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Sorte e plantio “a prestação” salvam lavouras de soja

Produtor Silvano Cê, de São Gabriel do Oeste  (MS), comemora estratégia de escalonar o plantio e a sorte com  a chuva | Michel Willian/Gazeta do Povo
Produtor Silvano Cê, de São Gabriel do Oeste (MS), comemora estratégia de escalonar o plantio e a sorte com a chuva (Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo)

O prejuízo dos agricultores com a estiagem que atingiu o Mato Grosso do Sul no final do ano passado e início deste ano só não foi maior porque a maioria optou por “não colocar todos os ovos no mesmo cesto”. Os produtores apostaram no plantio escalonado da safra, com talhões adiantados e outros tardios, dentro da janela de plantio da safra. E, claro, em período de chuvas escassa e irregular, o fator sorte teve papel fundamental: os caprichos do clima fizeram com que lavouras de alta produtividade coexistissem com soja raquítica, por vezes na mesma propriedade. Veja reportagem “Safra ótima, safra péssima: clima causa situações extremas na mesma fazenda”.

Com a estratégia do plantio escalonado, ou “a prestação”, a seca não pegou todas as plantas na fase de enchimento de grão, possibilitando melhorar a produtividade das áreas plantadas posteriormente, já que a chuva, apesar de irregular, voltou a cair. De acordo com a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), a quebra da safra neste ano deve chegar a 15% no estado – média de 52,5 sacas/hectare, ante as 59 sacas/ha da safra 2017/2018, que teve a melhor média do Brasil.

Angelo Ximenes, que cultiva 560 hectares de soja no verão e de milho no outono/inverno em Dourados, no sul do Mato Grosso do Sul, explica que o vazio sanitário – período de 60 dias sem nenhum plantio para evitar a ferrugem asiática – terminou no estado em 15 de setembro. Um dia depois, muitos agricultores já lançaram as sementes. “Quem plantou de 16 de setembro a 22 de setembro teve a soja mais sacrificada. Quem esperou virar o mês de setembro para outubro e plantou já pegou a seca numa fase de crescimento vegetativo da planta, de enchimento de grão. Esse agricultor se deu mal”, explica.

Perda total

Ximenes, que é engenheiro agrônomo e consultor, calcula que 10% dos produtores da região plantaram nessa fase. Nas lavouras dele, 40 hectares tiveram baixa produtividade – 8% do total plantado. “Se um agricultor que tem 300 a 400 hectares e plantou tudo dentro dessa época, com certeza perdeu tudo”, resume. Como em alguns lugares a estiagem foi interrompida por chuvas rápidas, a produtividade pode ter sido melhor. A média histórica da safra de soja em São Gabriel do Oeste é de 3.330 kg/ha, o que dá em torno de 55 sacas/ha. Neste ano, não deve passar de 50 sacas, ou 3 mil kg/ha.

Silvano Cê faz uma pausa na colheita de soja em São Gabriel do Oeste (MS): sorte nos primeiros talhões | Michel Willian

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Silvano Cê faz uma pausa na colheita de soja em São Gabriel do Oeste (MS): sorte nos primeiros talhões

Produtor Silvano Cê alcançou produtividade média acima de 70 hectares nos primeiros talhões, bem acima da média dos vizinhos | Michel Willian

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Produtor Silvano Cê alcançou produtividade média acima de 70 hectares nos primeiros talhões, bem acima da média dos vizinhos

Para comemorar boa estratégia, e sorte com o clima, uma “chuva de soja” | Michel Willian

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Para comemorar boa estratégia, e sorte com o clima, uma “chuva de soja”

Quebra da safra no Mato Grosso do Sul já é de 15% no ciclo de verão | Michel Willian

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Quebra da safra no Mato Grosso do Sul já é de 15% no ciclo de verão

Chuva escassa e irregular lançou sorte diferente para agricultores vizinhos | Michel Willian

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Chuva escassa e irregular lançou sorte diferente para agricultores vizinhos

Colhedeiras avançam sobre soja na propriedade da família Cê, em São Gabriel do Oeste (MS) | Michel Willian

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Colhedeiras avançam sobre soja na propriedade da família Cê, em São Gabriel do Oeste (MS)

Produtor e engenheiro agrônomo Angelo Ximenes na propriedade em Dourados (MS) | Michel Willian/Gazeta do Povo

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Produtor e engenheiro agrônomo Angelo Ximenes na propriedade em Dourados (MS)

Produtor e engenheiro agrônomo Angelo Ximenes na propriedade em Dourados (MS) | Michel Willian

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Produtor e engenheiro agrônomo Angelo Ximenes na propriedade em Dourados (MS)

Quebra da safra no Mato Grosso do Sul já é de 15% no ciclo de verão | Michel Willian

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Quebra da safra no Mato Grosso do Sul já é de 15% no ciclo de verão

Até agora, Ximenes colheu 20% do que plantou, com uma média de 43 sacas /ha, justamente nas primeiras áreas plantadas, que sofreram mais com a estiagem. “Só que as áreas que eu vou colher agora vão ser com a produtividade lá em cima, acima de 60 sacas”, observa. A expectativa é chegar em uma média final de 52 sacas/ha, ainda assim abaixo da média da safra anterior, que foi de 64 sacas/ha.

Sobre o escalonamento da produção, Ximenes diz que a técnica é de amplo conhecimento de todos, mas muitas vezes o produtor vai no embalo e acaba arriscando demais. “É uma coisa que todo pesquisador fala e o agricultor sabe, que você não pode colocar todos os ovos na mesma cesta. Só que em dez anos seguidos, quem plantou primeiro ganhou dinheiro, porque você colhe mais cedo, evita a ferrugem asiática e o percevejo e vende melhor a safra. Só que esse ano não deu certo. O agricultor estava mal-acostumado e por mais que as pesquisas falem para não fazer tudo na mesma época, nos últimos dez anos foi feito assim e estava dado certo”, explica o agrônomo.

Ele observa ainda que a estiagem no Mato Grosso do Sul costuma ser em novembro e dezembro, mas de dezembro a janeiro. Quando o agricultor planta em setembro, como o ciclo da soja é de 105 dias, se a seca chegar em dezembro a planta já estará em fase final de desenvolvimento e as perdas, neste caso, são mais baixas. “Só que esse ano a seca veio um mês antes”, pontua Ximenes.

Na opinião do presidente da Aprosoja-MS, Juliano Schmaedeck, o produtor rural não pode pensar em variedades de um único ciclo. “Ele tem que estender o seu plantio por 30 dias e ir colocando 2 ou 3 ciclos com 4 ou 5 variedades nesse pacote tecnológico. Assim ele não fica restrito a uma data só, e se vem um veranico ele consegue se defender e não perder tudo.

Sorte

Ao contrário de muitos vizinhos, o produtor Patrick Cê, está com um sorriso largo no rosto. Na propriedade de 650 hectares da família, em São Gabriel do Oeste, as chuvas foram mais regulares do que nos vizinhos e a estratégia de plantio escalonado se mostrou acertada.Os primeiros talhões renderam uma média de 72 sacas/ha, enquanto nos arredores teve agricultor que colheu 20 sacas/ha, conta Patrick. “Pelo que era esperado, estamos muito bem, porque choveu pouco e achávamos que não daria 65 sacas por hectare”, conta. A produtividade inicial foi até melhor do que no ano passado, quando a média dos primeiros talhões foi de 71 sacas.

Os Cê investiram em sementes de duas variedades, incluindo soja de ciclo tardio, com grãos mais pesados e de boa produtividade, além do escalonamento do plantio. “Fizemos manejo com fungicida e colocamos mais adubação. Infelizmente, teve gente que fez o mesmo e vai colher menos”, diz Silvano Cê, um dos proprietários da fazenda. A família deve concluir a colheita até o final de fevereiro, conforme os talhões forem amarelando e secando. No lugar, o milho safrinha já está sendo semeado.

De acordo com Angelo Ximenes, antigamente havia apenas a soja de ciclo determinado – isso nas décadas de 1970, 80 e 90, que aflorava 90% numa época só. “Com o advento da soja transgênica, começou o ciclo indeterminado. Se ela pegar um estresse hídrico no começo ela aflora uns 20% e continua a aflorar quando tiver chuva de novo. Então a soja que não vingava se não tivesse chuva no começo agora pode continuar crescendo posteriormente, a menos que pegue uns 40 dias de estiagem. Isso deixou o agricultor mais tranquilo, com a possibilidade de errar mais”, conclui.

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