O setor produtivo agropecuário começa a se mobilizar para reduzir perdas caso a greve dos caminhoneiros se torne mais longa. O primeiro passo tem sido procurar parlamentares para tentar encerrar essa paralisação o quanto antes e para fazer um alerta de possíveis perdas. Eles também já começam a se preparar para negociar com sindicatos a hora extra dos trabalhadores e mudar os cronogramas das fábricas para não ter o mesmo problema do início do ano, quando os animais se acumularam no campo e eles demoraram quatro meses para normalizar o ciclo produtivo.
Nesta terça-feira (10) cerca de 40 entidades e representantes do setor produtivo se reuniram com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) na tentativa de obter uma intervenção e parar a greve. “Tivemos uma conversa com entidades do setor produtivo e eles externaram a situação, que é de paralisia com a greve”, relatou o presidente da FPA, o deputado Marcos Montes (PSD-MG).
Segundo o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), foi solicitada uma audiência com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, na qual ele receberia esses representantes. “A preocupação é de que essa manifestação não se torne autofágica, com um setor prejudicando o outro e derrubando uma economia que já está combalida”, afirmou. Ele também fez um requerimento para convocar Wagner e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para prestar esclarecimentos sobre as punições que têm sido aplicadas a caminhoneiros nas estradas bloqueadas. A medida faz parte da estratégia para conseguir abrir o diálogo entre os manifestantes e o governo.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul (Sips), Rogério Jacob Kerber, relatou que na paralisação de março a cadeia de suínos demorou quatro meses para normalizar os abates. “Foi necessário negociar com sindicatos e empregados para fazer hora extra e normalizar as condições”, explicou. Segundo o executivo, em alguns casos há pressa em decorrência da janela de exportação de suínos para a Rússia, que acaba em novembro em função do frio que congela o mar - apenas em fevereiro seria possível retomar a comercialização por navios.
Líderes do Comando Nacional do Transporte (CNT) chegaram a Brasília na noite desta terça-feira (10) para tentar iniciar um diálogo com o governo federal sobre a greve. Parlamentares tem conversado com os envolvidos com as paralisações para tentar amenizar o discurso mais radical e tirar da pauta dos trabalhadores o pedido de impeachment da presidente. Eles argumentam que a reclamação dos caminhoneiros é legítima, mas que será impossível abrir um canal de diálogo com o governo enquanto o impeachment não sair dos termos defendidos pelos caminhoneiros.