Os protestos de caminhoneiros que bloqueiam diversos pontos de rodovias do país estão impactando o transporte e o mercado de produtos agropecuários, especialmente a soja. Os bloqueios começaram a gerar preocupação entre as entidades do agronegócio brasileiro, a ponto do setor de soja, principal produto do agronegócio nacional, manifestou-se contrário aos protestos.
"Este é o momento de pico de comercialização e precisa haver fluxo. As compradoras também precisam saber o valor do frete para compor os preços", disse em nota Ricardo Tomczyk, presidente da Aprosoja.
No médio prazo, se o protesto se prolongar, acrescentou Tomczyk, pode ocorrer problemas de armazenagem, pois a soja precisa ser escoada para dar espaço ao milho que será colhido na safrinha. O mercado de farelo de soja na Europa, principal comprador do produto do Brasil, tinha suporte nesta quinta-feira (23) por preocupações com o novo protesto dos caminhoneiros no Brasil.
O número total de interdições subiu para 14, segundo relatório mais recente da Polícia Rodoviária Federal. No Rio Grande do Sul, há seis pontos de bloqueio e no Paraná outros três pontos, em diferentes rodovias. Na BR-163, em Mato Grosso, importante rota de escoamento de grãos da principal região produtora do país, havia cinco bloqueios no fim desta manhã.
"Em Lucas do Rio Verde (Mato Grosso) é registrado o maior ponto de lentidão, com aproximadamente um quilômetro de fila", disse a concessionária Rota do Oeste, que administra o trecho mato-grossense da BR 163.
Apenas veículos de passeio, ambulâncias e caminhões com cargas vivas podem passar livremente.
Houve registro de apedrejamento de caminhões que tentaram furar os bloqueios, informou a Polícia Rodoviária Federal no Rio Grande do Sul.
Avicultura
Um dos setores mais prejudicados pela última greve, a cadeia da avicultura ainda não está sendo afetada pela atual paralisação. Ainda assim, o quadro é de apreensão. Conforme o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins, o setor não tem como se precaver caso os bloqueios se intensifiquem.
“A avicultura é uma atividade muito dinâmica. Todo dia é preciso transportar ovos, levar ração, carregar frangos na granja e não há como parar isso”, aponta. Ele lembra que a atividade ainda sente os efeitos do último bloqueio. “Como muitos pintainhos foram descartados, agora há um número menor de frangos disponíveis para abate”, explica.
Mato Grosso
Caminhoneiros voltaram a bloquear trechos de rodovias de Mato Grosso nesta quinta-feira, 23, informou a concessionária Rota do Oeste. Os manifestantes bloqueiam a passagem de veículos de cargas, mas veículos de passeio podem passar pelos trechos, pelo acostamento da via.
Há três pontos de interdição na rodovia BR-163, nos quilômetros 593, em Nova Mutum, 686, em Lucas do Rio Verde, e 747, no município de Sorriso. Segundo a concessionária, há também trechos bloqueados na BR-364, nos quilômetros 201 e 206, em Rondonópolis.
Quanto ao escoamento da safra agrícola na região, o presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde, Carlos Simon, disse que os bloqueios devem atrapalhar o envio dos grãos aos portos, mas ponderou que, com a colheita da soja encerrada no Estado, as manifestações tendem a ter impacto menor nos trabalhos do campo.
"Na primeira paralisação estávamos em plena colheita e os bloqueios atrapalhavam a chegada de óleo diesel para as máquinas, por exemplo", explicou Simon. Segundo ele, se os bloqueios continuarem, entretanto, podem começar a afetar a colheita de milho safrinha, que se inicia em maio.
O sindicato diz apoiar a categoria "na questão da pesagem de caminhões, do pedido de redução do preço de óleo diesel e de refinanciamento". Não se posicionou, no entanto, sobre o tabelamento do preço mínimo de fretes.
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