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EXPEDIÇÃO SAFRA

Soja ajuda a recuperar áreas degradadas no TO e impulsiona “boi safrinha”

Carlos Henrique Naves Júnior, de Peixe (TO), cria boi safrinha consorciado com a soja na primeira safra. O produtor notou que trocar a pastagem pela palhada melhorou a produtividade do gado. | Rogério Machado/Gazeta do Povo
Carlos Henrique Naves Júnior, de Peixe (TO), cria boi safrinha consorciado com a soja na primeira safra. O produtor notou que trocar a pastagem pela palhada melhorou a produtividade do gado. (Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo)

Produtores da região Centro-Sul do Tocantins estão descobrindo na soja benefícios que vão além de uma boa relação entre custo e produtividade. Além de dar lucro, a oleaginosa virou forma de recuperar áreas de pastagens degradadas e ainda por cima incrementar a pecuária. Isso porque ao invés de colocar os bois na pastagem eles estão descobrindo que os animais engordam mais rápido se alimentando da palhada deixa pela soja e por outras culturas.

Para o produtor Marcelo Zanella, que cultiva mil hectares de soja em Gurupi, integrados com 400 cabeças de gado de corte, o grão aumentou a produtividade do “boi safrinha”, como dizem na região, em 20%. “Conseguimos aumentar o número de cabeças por hectare. Isso porque a agricultura ajuda a melhorar a pastagem para o gado”, explica. Atualmente, o produtor abate 250 bois por ano.

Zanella faz integração com a pecuária há apenas 2 anos. Depois de plantar a soja, ele faz cobertura com milheto e, na sequência, coloca o gado para comer a palhada. Os bois, por sua vez, deixam matéria orgânica no solo, o que favorece o enraizamento da braquiária, também usada como segundo cultivo, melhorando o perfil de solo.

O aumento de produtividade dos talhões de soja mais antigos é notável. Alguns chegaram a 75 sacas/hectare. A soja, segundo o produtor, foi uma forma de recuperar as áreas que estavam degradadas pela pecuária. “Tecnicamente, essas pastagens precisavam ser reformadas através da agricultura”, observa.

Este ano houve uma redução da produtividade na lavoura, pois a estiagem deve afetar em 15% a safra na região. De 57 sc/ha, que é a média história de Zanella, deve cair nesta safra para 50 sc/ha. No entanto, ele colheu apenas 30% da lavoura. E apesar dos veranicos, o produtor diz estar contente com os índices. “As variedades estão cada vez melhores e mais adaptadas à nossa região”, afirma. Ele começou com apenas 3 variedades e hoje cultiva 35.

Áreas recuperadas

O engenheiro agrônomo Leonardo José Motta Campos, da Embrapa Soja Núcleo Palmas (TO), explica que em tempos passados os produtores não se preocupavam tanto em recuperação das terras, pois era mais barato comprar novas terras do que recuperar. “Hoje, com a valorização da terra, não existe viabilidade econômica para este tipo de prática. A recuperação destas pastagens ocorre de outras formas, como arrendamentos para plantar soja, o que permite elevar a fertilidade dos solos, devolvendo a terra recuperada ao produtor com capim formado, o que é ideal para os pecuaristas”, explica.

Segundo ele, esta é uma vantagem, pois a soja está entrando no cerrado mas não em áreas novas e sim em pastagens degradadas, sem causar grandes impactos ao ambiente. “Nestas áreas a soja é cultivada sem a derrubada de uma árvore sequer”, pontua.

Nos 300 ha de soja cultivados por Carlos Henrique Naves Júnior em Peixe (TO) a integração com as 200 cabeças de gado tem trazido muitos benefícios. A oleaginosa é plantada em novembro e na sequência a braquiária e a mombaça ajudam a formar mais palhada. “Daí entramos com o gado em cima”, resume.

Naves Júnior extinguiu os pastos da fazenda e agora só trabalha com o gado em cima da palhada. “O boi rende mais nesse sistema do que no capim. Assim, consigo engordar o animal mais rapidamente”, explica. Fazendo desse jeito, os bezerros de nelore dele chegam aos 300 kg em 5 meses, quando na pastagem demorariam um mês a mais para atingir o mesmo peso.

Na soja, a produtividade esperada para este ano é de 70 sc/ha. No ano passado o produtor colheu 60 sc/ha de média. Ele credita isso ao melhor manejo feito no último ano, com aplicações de gesso e fungicida, mesmo pegando três veranicos que judiaram um pouco a plantação. Naves Júnior conta que está sempre abrindo novas áreas, onde a produtividade nesse caso é menor do que a média em decorrência da baixa correção do solo, especialmente nas áreas que eram de pastagem e estão muito degradadas.

De acordo com Cleverton Santana, superintendente de Informações do Agronegócio da Conab, o Matopiba (que inclui ainda os estados do Maranhão, Piauí e Bahia), de modo geral, é uma região onde ainda há muita área disponível para o plantio, especialmente considerando as áreas de pastagens. “Elas vêm diminuindo porque ou o produtor que era pecuarista tem procurado diversificar as atividades com acréscimo da agricultura ou que arrendam parte da área para a produção de grãos”, diz. O confinamento do gado também tem ajudado a potencializar a área de pecuária, segundo Santana.

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