Mais baratas, lâmpadas de LED são também mais eficientes para ajudar na fotossíntese| Foto: Divulgação/Universidade de Queensland

Seis safras de cereais por ano? Já não se trata de especulação ou projeto para o futuro, é o que está acontecendo hoje em estufas de instituições de pesquisa da Europa e da Austrália, onde cientistas correm contra o tempo para encontrar formas de alimentar uma população crescente em um mundo cada vez mais afetado pelos fenômenos climáticos.

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Utilizando lâmpadas de LED para ajudar na fotossíntese, 22 horas por dia, os pesquisadores do John Innes Centre, na Inglaterra, e das universidades de Queensland e Sydney, na Austrália, estão colhendo seis safras de trigo, cevada, ervilha e grão-de-bico em um único calendário. É o dobro do que se consegue atualmente. A canola já chegou a quatro colheitas anuais.

O resultado das pesquisas com a técnica de aceleração do ciclo de crescimento (speed breeding) saiu na revista científica Nature Plants, na edição de dezembro. O chefe da pesquisa no John Innes Centre e PhD em biologia molecular, Brande Wulff, explica por que o foco está na velocidade: “No mundo inteiro, o desafio é conseguir lavouras mais produtivas e mais resilientes. Ao acelerarmos o ciclo das plantas, alcançando um maior número de gerações num menor espaço de tempo, podemos rapidamente criar e testar combinações genéticas na busca das melhores soluções para diferentes ecossistemas”.

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Durante anos, a ciência tem patinado para incrementar a produtividade de vários alimentos básicos, fazendo aumentar as preocupações com o crescimento da população no contexto do aquecimento global. A técnica de aceleração do crescimento pode ser a solução do século 21, com impacto similar ao da Revolução Verde no período pós-guerra, quando novas variedades, técnicas modernas de cultivo e o uso de fertilizantes ajudaram a salvar milhões de pessoas da fome. “As pessoas diziam que se acelerássemos o ciclo das plantas, elas ficariam frágeis e raquíticas, produzindo poucas sementes. Na verdade, essa nova tecnologia produz plantas com aparência melhor e muito mais saudáveis do que o método convencional. Um cientista que nos visitou recentemente quase não conseguiu acreditar nos resultados”, diz Wulff.

O cientista Brande Wulff 

O uso de lâmpadas de LED reduz significativamente o custo de produção quando comparado ao sistema convencional com lâmpadas de vapor de sódio, que se provou ineficiente por emitir muito calor e baixa qualidade de luz. Nas experiências atuais, as lâmpadas LED ficam acesas sobre a plantação até 22 horas por dia, acelerando a fotossíntese.

“A técnica de speed breeding é uma plataforma que poderá ser combinada com várias outras tecnologias, como a edição genética pelo Crispr, por exemplo, para chegarmos mais rapidamente aos resultados desejados”, avalia o pesquisador Lee Hickey, da Universidade de Queensland.

A tecnologia possibilita um estudo aprofundado, repetido e detalhado de temas importantes como manejo de doenças, forma e estrutura das plantas, seu desenvolvimento e floração.

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Primeiros a experimentar o novo sistema, os produtores de sementes de trigo mostram-se otimistas. “Estamos sempre buscando maneiras de acelerar a chegada de novas cultivares ao mercado, então nos interessa muito e estamos acompanhado de perto o trabalho da equipe do Dr. Wulff para tornar esse método viável comercialmente”, diz a patologista Ruth Bryant, da RAGT Sementes em Essex, no Reino Unido.

Outro pesquisador de trigo, Allan Rattey, da Dow AgroSciences, vem utilizando o speed breeding para tentar obter uma variedade que atenue a germinação de grãos na espiga, um problema comum na Austrália. “O melhoramento genético para enfrentar o problema da germinação precoce exige estudos demorados, de vários ciclos produtivos, e isso acaba sendo um gargalo na pesquisa. A aceleração do ciclo produtivo já permite uma seleção mais rápida e ganhos significativos nessa área”, aponta Rattey.