A trading chinesa Cofco está avançando a passos largos para se tornar uma das maiores exportadoras brasileiras de grãos - mercado hoje ocupado pelas gigantes Bunge, Cargill, ADM e Louis Dreyfus. A companhia chinesa, que controla a Noble Group e a Nidera, já está entre as cinco maiores, tirando a posição ocupada pela Amaggi.
Segundo do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Bunge, Cargill, ADM e Louis Dreyfus, respectivamente, continuam como as maiores exportadoras de grãos no País. A quinta posição fica com a AMaggi. No entanto, segundo fontes, a Cofco já tirou o grupo brasileiro do páreo, considerando a soma dos volumes embarcados pela Nidera, que ocupa a sexta posição, e da Noble, na décima colocação. Em 2014, as duas empresas ainda não eram consolidadas.
A divisão de commodities do BTG Pactual saltou de 11ª colocação em 2014 para 7ª posição no ano passado. O MDIC não informa os volumes e valores exportados por companhia, apenas a ordem de grandeza do valores exportados. Procuradas, as tradings não comentam o assunto. A Cofco não retornou os pedidos de entrevista.
O avanço da trading chinesa no Brasil tem gerado preocupação nas indústrias do setor. “É um movimento bem recente. A China quer garantia de suprimento de alimentos e o governo chinês tem como estratégia avançar em áreas agricultáveis de outros países”, afirmou o economista José Roberto Mendonça de Barros, dono da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
De acordo com Roberto Gianetti da Fonseca, ex-secretário executivo de Câmara de Comércio Exterior (Camex) e dono da consultoria Kaduna, a Cofco tem sido agressiva em negociação de soja no País. “A expectativa é de que, em 2016, a trading possa ir para o topo da lista de maiores exportadores.”
Os chineses, há alguns anos, começaram a comprar terras no Brasil. “O governo barrou esse movimento. Eles já fizeram esse mesmo movimento na África”, disse Gianetti da Fonseca.
A soja é um dos principais itens da exportação brasileira. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) mostram que para a safra 2015/16 os embarques do grão estão estimados em 52,8 milhões de toneladas e a produção, em 97,8 milhões de toneladas. A Abiove não comenta estratégia de suas associadas.
Política setorial
Ao jornal, Carlo Lovatelli, presidente executivo da entidade, afirmou que tem discutido com o governo brasileiro a necessidade de criar políticas para o setor.
Segundo ele, muito se fala da dependência que o Brasil tem da China, maior importadora global de commodities agrícolas e minerais. “O fato é que a China também depende do Brasil. Eles (chineses) são excelentes negociadores e têm adquirido empresas para avançar no setor.”
As discussões entre indústria e governo já têm ocorrido, mas Lovatelli quer ampliar esse debate. “Já debatemos esse assunto no Ministério da Indústria e Comércio e no Itamaraty. Temos que saber vender o Brasil. Poderia ser discutido um acerto de cotas para a China para produtos de maior valor agregado e acordos bilaterais, uma vez que o país é um dos maiores parceiros do Brasil. Um depende do outro.”
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