Os governos de Gana e Costa do Marfim, países africanos que respondem por 60% da produção mundial de cacau, se articulam para aumentar em 10% o preço da matéria-prima no mercado internacional. O Cacaupep, como está sendo apelidado o movimento, em alusão ao cartel do petróleo Opep, pretende levantar recursos para combater a pobreza, o desmatamento e o trabalho infantil.
“Não continuaremos a ser vítimas nem joguetes da indústria global de chocolate, que depende do trabalho de nossos agricultores”, disse o presidente de Gana, Nana Addo Dankwa Akufo-Addo, ao anunciar a proposta. O controverso plano será tema de um encontro na quarta-feira (02) entre representantes da indústria e dos governos africanos.
“O objetivo é proteger os produtores e suas famílias das constantes flutuações do preço do cacau”, aponta Benjamin Walker, representante da Comissão de Cacau do governo da Costa do Marfim. Ele também diz que o plano ajudará a combater o trabalho infantil nas fazendas de cacau. “É um efeito positivo na medida em que todos reconhecem que uma das causas do trabalho infantil é a pobreza”. “Em parte devido à pobreza, alguns pais têm dificuldade de mandar seus filhos à escola”, pontua.
O aumento de 10% não teria força para impactar o preço dos chocolates em nível mundial, visto que o cacau é apenas um de seus vários ingredientes. A indústria, no entanto, reagiu à proposta com cautela. O setor tem sido acusado, de forma recorrente, pelo empobrecimento dos agricultores de cacau, que, para sobreviver, recorrem ao trabalho infantil e ao desmatamento de milhões de hectares.
Segundo estudos do governo americano, uma típica propriedade rural da África Ocidental fatura apenas 2.400 dólares por ano. Apesar de a maioria das fazendas de cacau contarem com mão de obra juvenil familiar, há denúncias de milhares de crianças traficadas de outros países para o cultivo do cacau. Em março, a reportagem do The Washington Post conversou com várias dessas crianças.
Analistas de mercado apontam que o modesto reajuste proposto, de 10%, não deve levar a indústria a buscar outros fornecedores de cacau. Apesar de os agricultores, em geral, serem simpáticos à elevação dos preços pelo “cartel do chocolate”, pelo menos um grupo se posicionou frontalmente contra a ideia: “Porque o governo deveria determinar o preço? O cacau é produzido por milhões de agricultores independentes. O governo não devia tentar colocar preço naquilo que ele não planta”, critica Warren Sako, secretário-geral da Organização Mundial dos Produtores de Cacau, com sede na Holanda.
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