O Paraná abriu uma nova porta para a compra de fertilizante no exterior. Aproveitando o frete de retorno das exportações de frango para a Rússia, o estado passou a importar adubo utilizando os mesmos contêineres que a carne, em um modelo pioneiro no país. O sistema foi viabilizado há pouco mais de um ano pelo Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), que garante agilidade na operação e redução de até 20% nos custos logísticos da operação.
O TCP indica que até maio deste ano o volume de fertilizante importado em contêiner somou 51 mil toneladas. O volume é 613% maior em relação ao mesmo período do ano anterior e 28% superior ao total das compras de 2013. Conforme Juarez Moraes e Silva, diretor superintendente do terminal, não há necessidade de grandes adaptações para utilizar o sistema, já que o próprio fornecedor de fertilizante entrega o produto na embalagem adequada para exportação. “Quem opera com granel trabalha com contêineres tranquilamente”, afirma.
O novo modal começou a ser utilizado em março do ano passado, numa tentativa do TCP de aproveitar contêineres que eram usados para exportação de carnes enviadas à Rússia, mas que retornavam vazios. “O desafio foi desenvolver uma forma de embarcar o fertilizante e depois higienizar essas estruturas para não haver contaminação da carne. Isso foi conseguido”, garante. O frete é responsabilidade dos armadores de navios, que são proprietários dos contêineres e contratam o serviço de higienização. Cabe ao terminal apenas receber as cargas e disponibilizá-las aos importadores. “Ninguém paga pela ociosidade e o cliente também é favorecido, já que a operação completa não leva mais de 35 dias”, salienta.
O analista de mercado da FCStone João Marcelo Santucci calcula que o frete tem um peso importante no preço final do fertilizante, mas a despesa tem se mantido estável nos últimos anos. Ele cita o exemplo da ureia, cujo valor do transporte Rússia-Brasil custa entre US$ 24 e US$ 26 por tonelada. O que pesa a favor dos contêineres, destaca, é o contexto favorável para a aquisição de fertilizantes no mercado internacional. “Os preços em dólar estão mais baixos em 2014, o que tem motivado as importações. Ocorreu um aumento drástico das compras neste ano”, explica.
Nos cinco primeiros meses de 2014, as aquisições totais do insumo subiram 16%, somando mais de 8,8 milhões de toneladas, indicam dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). A expectativa é que até o fim do ano as compras totalizem 22 milhões de toneladas, ou 2% mais do que em 2013. Para o diretor executivo da associação, David Roquetti Filho, a redução nos custos e a agilidade na operação podem impulsionar o uso dos contêineres no porto paranaense, principal porta de entrada do insumo comprado pelo Brasil.
Grãos ainda dominam operações no porto de Paranaguá
O uso de contêineres para o transporte de produtos agrícolas conquistou os exportadores nos últimos três anos. Soja e milho, principais grãos produzidos e exportados pelo país, dominam as operações. O diretor superintendente do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), Juarez Moraes e Silva, lembra que existem ainda embarques de farelo e celulose.
Só no caso da oleaginosa in natura, o TCP espera “estufar” neste ano 18 mil unidades (cada uma com 27 toneladas), configurando aumento de 68% em relação a 2013. O crescimento é mais tímido em relação ao dos anos anteriores, quando a movimentação chegou a registrar aumento de três dígitos. Em 2013, as exportações de soja em contêiner tiveram alta de 517% em relação a 2012. Já o milho teve crescimento de mais de 400%.
O porto paranaense, além de ser o único a trazer fertilizante de outros países dentro das “caixas de aço”, é o que mais usa a modalidade para despachar grãos. O Porto de Santos ocupa a segunda colocação. No ano passado, os terminais paulistas enviaram ao exterior 3,6 mil contêineres com soja e 3,3 mil com milho, crescimento de 251% e 34% em relação ao total atingido em 2012, respectivamente.
Sanidade: Setor descarta risco de contaminação
Embora a operação com contêineres mobilize cargas distintas, como carnes e fertilizante, o setor descarta a possibilidade de contaminação do alimento. “Não há risco. A higienização é feita dentro de padrões internacionais e está sujeita a inspeções”, assegura Juarez Moraes e Silva, diretor superintendente do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP).
O rígido controle adotado pela Rússia também é considerado um fator relevante. “O mercado russo é extremamente exigente e não aceitaria participar dessa operação caso houvesse risco”, ressalta o presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
Turra lembra que os russos já responderam por mais da metade das exportações de carne do Brasil, especialmente no setor de aves e suínos. “Recentemente, essa participação diminui na avicultura, mas ainda é expressiva”, pontua. Em 2013, o país foi o principal comprador da carne suína brasileira, com 134 mil toneladas e receita de US$ 411 milhões. No caso do frango, o mercado russo foi o décimo terceiro maior comprador do Brasil, com 47,2 mil toneladas e faturamento de US$ 137 milhões.
O dirigente da ABPA avalia que a tendência de longo prazo é de expansão nos negócios com a Rússia, especialmente na suinocultura, já que a ocorrência da diarreia suína epidêmica (PEDv) tem comprometido a produção em diversos países. “O Brasil é o país com maior potencial para ampliar a oferta com garantia de sanidade”, destaca.
181,2 mil toneladas de carne suína e de frango do Brasil foram adquiridas pela Rússia em 2013. País é o maior comprador da suinocultura nacional e o décimo terceiro cliente da avicultura brasileira, com negócios que geram mais de meio bilhão de reais.
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