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“Os europeus têm dificuldade de imaginar, de forma tangível, o tamanho do Brasil, já que os 28 Estados-membros da União Europeia, juntos, dão mais ou menos a mesma dimensão geográfica da Amazônia Legal. Ainda falta um entendimento, por exemplo, sobre os biomas naturais do Brasil. A associação em termos de imagem do agronegócio ao bioma amazônico é em decorrência dessa incompreensão geográfica”. A análise é da economista franco-britânica Emily Rees, ex-adida da França no Brasil e especialista em negociações comerciais, política internacional e processos reguladores da UE, palestrante convidada, nesta semana, do 7.° Fórum de Agricultura da América do Sul, que ocorre em Curitiba.

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Fundadora da Trade Strategies, com sede em Bruxelas, Bélgica, Emily destaca que o acordo é uma oportunidade de o país apresentar o seu agronegócio, profissional e sustentável, ao mundo. Confira os principais trechos da entrevista:

De modo geral, o acordo firmado entre Mercosul e União Europeia será vantajoso para o Brasil? Se sim, em que aspectos?

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O acordo abre muitas oportunidades para setores agrícolas, em particular, acessarem o mercado europeu com condições favoráveis, seja por meio de uma eliminação tarifária, como será o caso para suco de laranja, cachaça ou café solúvel, pela expansão de cotas ou pela diminuição de tarifas intracotas para os commodities agrícolas. Por outro lado, a importação de insumos e produtos europeus deveria permitir melhorar a competitividade das empresas brasileiras, seja no mercado doméstico ou na competição internacional. Mas o comércio entre os dois blocos significa também oportunidades de economia de escala em termos de logística comercial e em particular, portuária.

O acordo deve projetar mais o Brasil no comércio exterior?

O acordo entre União Europeia e Mercosul também permite um alinhamento do Brasil com seus maiores competidores, que já possuem acordos comerciais com a União Europeia. É importante lembrar que a EU já possui 44 acordos comerciais em vigor, então será um ganho significativo também em relação a competidores como os Estados Unidos, que não possuem acordo preferencial com este bloco. O Brasil, apesar de ser uma das maiores economias do mundo, ainda é relativamente fechado ao comércio quando fazemos a comparação de exportações e importações relativas ao PIB. Desta forma, os europeus desconhecem bastante o país e será importantíssimo fazer um trabalho de divulgação para desmistificar algumas crenças que os europeus possuem em relação ao Brasil.

Esse tratado entre o bloco da América do Sul e o Europeu vem em que momento dentro do contexto mundial?

Hoje o quadro de comércio exterior é bem diferente do que era há 20 anos. Estamos vivendo um período de políticas protecionistas crescentes pelo mundo, assim, acredito que os dois blocos estão ansiosos para finalmente fechar as negociações e ver o acordo político sair enquanto temos essa janela de oportunidade política. Em termos da ratificação do acordo, eu sou uma grande otimista, o que não quer dizer que não teremos algumas complexidades nesse processo pela frente.

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Quais as etapas que ainda precisarão ser vencidas para que o acordo entre em vigor?

Do lado da União Europeia são várias etapas que temos pela frente nos próximos anos. Primeiramente, nos próximos meses, terá uma verificação jurídica dos textos que foram acordados entre os dois blocos, com negociadores dos dois lados fazendo esse trabalho. Uma vez que essa verificação jurídica seja feita, o texto final, com todos os capítulos, será traduzido nas 24 línguas oficiais da União Europeia. Nesta base, poderá ser enviado para o Conselho da União Europeia, que representa os interesses dos Estados-membros, para votação. Cada Estado-membro deverá se posicionar, lembrando que nessa época é bem possível que estejamos com 27 membros, por causa da saída do Reino Unido prevista para o final do ano. Uma vez aprovado o acordo pelo Conselho Europeu, o texto será mandado para votação no Parlamento Europeu, o que não quer dizer que o debate não começará desde já no Parlamento, com os deputados querendo se posicionar e saber mais detalhes para preparar a grande votação que ocorrerá em Estrasburgo, na França, sede do Parlamento Europeu. Uma vez que o acordo tenha votação positiva no Conselho e no Parlamento, ele pode entrar em vigor provisoriamente por parte da União Europeia e ser mandado posteriormente para a ratificação em nível nacional pelos parlamentos dos países europeus.

Qual a principal barreira que o agronegócio brasileiro ainda precisa romper em relação à Europa?

Os europeus têm dificuldade de imaginar, de forma tangível, o tamanho do Brasil, já que os 28 estados membros da União Europeia, juntos, dão mais ou menos a mesma dimensão geográfica da Amazônia Legal. Ainda falta um entendimento, por exemplo, sobre os biomas naturais do Brasil (Pampa, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e o Cerrado). A associação em termos de imagem do agronegócio ao bioma amazônico é em decorrência dessa incompreensão geográfica. Assim, um debate em torno da ratificação do acordo apresentará uma oportunidade de demonstrar a sustentabilidade da produção agrícola brasileira para a Europa, mas também para o mundo inteiro.