Já não chove há quase um mês em algumas regiões do Paraná, e o problema não fica restrito ao calor. Segundo maior produtor de soja do Brasil, o estado abre a temporada de incerteza sobre a safra, o que afeta diretamente a economia brasileira. Em algumas regiões das produtivas, agricultores garantem: vai ter quebra.
Gerente do departamento agronômico da cooperativa C.Vale, Carlos Konig traz uma visão geral das lavouras na região Oeste e Noroeste do Paraná: em um momento em que tem início o enchimento de grãos de soja, algumas regiões já estimam perdas de 20%, e outros agricultores trazem relatos de perda de até 40%.
“O produtor antecipou o plantio. Começou a plantar dia 7 ou 8 de setembro, um mês antes em relação ao ano passado. Vínhamos com bastante chuvas [em outubro], então o sistema radicular da planta não foi profundo e, agora, está na fase de enchimento de grãos, o que demanda muita água”, explica o especialista.
IMAGENS DA SECA: Agricultores enviam fotos das lavouras de soja prejudicadas pela estiagem no Oeste e Noroeste do Paraná. Confira fotos das perdas.
Analista do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), Marcelo Garrido pede calma. “O clima está seco e atingiu o Paraná inteiro. A soja está em um estágio em que necessita mais chuva, mas ainda não dá para garantir perda de rendimento ou mesmo quebra de safra. Nossos técnicos falam que é cedo para afetar uma média de produção no estado, mas não podemos descartar casos pontuais”, afirma.
No Sul do Mato Grosso do Sul, a situação também não é das melhores em municípios como Itaquiraí, Tacuru e Naviraí. “Por lá os produtores também estão sofrendo com isso, mas um pouco menos porque a soja está mais atrasada”, afirma Konig. A C.Vale também atua na região sul-mato-grossense e Konig explica que nessas áreas as lavouras não estão tão comprometidas quanto no Paraná, mas se as chuvas não voltarem, as perdas vão aumentar.
Produtores podem apelar para seguro
Presidente do Sindicato Rural de Terra Roxa, no Oeste paranaense, Vagner Rodrigues da Silva diz que o solo de regiões mais arenosas não consegue mais armazenar água. Isso está literalmente matando a soja. A falta de chuvas já chega a 15 dias.
“Achei que não estava tanto, mas dependendo da variedade [de soja plantada] e da época do plantio, principalmente o precoce, a seca pegou de forma violenta”, afirma. Para ele, a perda de safra no município pode chegar a 40%. “Eu cultivo 200 hectares, mas como plantei mais tarde, deve dar entre 20% a 25% de perda”, revela. Ele diz que já há produtores juntando notas e documentação para darem entrada no seguro rural, caso não haja chuvas na próxima semana.
Em Palotina, cidade vizinha, o produtor rural Ronaldo Vendrame estima perda entre 40% e 50% da lavoura de 38 hectares: “Devo colher 35, no máximo 40 sacas por hectare em áreas de um potencial de 80 sacas. Ano passado, fiz 75. Ainda bem que tenho aviário para escapar um pouco desse prejuízo. No máximo vou pagar os custos de insumos [com a soja]”.
No Noroeste do estado, Valdir Fries conta que Itambé está há 20 dias sem chuvas: “Em novembro tivemos apenas 85 milímetros de chuva. A média no verão seria de 150 mm mensais”. O agricultor conta com 205 hectares e começou o plantio da primeira área de dia 7 de fevereiro até novembro e já pode observa perdas nos plantios precoces e foca a atenção para as demais áreas:
“As áreas plantadas até 20 de outubro estão em fase de floração. Algumas são mais resistentes e outras mais precoces. Se não chover até dia 25, no máximo, o risco aumenta. Estamos com baixa umidade do solo e calor de 35 graus até o início da noite”.
Algumas áreas de Valdir Fries com bom desenvolvimento são aquelas em que ele recuperou o solo após o plantio da cana.”As área plantadas na primeira quinzena de setembro devem sofrer perda de peso de grão pela falta de umidade, e a colheita que estava prevista para 15 de janeiro se persistir a estiagem, deve ser colhida já nos primeiros duas de janeiro”, prevê.
Tiago Pedron, que planta 250 hectares entre Terra Roxa e Palotina, estima perdas de até 30%. “Vamos colher 45 sacas [por hectare], no máximo 50 em áreas em que plantei mais cedo. Só terminei o plantio em outubro, e dependendo do estágio da planta dá uma diferença grande. Em cinco dias de processo de maturação, já está começando a amarelar: a planta está morrendo antes da hora por conta da seca”.
Estado de atenção
Na próxima semana, o Departamento de Economia Rural do Paraná deve divulgar uma nova estimativa de safra e avaliação mensal de áreas. O relatório semanal identifica mais lavouras em condições médias: 4%, contra 3% da semana passada – 96% ainda são consideradas boas e nenhuma ruim.
“A situação com pouco mais de preocupação neste sentido são em Pato Branco, Cornélio Procópio e Francisco Beltrão, que tradicionalmente tem seca. No Oeste, em Cascavel e Campo Mourão, existe a tendência de chuva a caminho”, avalia Marcelo Garrido, do Deral.
No terceiro maior produtor de grãos do Brasil, o Rio Grande do Sul, a estiagem não “bateu forte” como no Paraná. “O que tivemos esse ano foi um replantio até em função da umidade excessiva”, garante Alencar Paulo Rugeri, técnico da Emater Rio Grande do Sul. Segundo ele, a alta quantidade de chuvas não foi seguida pela seca, como ocorreu no Paraná.
Até o momento, o desenvolvimento da soja segue bom no principal produtor do país, o Mato Grosso. Apesar disso, há alerta de veranico para o Centro-Norte do país. “Agora, as chuvas que vinham ocorrendo com frequência maior no oeste da Bahia e Mato Grosso podem devem começar a diminuir”, avalia Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meterologia (INMET).