Bruno Reinhofer no mar de soja: certificação avalia critérios socioambientais da fazenda.| Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo

Não foi só a qualidade do grão, as técnicas de manejo do solo ou o emprego de alta tecnologia em produtividade que fizeram com que o produtor Bruno Reinhofer se tornasse o único agricultor no Paraná a ostentar a certificação vigente da Round Table on Responsible Soy (RTRS), uma espécie de selo de qualidade internacional que afirma que a soja dele é sustentável. Na verdade, foi o padrão de gestão e de responsabilidade social e ambiental que pesou para o Grupo Reinhofer receber a certificação no último dia 8 de fevereiro, colocando-o em um restrito rol de produtores brasileiros a obter a RTRS.

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O grupo, que possui propriedades em Guarapuava, Pinhão, Roncador e Reserva do Iguaçu (região Central do Paraná), totaliza 8 mil hectares de áreas cultivadas em 5 fazendas. Em 2 mil hectares são produzidos milho verão e em outros 6 mil ha são cultivados soja. O restante é usado para rotacionar as culturas, com acréscimo de cobertura verde.

Veja fotos da Expedição Safra na região Central do Paraná

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Bruno nos levou para conhecer a fazenda Santa Bárbara, uma das unidades do grupo, onde são plantados 2 mil hectares de soja certificada. Ele mostra os galpões onde são armazenados os produtos tóxicos, as residências para os funcionários, o pátio exclusivo para a lavagem de veículos e os sistemas de captação de água da chuva, entre várias outras estruturas que deixam a fazenda com cara de uma grande indústria. Chama atenção ainda a limpeza do lugar e até as placas de identificação dos setores e unidades.

“O consumidor hoje quer saber de onde vem a soja que ele consome. Para conceder a certificação, a RTRS [organização civil que promove a produção, processamento e comercialização responsável da soja em nível global] olha tudo: desde o holerite do funcionário até a palhada no solo”, conta Bruno. A certificação tem validade de 5 anos.

Mercado futuro

Por outro lado, a soja certificada não representa mais dinheiro no bolso do produtor, segundo Reinhofer. Ele acredita, contudo, que cada vez mais esses selos serão diferenciais para garantir mercado no futuro. A produtividade na região de Guarapuava gira em torno de 60 a 65 sacas/ha, mesma média da Fazenda Santa Bárbara, que chega a produzir acima de 70 sc/ha em alguns talhões.

De acordo com Edson Guerra, engenheiro agrônomo e professor da Unicentro, independentemente de certificações internacionais, há muita tecnologia e biotecnologia disponíveis para os produtores da região. “O pessoal costuma aceitar bem a tecnologia, como novas sementes transgênicas resistentes a pragas ou com técnicas de modificação genética. Mas também há áreas de soja convencional, que têm um mercado específico”, explica. Quando uma novidade chega na região, os agricultores costumam direcioná-la para a Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa), para que o produto seja testado e depois empregado nas lavouras.

Sem segunda safra

Jorge Karl,presidente da Cooperativa Agrária, diz que o milho está perdendo espaço na região de Guarapuava para a soja: “não vejo isso como um sistema tecnicamente estável”. 
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Como na região de Guarapuava há o plantio de culturas de inverno, como aveia e trigo, praticamente não há safrinha de milho, conforme explica Josef Pertschy, agrônomo da assistência técnica da Cooperativa Agrária Agroindustrial, com sede em Guarapuava. Além do mais, as geadas são comuns na região logo em abril e maio. “Seria um risco muito alto plantar uma safrinha”, diz.

Segundo Jorge Karl, presidente da Agrária – cooperativa que está presente em 20 municípios e congrega 650 cooperados – a relação de cultivo de verão soja/milho, que já foi de 3x1, hoje está próximo de 5x1. “Não vejo isso como um sistema tecnicamente estável, que é a rotação de culturas. Não se deseja um retorno à monocultura, no entanto, a soja é mais rentável”, pondera.

Ele explica que o veranico que atingiu a maior parte das regiões produtoras do país no final do ano passado também afetou a região de Guarapuava, mas nesse caso o milho sofreu mais do que a soja. “Tivemos picos de calor e estiagem em microrregiões produtoras, mas ainda é cedo para estimar o prejuízo. Acreditamos que a seca terá influência maior sobre o milho primeira safra”, afirma. A expectativa é de que a safra de soja quebre de 5% a 8%, enquanto que a de milho tenha perdas de 10% a 15%, segundo Karl.