A linguiça da Bizinelli, produzida no frigorífico que leva o mesmo nome, em Curitiba, é um daqueles produtos artesanais que, de tão tradicionais, não só movimentam a economia local, mas se perpetuam no imaginário popular. Linguiça Bizinelli no churrasco é como beber um copo de Cini Gengibirra, um patrimônio gastronômico cultural da capital paranaense.
O segredo do sabor não é revelado pelo sócio-gerente do frigorífico, Angelo Bizinelli, que carrega o mesmo nome do patriarca da família. A empresa foi fundada em 1932, no Campo Comprido, e nunca mudou de endereço. Segundo Bizinelli, o avô dele começou a trabalhar com suínos depois de trabalhar em outro frigorífico. “Naquela época, o grande produto era a banha. Meu avô abatia dois, três suínos por dia, comercializava a banha em Curitiba, em São Paulo, e fazia linguiça com a sobra da carne. A venda era feita de carroça”, conta.
Com o passar dos anos, seis, de dez filhos, começaram a ajudar nos negócios. A empresa foi crescendo e se profissionalizando. Com o fim do ciclo da banha e dos abates em Curitiba, o grupo apostou na industrialização. “Nós trazíamos suínos de Castro para abater aqui. Atualmente, nós temos um frigorífico parceiro em Irati que faz o abate, e nós apenas processamos”, explica.
O Bizinelli consome atualmente 150 suínos abatidos por dia para produzir 60 produtos diferentes. Os embutidos são os mais comercializados: linguiça fina especial, linguiça toscana, linguiça calabresa, linguiça grossa, entre outras variedades. “Hoje, 50% da nossa produção são de embutidos, 35% de cortes in natura, 10% de defumados e outros 5% de miúdos”, afirma o sócio.
Qualidade
Segundo o gerente comercial do Bizinelli, Luiz Carlos Maia, o frigorífico tem uma relação muito estreita com os consumidores. Ao contrário da grande indústria, que lida com volume, a empresa opta pelo trabalho quase artesanal para conquistar novos públicos e manter a fidelidade do freguês. “O cliente Bizinelli é muito exigente. Ele consome nossos produtos há 30, 50 anos. Se mudarmos alguma coisa, ele vai reclamar. Nós mudamos algumas vezes, foi devolvido tudo. Quando o cliente compra Bizinelli, ele quer qualidade. Se estiver fora do padrão, ele reclama. E nós os ouvimos”, reforça.
Para exemplificar, Carlos Maia cita uma situação em que o frigorífico trocou a tripa de carneiro por colágeno na linguiça fina. “Enquanto dois funcionários fazem 600 kg de linguiça por hora com a tripa de colágeno, com a de cordeiro, são seis funcionários para fazer 150 kg. Fizemos um teste, não pegou. Voltamos atrás”, revela. Por mês, a empresa produz 120 toneladas de embutidos. “Estamos em redes e açougues de Curitiba, região metropolitana, litoral e Porto Alegre”, diz.
Gestão e futuro
Com a morte do fundador, Ângelo Bizinelli, em 1973, a empresa passou a ser administrada por um sistema de gestão familiar, composta pelos cinco filhos que trabalhavam com o pai. Segundo Bizinelli, que é neto do pioneiro, a terceira geração tem 17 pessoas. “Quando nossos pais eram os donos, eles acharam que a gente iria brigar tanto, que não iríamos durar um ano”. A solução encontrada foi a criação de um Conselho Administrativo, com estatuto próprio, composto por representantes indicados por cada uma das cinco famílias. Eles têm um mandato de apenas um ano. No momento, apenas 4 sócios trabalham no frigorífico. “O Conselho tem reuniões mensais e duas vezes por ano temos assembleias em que todos os 17 participam”, explica. “Nem todos trabalham no setor. A família tem médico, engenheiro, principalmente na 4.ª geração. Mas alguns já começaram a ter contato com os negócios”, conta.
O próximo passo da empresa é a ampliação. Em 2010, o frigorífico obteve o selo do Serviço de Inspeção Federal, que permite expandir o mercado de atuação para o país inteiro. Em 2014, a empresa comprou um terreno na cidade de Balsa Nova, onde pretende construir um novo frigorífico até meados de 2018. “Queremos expandir. Vamos continuar com alguns processos aqui em Curitiba, além de manter a loja, e vamos aumentar nossa capacidade processamento”, anuncia Bizinelli.