Nunca foi tão fácil evitar derivados do leite, graças ao crescimento de uma variedade cada vez maior de produtos feitos à base de leite de proteína vegetal, como arroz, soja, cânhamo, aveia, coco, amêndoa, macadâmia, avelã e caju.
Mesmo assim algumas pessoas não podem consumir alguns desses tipos de leite devido a alergias, como às nozes e à soja. Outras alternativas parecem prejudiciais ao meio ambiente, devido ao desperdício no uso de água, como na fabricação do leite de amêndoa.
Para piorar, mulheres podem estar preocupadas com os compostos de estrogênio presente na soja. E também há alternativas de leite que deixam a desejar quanto a vitaminas e nutrientes, como a falta de proteína.
Agora é a vez do leite de ervilha: a mais nova bebida sem lactose, vegana e livre de nozes, soja e glúten. E também é ambientalmente sustentável, além de ter mais proteína e cálcio que outros leites alternativos.
A maior marca de leite de ervilha até agora é a Ripple, uma empresa que obteve US$ 44 milhões em aportes do Google e de investidores do Vale do Silício, segundo informações da agência Bloomberg. Mas a concorrência está chegando, e outras companhias como a Bolthouse Farms, da marca Campbell, apresentaram suas opções neste mês.
A alternativa está chegando às mercearias dos Estados Unidos, em quatro sabores: original (cremosa e levemente adocicada), sem adoçantes (com um sabor mais ardente), de baunilha e de chocolate - a promessa é que tenha o mesmo gosto de milkshakes.
Leite de ervilha: sem gosto de ervilha
O leite de ervilha não tem gosto de legume e não é feito da mesma maneira que o leite de amêndoas, por exemplo, que tem excesso de água na composição.
Na Bolthouse Farms, tudo começa com a colheita de ervilhas amarelas, que são moídas com farinha. Essa farinha é processada, separando a proteína da ervilha de outras fibras e do amido. Essa proteína é purificada e misturada a outros ingredientes, como água, óleo de girassol e sal marinho, levando ainda a adição de vitaminas, como a B12.
“Em todas as alternativas de leite no mercado são feitas algumas compensações de sabor, de cálcio e principalmente de proteína”, afirma Suzanne Ginestro, afirma a diretora de inovação e marketing da companhia.
O leite da Bolthouse Farms tem dez gramas de proteína por porção, comparado a um grama do leite de amêndoas. Ele também tem mais cálcio que o leite comum e é fortificado com 110% das necessidades diárias de vitamina B12, uma ideia que veio a partir de uma pesquisa que “descobriu que vegetarianos têm dificuldades de obter fontes de vitaminas B12 encontrada naturalmente em produtos animais”, afirma Ginestro. Como benefícios ao meio ambiente, o leite de ervilha “exige muito menos água do que amêndoas e emite muito menos gases de carbono do que a criação de vacas”, explica a diretora.
Leite vegano: mercado
Enquanto os leites a base de plantas estão em alta, as vendas do leite tradicional seguem em queda - embora as vendas de queijos e iogurtes sigam elevadas. Uma pesquisa recente do Grupo Nielsen apontou que a categoria de leites vegetais chegou a 3,1% do mercado de leites no último ano, enquanto as vendas de leite de vaca caíram 5%. O levantamento destaca que o leite de amêndoas é o substituto mais vendido dos Estados Unidos, com crescimento de vendas de 250% de 2011 a 2015.
Por conta do sucesso dessa categoria de leite, uma batalha legislativa está acontecendo por conta do uso da palavra “leite”. A dúvida é se ela poderá continuar a ser utilizada para descrever produtos que não vêm de animais. Há pressões para que a Câmara e o Senado dos Estados Unidos auxiliem os produtores do leite animal e que o uso dos termos ‘leite’, ‘queijo’ e ‘iogurte’ sejam banidos de produtos a base de plantas, sob a alegação de que podem enganar o consumidor.
Por sua vez, os grupos de defesa desse tipo de alimentos vegetais argumentam que existem grupos de consumidores que compram leites não lácteos justamente porque sabem que eles não têm a mesma origem e o perfil nutritivo do leite convencional.
Tanto o leite de ervilha da Bolthouse Farms quanto o da Ripple são encontrados em corredores refrigerados, lado a lado com os leites lácteos, ao invés de serem expostos em locais de marcas alternativas. Isso acontece porque o leite de ervilha não contém conservantes, segundo Ginestro, e para chamar a atenção do consumidor.
“As pessoas costumam comprar leite no setor de lácteos, e nós queremos estar onde os consumidores estão, e onde eles podem ter mais acesso a essas alternativas”, afirma a especialista.
O estilo da Bolthouse Farms é mais focado em um mercado de varejo do que a embalagem da Ripple, que por sua vez possui um design que chama a atenção do público mais jovem, os chamados millennials, com fontes peculiares e detalhes dourados. Isso mostra que as marcas estão buscando mercados diferentes.
“Ser parte do grupo Campbell nos dá os recursos para ter acesso a uma rede de distribuição ampla”, diz Ginestro.
Leite de Proteína Vegetal
Outro elemento presente na embalagem da Bolthouse Farms: o fato de o produto ser feito de ervilha não é a parte mais importante da marca. O leite leva o nome de Leite de Proteína Vegetal (Plant Protein Milk), o que reflete o interesse do consumidor por opções em alimentos vegetais, assim como a prioridade de inserir mais proteínas na dieta.
Isso vem ao encontro de uma pesquisa recente do Grupo Nielsen, e mostrou que 35% das famílias norte-americanas seguem uma dieta baseada no consumo de proteínas, buscando reduzir o consumo de carboidratos. Além disso, o número de produtos etiquetados como ‘excelente fonte de proteínas’ cresceu 12% neste ano nos Estados Unidos.
Ginestro afirma que a empresa levou em consideração diferentes nomes antes da escolha, mas descobriu que “as pessoas realmente se identificaram com a descrição de leite de proteína vegetal”.
Quando perguntados sobre o nome ‘leite de ervilhas’, os consumidores “estavam preocupados que isso não iria ter um bom gosto. Eles estavam preocupados que iria ter gosto de ervilhas”, disse ela. “É a proteína da ervilha que está inserida na garrafa. Como o gosto é muito importante, nós queríamos nos certificar de que, qualquer que fosse a maneira que chamássemos o produto, iríamos mostrar que o produto seria saboroso”.
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