O mercado de suínos – a carne mais consumida no mundo – cresce e ganha relevância, mas ainda patina no mercado brasileiro. Esbarra, na verdade, na falta de informação ou desinformação. Um ambiente em que a principal barreira não é sanitária, e sim o preconceito do consumidor. Associada muitas vezes a uma proteína animal não muito saudável, gordurosa e que precisa ser cozida à exaustão, como que para esterilizar, a carne suína enfrenta paradigmas e contradições. Ao mesmo tempo em que tem grande aceitação como carne de festa, a exemplo do leitão recheado, do pernil ou lombo assado, enfrenta rejeição no dia a dia, na casa, na mesa, na preferência do consumidor.
Mas, se essa é a carne mais consumida no mundo, por que essa resistência no Brasil? Questões culturais, tradição, religião ou o quê? Penso que não é nada disso. Mas sim uma limitação, por algum tipo de complexo que tem origem em analogias, de sentido figurado, com os hábitos atribuídos ao porco, ao chiqueiro e até ao fato de sermos uma nação em desenvolvimento. O suíno é uma carne menos nobre e, por isso, mais barata. Se você é um daqueles que pensam assim, então pare. Os tempos são outros. Esqueça tudo o que você ouviu falar sobre carne de porco.
Comece do zero e dê uma nova chance à carne suína e ao seu paladar. Não ao pernil ou ao leitão recheado, e sim aos diversos cortes, mais práticos e funcionais, que aos poucos começam a se destacar na gôndola do supermercado, a compor o bufê do fast-food, o menu à la carte das chamadas baixa e alta gastronomia. Por que não colocar mais variedade e sabor à mesa não apenas em datas comemorativas, mas no almoço, na rotina das refeições feitas em casa, seja o dia que for?
Picanha ou mignon, alcatra ou fraldinha, lombo ou coxão mole, cortes para churrasco ou para cozinha. Até parece que estamos falando de boi. Mas não. É de porco mesmo. De frações gourmet, para pratos especiais e de preparo rápido, que a maioria dos consumidores não conseguia ou não consegue associar ao suíno. É um novo posicionamento da carne de porco. Mais nobre, porém não elitizada, que aos poucos começa a revolucionar e a reinventar o mercado e o consumo dessa proteína.
Quem sabe daqui a alguns anos o Brasil esteja comendo carne de porco como gente grande, como fazem inclusive os países que a sociedade e a economia classificam de primeiro mundo. Enquanto o consumo per capita brasileiro é de apenas 15 quilos/ano, na União Europeia mais Rússia essa relação é de 25 quilos/ano; nos Estados Unidos, 21 quilos/ano. Na Ásia o consumo é mais que o dobro do Brasil: na China, o per capita é de 39 quilos/ano e, na Coreia do Sul, 34 quilos/ano.
Os números e a comparação com os principais países consumidores mostram o tamanho do desafio e da oportunidade à suinocultura brasileira. Isso apenas no mercado interno, sem falar das exportações, em que o Brasil tem know how e espaço para conquistar e se consolidar como um grande fornecedor.