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Semente resistente à seca vira sonho de consumo dos agricultores

Rodrigo Namur, da Castrolanda, mostra  plantas de soja que responderam de forma desigual ao estresse hídrico | Michel Willian/Gazeta do Povo
Rodrigo Namur, da Castrolanda, mostra plantas de soja que responderam de forma desigual ao estresse hídrico (Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo)

Muitas variáveis que ajudam a garantir a boa produtividade no campo hoje podem ser de alguma forma controladas pelo produtor, entre elas a condição do solo, os tipos de cultivares, o maquinário e o controle de pragas. No entanto, o principal recurso para estimular a lavoura ainda está nas mãos de São Pedro: a chuva, que neste ano tem faltado em muitas regiões e deixado agricultores de cabelo em pé.

Para quem produz as sementes, o desafio também é romper a barreira que a estiagem representa para a produção de boas plantas e criar variedades mais resistentes ao estresse hídrico, com capacidade de crescer rapidamente quando ocorrer uma chuva, mesmo que pequena. Na região de Itapeva (SP), a estiagem e as altas temperaturas ocasionaram perdas na lavoura de soja estimadas em 25%. Em algumas áreas do município não chove há 20 dias.

“Nos nossos campos observamos quais sementes resistiram melhor à seca e quais morreram. Pelo material genético podemos perceber quais variedades se adaptam melhor. De modo geral, os desenvolvedores têm investido bastante em cultivares resistentes à seca”, conta Rodrigo Namur, coordenador de Sementes da cooperativa Castrolanda, que já cultiva sementes resistentes a herbicidas, insetos, nematoides, entre outros fatores prejudiciais à soja.

A busca por sementes mais resistentes ao estresse hídrico, por outro lado, continua sendo um objetivo a ser alcançado, segundo Namur, tanto pelos obtentores da tecnologia genética das sementes – como Monsanto, Bayer ou Syngenta – quanto dos multiplicadores, caso da Castrolanda, por exemplo, que multiplicam a tecnologia e a disponibilizam para o produtor.

Somente a Castrolanda planta por ano 18 mil hectares de sementes de soja, sendo 7 mil em Itaberá e 11 mil em Castro (PR). O plantio é distribuído entre setembro e novembro, para evitar problemas climáticos, e a colheita ocorre de janeiro a maio. “A grande preocupação com a semente é em relação à qualidade fisiológica, especialmente a germinação e o vigor dessa semente. É o que o produtor busca”, explica Namur.

Calor extremo

Em Cândido Mota (SP), a falta de chuvas e o sol escaldante estão castigando as lavouras durante a fase de colheita. O produtor rural Vitor Zardetto Palharini, que possui uma propriedade com 200 hectares de soja no município paulista, conta que a estiagem, por outro lado, foi determinante para mostrar quais variedades de sementes são mais resistentes à seca. “Alguns materiais estão se destacando mais. Tinha planta que estava baixinha no início e agora está dando boa produtividade”, afirma.

Segundo Palharini, para os agricultores, a expectativa é de ter sementes cada vez mais resistentes às intempéries. Nesta safra, ele trabalhou com apenas duas variedades dentro da propriedade, uma para solos férteis (argilosos) e outra para solos mais arenosos. Para o ano que vem, promete dobrar a variedade de cultivares para não ficar tão vulnerável às oscilações climáticas.

Tecnologia

No caso da Castrolanda, Namur conta que a agricultura de precisão tem sido uma aliada no processo de produção. “Com essa ferramenta eu consigo identificar quais partes do campo têm a semente de melhor qualidade para eu poder selecionar, às vezes dentro da mesma gleba, a melhor semente e descartar o resto”, diz. Atualmente, 50% da lavoura é descartada como semente e vira grão normal.

Ao todo, a cooperativa produz 20 variedades de sementes de soja, de ciclos de 120 dias até 150 dias. São materiais bastante adaptados à região de atuação da empresa, que vai do planalto norte do Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina, Paraná, Sudoeste de São Paulo, Sul do Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro até Goiás.

“O mercado de sementes evoluiu muito. Hoje há muita oferta de cultivares. Onde quer que se esteja no Brasil, existe uma cultivar adaptável para a área que o produtor esteja, o tipo de solo e característica da propriedade. É uma questão de conhecer o desempenho das cultivares e escolher corretamente”, afirma Namur.

O veranico de quinze dias que impediu o desenvolvimento das plantações de soja do Mato Grosso, em dezembro do ano passado, também afetou a produtividade de sementes no estado. Mas graças à volta das chuvas a partir de janeiro, as lavouras iniciaram um período de recuperação, dando condições de melhorar os índices de produtividade de grãos, incluindo as sementes.

Para um dos principais produtores de sementes de soja do estado, além da chuva, o investimento em tecnologias de maquinário, otimização de mão de obra e atualização constante fez com a produção de sementes não sofresse um baque maior e até motiva uma expectativa de crescimento na faixa de 10% a 15% neste ano.

De acordo com Bento Ferreira, engenheiro agrônomo da Polato Sementes, cuja fábrica fica localizada em Pedra Preta, no sul do Mato Grosso, até 30% das lavouras de soja são destinadas à produção de sementes. A unidade fabril fica na Fazenda Bahia, uma das cinco propriedades do Grupo Polato em Pedra Preta, que cultiva ao todo 14 mil hectares de soja, com uma média de produtividade da safra 2018/2019 de 72 sacas/ha.

Mesmo com as temperaturas este ano estando 1°C acima da média do ano anterior, a produção de sementes não cessou. No último ano, a produção na fazenda foi de 200 mil sacas de 40 kg – cerca de oito mil toneladas, que abastecem produtores de todo o Mato Grosso. Isso porque é preciso produzir conforme a demanda, já que a semente não pode passar de oito meses em armazenamento. Nesse prazo, com temperatura regulada a 13°C em galpões resfriados, as sementes mantêm suas qualidades fisiológicas para render um bom plantio.Por esse motivo, explica Ferreira, o aumento da produção precisa ser gradativo. “Você não pode fazer um volume muito grande de sementes porque senão pode acabar não comercializando tudo. Aí é prejuízo”, diz Ferreira.

Atualmente, o Ministério da Agricultura exige que as sementes produzidas no Brasil tenham no mínimo 80% de germinação. Por isso, as sementeiras apostam alto em tecnologias de mapeamento do solo e dos cultivares. De acordo com Namur, a tendência é que no futuro se descarte cada vez menos grãos como sementes, principalmente graças ao uso da agricultura de precisão, o que vai demandar áreas menores para a produção de sementes.

Preço maior

Mas tanta tecnologia embarcada acaba tendo um preço, que muitas vezes o agricultor não quer bancar. Segundo Namur, enquanto há poucos anos um quilo de semente custava R$ 2 hoje ele custa até R$ 7 o quilo. “Existem regiões que são consumidoras de sementes de qualidade e outras que são consumidoras de preços. Como fornecedor, você tem que escolher qual jogo quer jogar”, afirma.

Na opinião de Bento Ferreira, a semente na verdade é o insumo mais em conta de todos. “Para fazer uma semente própria mais barata, o produtor teria que ter mais maquinário, estrutura específica e outros custos com os quais teria que arcar. O melhor é aumentar a eficiência da fazenda para ter um gasto menor com defensivos e fertilizantes”, explica. Segundo ele, as sementes hoje se tornam caras quando se embute nelas o preço da tecnologia, que custa mais do que a própria genética da semente. “O agricultor vai ter que pagar a tecnologia [royalties do desenvolvedor] do mesmo jeito, e talvez até um valor maior”, conclui.

Resistência de girassol

A empresa brasileira TMG aguarda aprovação da CTNBio à soja HB4, enxertada geneticamente com um gene de girassol que a torna mais resistente à seca. Na safra 2017/18, quando a Argentina enfrentou a pior seca dos últimos 40 anos, a HB4 apresentou produtividade até 30% maior do que outras cultivares. “É a tecnologia mais avançada que existe hoje, em soja, para resistência à seca. Já está aprovada na Argentina e nos EUA. Temos ela em cultivo controlado em Cambé e em Rondonópolis. Visualmente, o resultado é fantástico, mas a gente não colheu ainda para saber o que está respondendo em produtividade”, revela Alexandre Garcia, gestor de pesquisa da TMG, que tem sede em Cambé, no Norte do Paraná, e unidades em Sorriso e Rondonópolis, no Mato Grosso.

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