
As tarifas impostas pelo governo americano de Donald Trump e a contrapartida tarifária adotada por países taxados, sobretudo em carnes de aves, suínos e ovos, devem favorecer o Brasil, que figura entre os principais exportadores desses produtos. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
Desde 10 março, a China aplicou tarifas de até 15% sobre produtos agrícolas dos EUA, entre eles a carne de frango. Sobre a carne suína e a bovina, as tarifas são de 10%. Trump afirma que a taxação é necessária para fortalecer a indústria dos EUA e aumentar a arrecadação. De 2017 até agora, a tarifa média dos EUA sobre produtos chineses passou de 3% para 39%.
Para Santin, essas taxações podem ampliar mercados para os quais o Brasil já comercializa ovos, frangos e suínos, dispensando missões comerciais e avaliações sanitárias que em outras condições exigiriam anos para viabilizar as operações.
O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. Somente em 2024, segundo a ABPA, foram vendidos 5,3 milhões de toneladas a outros países, de um total de 14,8 milhões de toneladas produzidos. Neste ano, diante da briga comercial, a perspectiva é ampliar as vendas sem afetar o mercado interno.
Quanto à carne suína, a grande expectativa entre os tarifados está o mercado mexicano, que aparece entre os grandes consumidores mundiais. Em 2024, segundo a ABPA, o Brasil produziu cerca de 5,2 milhões de toneladas da proteína, e quase 1,4 milhão foram exportados.
“Temos capacidade de expandir mercados e entre eles estão China, México e Canadá, para os quais já vendemos", diz o presidente da ABPA. Segundo ele, neste ano as exportações de carnes de aves e suínas registram alta de 9% e 10%, respectivamente. E venda de ovos ao exterior aumentou 20%.
Em fevereiro, o crescimento da exportação de ovos foi ainda mais forte, de quase 58% sobre o mesmo mês de 2024, totalizando 2,5 mil toneladas. O avanço puxado pelo forte aumento nos embarques para os Estados Unidos, que importaram 503 toneladas do Brasil, 93,4% mais do que em fevereiro do ano passado. As vendas para o Japão mais que dobraram, chegando a 215 toneladas. Os dois países enfrentam surtos de H5N1, antes conhecida como gripe aviária.
Santi destaca que, apesar de representar menos de 1% da produção total do Brasil, o crescimento das exportações reflete a confiança internacional na qualidade e status sanitário da avicultura brasileira.
O presidente da ABPA afirma que, apesar do aumento das exportações de proteínas, não há risco de desabastecimento do mercado brasileiro. “Nós produzimos no Brasil para o Brasil. Da nossa produção, 65% da carne de frango fica no Brasil, 75% da carne suína fica no Brasil e 99,2% da produção de ovos fica no Brasil. E ainda temos margem para exportar ou aumentar a produção”.
Segundo o dirigente, o aumento do preço dos ovos tem relação com questões sazonais e as altas temperaturas. O consumo costuma subir no período da Quaresma. Além disso, ondas de calor extremo elevaram a mortalidade de galinhas poedeiras, reduzindo a produção. Para ele, os preços devem voltar aos patamares do fim de 2024 em poucas semanas, "certamente logo após a Quaresma”.
Avanço da H5N1 no exterior favorece exportação de carne de aves
Além da guerra de tarifas, uma questão que favorece as exportações de carnes brasileiras é o avanço de casos da H5N1, que antes recebia a denominação de gripe aviária. Ao menos 50 países – entre eles grandes produtores como China, Estados Unidos, Polônia e Japão – tiveram de sacrificar milhões de animais.
No Brasil, segundo o painel de monitoramento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram registradas nos últimos dois anos e meio 166 Focos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) e um foco da doença de Newcastle (DNC).
Desses registros, apenas um, no Rio Grande do Sul em julho de 2024, ocorreu em produção comercial. Outros 163 casos foram em aves silvestres migratórias em regiões litorâneas e, portanto, distante de áreas produtoras que se concentram mais ao oeste, principalmente no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que respondem por dois terços da produção destas proteínas no país. Três casos foram registrados em aves de consumo domiciliar.
“Nós temos controle sanitário, protocolos rigorosos que são atualizados, monitorados com frequência”, diz Santin. Quando há registro em plantel comercial, os protocolos vigentes permitem uma varredura e ações sanitárias imediatas, isolando áreas específicas e não uma cidade ou uma região produtora inteira.
Outro ponto no radar da ABPA é a COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro. O governo Lula o apresenta como o maior evento de clima e meio ambiente já realizado no Brasil. Assim como outros braços do setor produtivo, a associação se prepara para representar o agro brasileiro no evento.
O objetivo, em parceria com outras entidades como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), é “levar informações verdadeiras sobre a forma e a metodologia de produção brasileiras”, desmistificando a narrativa de que o Brasil polui e desmata para produzir.
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