Aquele que é considerado o investimento portuário do século no México, com um aporte de 3,78 bilhões de dólares em Veracruz, no sudeste do país, deve criar um hub marítimo estratégico na interligação da América Latina com o resto do mundo e simplificar, de quebra, a logística para recebimento de cargas brasileiras.
Hoje já chegam ao México, via Puerto de Veracruz, milhares de carros, autopeças e motores fabricados no Brasil. E saem, também, muitos veículos direcionados ao mercado brasileiro, num fluxo que só tende a aumentar por que, desde março, os dois países contam com um acordo de livre comércio no setor automobilístico. A projeção, no entanto, é que a resolução de gargalos logísticos – como o atual calado de 12 metros, que não permite a entrada de navios maiores – possa ‘encurtar’ a distância e aumentar a competitividade para uma vasta gama de produtos brasileiros no mercado mexicano.
Com a ampliação gigantesca em curso – estão sendo construídos 32 berços de atracação em cinco diferentes terminais – a movimentação portuária da histórica cidade de Veracruz deverá triplicar, passando de 28 milhões de toneladas para 95 milhões, em dez anos. E dentro dessas estatísticas está a previsão de mais cargas brasileiras de grãos como milho e soja, que hoje são importados maciçamente dos Estados Unidos por via férrea e rodoviária. Até agora, já foram investidos 1,72 bilhão de dólares no novo porto (80% da iniciativa privada), valor suficiente para elevar em curto prazo a capacidade de movimentação anual de cargas para 50 milhões de toneladas.
O novo porto possibilitará a entrada dos navios Panamax, de 70 mil toneladas. “Nossa infraestrutura atual ainda é pequena, não há esmagador no México que utilize um Panamax inteiro para moer soja, mas é possível trazer navios que compartilhem o espaço para milho e soja”, diz Esteban Jaramillo, diretor do Grupo Gramosa, que ganhou a concessão e está construindo o novo terminal de granéis agrícolas em Veracruz. A Gramosa foi pioneira na importação de grandes volumes de milho do Brasil, em 2017, quando o México buscou diminuir a dependência de fornecimento dos EUA, em meio às pressões da negociação de um novo tratado comercial.
“O Brasil faz muito mais sentido com este porto que estamos construindo. Será um mercado bastante atraente. No Mississipi os elevadores de grãos estão saturados, com capacidades esgotadas. Acreditamos que, em 2020, metade do milho que nossa empresa importa via marítima será do Brasil e a outra metade dos Estados Unidos. Hoje, a participação brasileira por esse modal é de 25%”, aponta Edmundo Cortéz, diretor comercial da Gramosa.
A reportagem da Expedição Safra da Gazeta do Povo visitou as obras de ampliação do porto de Veracruz, na semana passada. A areia dragada do canal de 2,8 km por 600 metros foi toda utilizada para aterrar uma área de 184 hectares tomada ao mar, onde ficarão os cinco terminais. No total, o novo porto ocupará 1113 hectares (626 em terra e 487 na água).
Outra obra que impressiona o visitante é um muro quebra-mar, de 4,2 km e quase 10 metros de altura, em que foram gastos 135 milhões de dólares. A fortaleza, à prova de ondas de 7 metros de altura, ajudou a dar contorno a um cais de águas mansas que comportará os cinco novos terminais - de contêineres, de líquidos (derivados de petróleo), de granéis agrícolas, de granéis minerais e de carga mista. O terminal Hutchison Ports, de contêineres, será o primeiro a entrar em operação no mês de julho, seguido pelo de grãos, do Grupo Gramosa, até o final deste ano.
O investimento público-privado vai catapultar o Puerto de Veracruz da terceira para a primeira posição entre os portos do México, ultrapassando os terminais de Lázaro Cárdenas e Manzanillo, no Pacífico. Lázaro Cárdenas continuará a deter a liderança em volume de cargas, porque exporta minério de ferro, mas Veracruz tomará a dianteira em faturamento, devido ao alto valor dos produtos. Atualmente, Veracruz já movimenta 1,1 milhão de automóveis por ano. “O México é um dos países que têm maior número de tratados comerciais no mundo. E temos uma posição sui generis por causa de nossa fronteira com o país mais poderoso do mundo. A ampliação do porto é muito ambiciosa. Agora é a primeira etapa, que deverá aumentar a capacidade em 20 milhões de toneladas. Mas creio que em cinco anos teremos tudo já concluído”, assegura o diretor de operações do porto, Hugo Armando Anaya Sánchez.
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