Os protestos promovidos por transportadores e caminhoneiros contra os baixos preços de frete e os custos com combustíveis prejudicam o transporte de cargas e o escoamento de produtos do agronegócio em diversos estados brasileiros nesta segunda-feira (23).Na Fernão Dias (BR-381), principal ligação entre Belo Horizonte e São Paulo, há pelo menos quatro pontos com bloqueios em Minas e longas filas de caminhões, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a concessionária da rodovia.
Já os bloqueios na BR-163, principal rodovia de Mato Grosso, maior produtor brasileiro de grãos, entraram no sexto dia nesta segunda-feira, com interrupções em cinco trechos, preocupando agricultores do norte do estado, que temem ficar sem diesel para as máquinas que realizam a colheita de soja.
Desde o início da manhã há interrupções para o trânsito de caminhões na BR-163 em Cuiabá, Rondonópolis, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso, com formação de filas de três quilômetros em alguns pontos, informou a concessionária Rota do Oeste. Também há registros de paralisações em estradas federais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, segundo a PRF.
Consequências
Em Mato Grosso, a BR-163 é responsável pelo escoamento de 70% da safra de grãos do Estado, principal produtor de soja do país, e também é a única rota de chegada de insumos para muitos municípios no Norte e Médio-Norte mato-grossense. As manifestações ocorrem em um período em que os trabalhos de colheita estão intensos, preocupando compradores e agricultores.
Em alguns municípios pequenos, como Vera, já há registros de falta de óleo diesel para abastecer propriedades rurais, relatou o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) para a região norte de Mato Grosso, Silvésio de Oliveira. "A preocupação existe, por conta do desabastecimento. Ainda não é uma coisa generalizada, mas daqui a pouco começa a faltar óleo diesel. Em alguns municípios mais de fora já há problemas", disse Oliveira.
A colheita de soja em Mato Grosso atingiu até a sexta-feira 25% da área plantada, contra 45% na mesma época do ano passado. "O que preocupa é o diesel", disse o produtor de soja Jucelino Dalmolin, que na noite de domingo, mesmo sem a luz do sol, coordenava o trabalho de colheita de suas lavouras em Sinop, recuperando o atraso causado por chuvas recentes na região.
Na sexta-feira, fontes do mercado já sinalizavam que os bloqueios na BR-163 começavam a afetar os negócios com a soja de Mato Grosso. Grandes tradings, que realizam o processamento e a exportação da soja, têm oferecido preços menores pela soja no mercado à vista, tentando precaver-se de possíveis despesas com multas por atraso no embarque de navios.
Enquanto isso, produtores, em geral capitalizados pelas boas safras dos últimos anos, pedem valores maiores pelo produto, esfriando o fechamento de negócios. Os bloqueios em rodovias de Mato Grosso estão sendo organizados por caminhoneiros e donos de transportadoras que reclamam dos baixos preços de frete praticados atualmente e dos altos custos de operação -- pela distância em relação aos principais polos de refino, o diesel é ainda mais caro em Mato Grosso do que em outras áreas do país.
Os manifestantes pedem ações do governo do estado para reduzir impostos sobre o diesel e balizar os preços pagos pelo transporte. A Petrobras elevou ao final do ano passado os preços do diesel na refinaria, e posteriormente o governo federal reimplementou alguns tributos incidentes sobre os combustíveis, como a Cide, com impacto no valor da bomba.
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