No Sítio Caetê, em Itaberá, região Sul do estado de São Paulo, o vigor e a produtividade da soja colhida nesta safra é de dar inveja aos vizinhos. Enquanto eles colhem médias de 40 sacas por hectare, a fazenda ao lado alcança índices de 72 sacas nos primeiros talhões.
O segredo do bom desempenho é a prioridade dada ao manejo do solo, potencializado pela integração da agricultura com a pecuária de leite e a suinocultura. A adubação orgânica resultante deste casamento é responsável por plantas vigorosas e grãos cheios, mesmo em um cenário de chuvas abaixo da média. Outro fator que influenciou no resultado foi o plantio mais tardio, iniciado em 23 de setembro com escalonamento em três etapas e uso de variedades mais precoces. Com isso, a colheita deve se estender até meados de março.
Ao contrário da maioria das fazendas na região, o Sítio Caetê não comercializa o milho safrinha, e cultiva apenas o grão usado na alimentação dos animais da propriedade – são 350 vacas leiteiras e 4,3 mil suínos (criados em sistema de produção independente de ciclo completo). Com isso, não há a pressão de plantar o milho o mais cedo possível por uma necessidade comercial.
Alex da Silva Oliveira, administrador da fazenda, conta que há dois anos vem trabalhando na construção do perfil de solo na camada entre 20 cm e 40 cm, onde ficam concentradas as raízes das plantas. Com a correção de solo, as raízes se desenvolvem mais e vão buscar água na parte mais funda do solo, resistindo melhor à estiagem.
Além disso, o esterco dos bovinos e suínos foi aplicado em 20% da área de 425 hectares agricultáveis da fazenda, justamente a parte que inicialmente foi colhida. “Esses dejetos melhoram os aspectos físicos do solo, como a capacidade de retenção de água, além da parte biológica, fornecendo carbono para o solo, e também economizamos em fertilizantes por causa do aporte de nutrientes”, observa o engenheiro agrônomo Antônio Régis de Oliveira, que acompanha o trecho da Expedição Safra.
Economia
A economia com fertilizantes, destaca Alex Oliveira, chega a 20% em comparação com os fertilizantes tradicionais. “Tínhamos uma estratégia, mas tivemos sorte também, porque em algumas áreas nossas choveu e em outras não”, diz, sobre a alta produtividade apesar da escassez hídrica. O produtor Marcelo Rodrigues de Souza, dono do Sítio Caetê, diz que o sucesso da produtividade da soja se deve à boa adubação e ao plantio tardio. “Atrasamos inclusive a colheita do trigo [ele cultiva também 300 ha do cereal na área]. No caso da soja, no ano passado ela deslanchou. Esse ano a produtividade vai dar a mesma do ano passado, próximo a 70 sacas por hectare”, arrisca.
“Plantamos 1/3 da área mais cedo para já entrar com o milho safrinha na sequência, mas ainda há talhões com grão enchendo e, com a volta das chuvas, a perspectiva é de que a produtividade siga em alta”, afirma Oliveira. O coordenador da Câmara Especializada de Agronomia do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo, Fabio Olivieri de Nobile, entretanto, observa que o plantio tardio só deve ocorrer quando não há condições climáticas ideais para que ocorra a semeadura na época indicada para aquela cultura.
De acordo com Nobile, é importante que o produtor adote outras práticas que ajudam a melhorar a fertilidade do solo e criar uma resistência maior contra a seca, como a rotação de culturas – não se limitando apenas ao binômio soja-milho – e faça o plantio direto, que auxilia na retenção de água no solo. O estresse hídrico, diz ele, traz altos riscos para a lavoura, como a maior probabilidade de surgimento de pragas e doenças e prejuízo ao enchimento dos grãos.