Destino de 40% das exportações de carne suína brasileira em 2017, a Rússia sumiu do mapa dos importadores neste ano e dificilmente voltará ao papel de principal cliente brasileiro. Os russos fecharam-se à nossa carne suína alegando terem encontrado rastros da substância ractopamina, estimulador de crescimento aceito em vários países, mas proibido por lá.
Oficialmente, a Rússia reabriu seu mercado suíno ao Brasil no mês passado. O setor produtivo, no entanto, já não tem ilusões quanto às novas bases da relação comercial. “Há muito tempo eles já estavam falando que seriam autossuficientes. Eu estive lá e vi de perto essa situação. Não podemos ter a Rússia como grande alternativa futura para a carne suína brasileira. Psicologicamente, a reabertura nos dá um alento. Mas temos que fazer a lição de casa para acessar os principais mercados, que pagam melhor, que são a China, a Coreia do Sul e o Japão”, destaca Valter Vanzela, diretor-presidente da Frimesa.
As perspectivas para os próximos anos, após a difícil travessia de 2018 – com a ausência da Rússia, efeitos da operação Carne Fraca, greve dos caminhoneiros e tabela do frete - foram abordadas nesta quinta-feira, 22/11, na cerimônia de encerramento da Expedição Suinocultura da Gazeta do Povo. Em sua 3ª edição, o levantamento técnico-jornalístico percorreu durante três meses os seis estados que concentram de 80 a 90% da produção brasileira – Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
O coordenador da Expedição Suinocultura, Giovani Ferreira, avalia que os russos devem permanecer como clientes importantes, mas num novo xadrez comercial. “Na última década, eles investiram muito na produção de proteína animal de ciclo curto, em aves e suínos. Eles agora estão produzindo internamente, já criaram um colchão. Querem continuar comprando a carne do Brasil, mas querem vender o trigo deles. E isso é legítimo. Comércio internacional é isso, é troca, é uma via de mão dupla”.
No mercado interno, o setor torce pelo início de “círculo vicioso” assim que a economia “comece a andar” – diz Elias Zydek, diretor-executivo da Frimesa. Um ponto decisivo para alçar a suinocultura a outro patamar está no reconhecimento do Paraná como área livre de febre aftosa, sem vacinação. Termômetro do nível das condições sanitárias dos países na criação animal, a febre aftosa é uma doença típica do rebanho de bovinos e búfalos que interfere na reputação – e nos mercados – da carne suína. “Acredito que no máximo em 2020 estaremos livres de febre aftosa sem vacinação. Só este passo vai liberar um mercado de 3 milhões de t. ano para o Brasil”, destaca Zidek.
O ano de 2019, de qualquer forma, pode marcar a reversão de uma série histórica de preços da carne suína abaixo dos custos de produção. A oferta está sendo reduzida à força. Dacir Dariva, presidente da Associação Paranaense dos Suinocultores, estima que entre 15 mil e 20 mil matrizes não estão sendo repostas na cadeia produtiva paranaense, grande parte nas granjas de produtores independentes. “Além de diminuir as matrizes, vai diminuir o número de leitões nascidos. Isso vai impactar a oferta de animais no mercado. Acredito que 2019 será um ano em que não teremos grandes lucros, mas no mínimo, teremos oportunidade de pagar os custos de produção, o que não acontecia desde 2015”, sublinha.
A atividade da suinocultura responde por 0,3% do PIB brasileiro e fatura anualmente, em exportações, US$ 1,62 bilhão. O Brasil é o quarto maior produtor e exportador desta proteína animal, com produção de 3,7 milhões de toneladas e exportação de 697 mil toneladas.
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