A soja não reina absoluta nos 600 hectares de lavouras do produtor Valentim Alfredo Rosolen em Arapongas, Rolândia, Londrina e Jaguapitã – municípios do Norte do Paraná. Todo verão, 20% da área são religiosamente dedicados à rotação de culturas, especialmente com milho de primeira safra. Fora isso, o agricultor ainda planta milho safrinha, trigo e aveia, que além de oferecerem uma fonte diversificada de renda também servem para formar uma boa cobertura para o solo. Tudo pensando na melhor produtividade da estrela principal: a soja.
“Quando você planta só soja e milho safrinha, a terra fica mais compactada e produz menos. Quando se faz uma rotação com aveia e trigo, ou com milho verão e braquiária, o resultado é muito bom e a gente está vendo a diferença agora”, diz Rosolen, que por três anos seguidos vem cultivando soja e milho safrinha na mesma área, depois alternando para o trigo no período de inverno. Segundo ele, esse processo aumenta a produtividade em 10% ao melhorar a fertilidade do solo e quebrar o ciclo das ervas daninhas mais resistentes.
Em períodos de estresse hídrico como o da safra atual, a produtividade de uma área rotacionada pode aumentar em até 20%, de acordo com Rosolen. “Muita gente na região parou de fazer a rotação de culturas, mas nós mantivemos essa tradição. Depois do milho, plantamos trigo em cima ou aveia para daí plantar a próxima safra de soja. Então, a cada 3 ou 4 anos eu rodo a área”, conta.
Dos 600 ha da propriedade, 500 são de cultivo de soja e 100 de milho primeira safra; outros 120 ha são para o trigo e 70 para aveia. O milho segunda safra ocupa 400 ha. Rosolen revela que o plantio da primeira safra ocorre entre setembro e outubro, para colher até o início de fevereiro. Agora, no fim de fevereiro, ele acabou de plantar a safrinha. O trigo, por sua vez, será semeado entre meados e a aveia mais para o final daquele mês.
Média histórica
A fertilidade do solo rotacionado e com boa cobertura de trigo e aveia deve ajudar a propriedade dos Rosolen a manter a produtividade na casa das 60 sacas/ha, que é a média histórica da região. No entanto, por causa da falta de chuvas e excesso de calor no final do ano passado, época de enchimento de grão, a quebra da safra na região não deve ser pequena.
“Na nossa região, que pega uns dez municípios no entorno de Arapongas, a produtividade varia conforme a chuva que deu, e que foi bem esparsa. No geral, a quebra deve ser de 20% a 30%”, revela Rodrigo Ambrosio, engenheiro agrônomo da Cooperativa Integrada, com sede em Londrina e que tem cerca de 9,8 mil cooperados no PR e em SP. Já no sul de Londrina e Rolândia, afirma ele, onde choveu mais, as lavouras não foram tão afetadas e a produtividade deve ser normal. Quanto ao milho primeira safra, a quebra na região deve ser de15%.
Campos Gerais
Nos Campos Gerais do Paraná, com mais de 800 metros de altitude, o plantio de culturas de inverno é bastante favorecido. A prática é uma ótima opção para rotacionar o solo e manter a matéria orgânica na terra, ainda mais com o tipo de solo raso, ácido e arenoargiloso da região, que exige uma boa cobertura e adubação eficiente para manter a produtividade em alta.
É o caso da propriedade do agrônomo Fabio Schmidt, em Ipiranga, que fica a 55 km de Ponta Grossa. Na fazenda de mil hectares ele consegue fazer três safras por ano, plantando soja em 65% da área (fazendo a cobertura com aveia). Em 5%, ele cultiva feijão primeira safra (com milho ou sorgo na segunda safra) e, nos 30% restantes o milho de verão reveza com trigo sarraceno (uma variedade sem glúten do cereal) como cultura de inverno. Mesmo com produtividade de apenas 25 sacas/ha o sarraceno proporciona boa lucratividade, afirma Schmidt.
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Como a soja é o carro-chefe da fazenda, a “mágica” é que a fertilização realizada na fase do trigo já prepara a terra para receber a soja na próxima safra. Isso representa economia em adubo para o produtor. “No máximo você só faz uma complementação depois. Então mesmo que o trigo empate [não dê lucro nem prejuízo] você sai ganhando”, diz Schmidt. Segundo ele, é preciso pensar nos custos da propriedade com todas as culturas de forma integrada.
Feijão em alta
Outra tendência que vem ocorrendo nos Campos Gerais é a troca do milho segunda safra pelo feijão. A janela de plantio do milho é mais estreita e arriscada. Nesse sentido, o feijão leva vantagem. Mas a principal motivação é o preço. Enquanto a saca de milho está sendo vendida a R$ 35 e a de soja a R$ 75, a do feijão carioquinha chega a R$ 300. Mas apesar de o custo de produção da leguminosa ser semelhante ao da soja, esta última tem uma produtividade maior.
Rulian Berger, presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos dos Campos Gerais (AEACG), também chama atenção para o preço inflacionado do feijão no momento. O valor normal seria algo em torno de R$ 150. A migração de muitos produtores de feijão para a soja, e a consequente redução da área plantada, elevou a procura pelo grão, que também sofreu por causa da estiagem. “Ninguém sabe se quando colher esse feijão de segunda safra o preço ainda estará desse jeito”, observa Berger.
Em relação à soja, segundo o agrônomo, cerca de 30% da safra nos Campos Gerais já foi colhida. Março vai ser o mês da plena colheita, finalizando tudo até abril. A estiagem acabou afetando as plantas mais precoces e a quebra da safra deve ser de pelo menos 15% na região. A produtividade de até 60 sacas/ha dos últimos anos deve se limitar a 50 sacas/ha neste ano.
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