A reposta para a pergunta que abriu esta matéria: não. Pelo menos por enquanto.
O caminhão autônomo fabricado pela Volvo em Curitiba e que foi apresentado para a imprensa mundial nesta quarta-feira (31), numa usina de açúcar na região de Maringá, Norte paranaense, está mais para “sem as mãos e sem os pés” – conforme define o diretor de veículos autônomos da marca, Hayder Wokil - do que necessariamente para “sem motorista”. Mas já é um primeiro passo. “Já tivemos o câmbio e sistemas de freio automáticos. A automação está no nosso DNA, com soluções sustentáveis”, afirma Wokil.
Ainda que o fator segurança seja um dos pontos mais reforçados pelos executivos, o que chama a atenção no novo modelo é o ganho em produtividade nos canaviais. Isto porque, nesta primeira fase, o caminhão tem aplicação única em lavouras de cana-de-açúcar, como veículo de transbordo – aquele que segue ao lado da colheitadeira até “encher” e despeja a carga em outros caminhões, maiores. E ele é capaz de fazer esse trajeto pré-programado “sozinho”, sem pisotear as linhas de plantio.
O que ocorre hoje, principalmente durante a noite, quando a visibilidade é zero, é que, enquanto acompanham as máquinas colhendo, os caminhões acabam muitas vezes passando sobre os brotos de cana-de-açúcar (soqueiras), compactando o solo e impedindo que eles cresçam. Pode não parecer muito dentro de milhões de hectares plantados. Mas é.
“É um problema gravíssimo. Nós estimamos uma perda de produtividade de 20%. Hoje colhemos de 55 a 57 toneladas por hectare”, ressalta o diretor da Usina Santa Terezinha, do Grupo Usaçúcar, Paulo Meneguetti. “Na balança, como a planta de cana rende até cinco safras, nós perdemos o equivalente à colheita de uma safra inteira.”
Foi a partir dessa “reclamação” da usina, aliás, que o projeto começou, há quase dois anos, com uma equipe de 24 engenheiros - 16 do Brasil, cinco da Suécia e mais três do próprio grupo Usaçúcar - trabalhando na fábrica da Volvo em Curitiba. O resultado é um veículo convencional adaptado com sistema de GPS de alta performance - integrado a um painel dentro da cabine, chamado de “drive assistance” - e também de direção automática.
O caminhão basicamente aproveita o que já existe em tecnologia na agricultura de precisão, isto é, as informações das plantadeiras que são “gravadas” por satélite. Com esses dados, o GPS do veículo faz a leitura do mapa da propriedade e consegue, garante a Volvo, andar a 2,5 cm das soqueiras sem passar sobre elas. Mas isto em percurso já pré-definido, de acordo com o mapa. Quem leva o caminhão até as linhas de plantio e programa a velocidade continua sendo o motorista.
O presidente da Volvo para a América Latina, Wilson Lirmann, explica que tem conversado com parceiros para expandir o projeto do caminhão autônomo, mas, por enquanto, não há outras aplicações previstas no segmento agrícola. “Talvez no setor de madeira”, despista. “É preciso entender as necessidades de cada cliente”, acrescenta, indicando que o modelo não deve ficar na “prateleira”, mas ser feito quase que sob encomenda, dentro de até três anos.
Lirmann reforça, porém, que o drive assistance – sem, portanto, a direção automática – vai estar disponível já a para a 27ª edição da Fenatram (Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Cargas).
Atualmente, a Volvo possui na Europa um modelo de caminhão autônomo atuando com mineração, semelhante ao da cana-de-açúcar, e um protótipo trabalhando na coleta de lixo, mais avançado, que, neste caso sim, dispensa o motorista. O que será respondido - mas só nas próximas décadas - é se a safra também será escoada dessa forma. Isso, nem os especialistas arriscaram “chutar”.
* O jornalista viajou a convite da Volvo.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”