha. Na outra fazenda, onde choveu melhor, a média foi de 52 sc/ha. Já o milho safrinha deve render 90 sc/ha, 10 sc acima da média do estado.
Da lavoura ao porto
O destino principal da produção maranhense é o Porto do Itaqui, em São Luiz, no Norte do estado, ou então o porto seco de Porto Franco, na divisa com o Tocantins, por onde passa a ferrovia. Mas até chegar lá não tem outro jeito para escoar a safra que não seja por caminhão. Nessas condições, o frete, que já é caro, fica ainda mais pesado, tanto para receber insumos quando para enviar os grãos produzidos. A única ferrovia que poderia atender a região é a Norte-Sul, mas ela não está totalmente concluída. “Os americanos nos anos 1800 já tinham ferrovias cruzando os estados, e o custo do frete é quase nada em comparação com o frete rodoviário”, observa Moura.
José Carlos Oliveira de Paula, presidente da Aprosoja-MA, lembra que além dos problemas estruturais, o Maranhão enfrenta dificuldades para a regularização de terras produtivas, como ocorre no Piauí. “As áreas que eram usadas para a pecuária hoje teriam a possibilidade de ser revertidas para a agricultura, mas muitos acabam não investindo por causa da insegurança jurídica desses títulos poderem ser questionados posteriormente na Justiça”, explica.
Para Alysson Paolinelli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), o governo poderia apenas facilitar as questões burocráticas para acelerar o desenvolvimento da região. “Se o governo criar as condições, os próprios produtores farão isso e com muita competência”, sintetiza. Segundo ele, o Matopiba teria condições, por exemplo, de explorar as hidrovias, que têm um custo de 1/6 das rodovias e de 1/3 se comparado às ferrovias. Além disso, segundo Paolinelli, o Porto de Itaqui teria condições de ser ampliado, pois tem calado fundo e potencial para receber navios maiores.
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