Navio graneleiro sobe o Rio Paraná, na Argentina, para carregar soja no complexo exportador de Rosário, para onde converge a produção argentina e a paraguaia.| Foto: Foto: Jonathan Campos/gazeta Do Povo
Terminal de Miritituba (AM) usa o Rio Tapajós como canal de embarque para os portos de Santarém e Belém (PA).
Terminal de embarque de San Antonio, na região de Assunção, dá acesso à hidrovia dos rios Paraná e Paraguai.
Barcaça recebe soja em Porto Velho (RO), no Rio Madeira, com 2,5 mil km pela frente.
Após mil km, comboio d e Rondônia chega a Itacoatiara (AM), e segue a Belém (PA) pelo Rio Amazonas.
Navios formam fila na região de Rosário, como se o mar entrasse no continente.

A correnteza dos rios que cortam a América do Sul carrega um volume cada vez maior de soja, a commodity agrícola mais exportada na região. A oleaginosa ganha importância econômica, dá suporte à balança comercial sul-americana e estimula investimentos em portos e embarcações no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – que estão entre os cinco maiores exportadores de soja do mundo (isoladamente, atrás apenas dos Estados Unidos).

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No Brasil, barcaças e navios de grãos sobem e descem os rios Madeira, Tapajós e Amazonas, principalmente nesta época do ano. O transporte se concentra logo após a colheita, embora tenha força até o terceiro trimestre. E o potencial de rios como Tocantins e Tietê promete atrair novos investimentos em armazéns costeiros, terminais de transbordo e eclusas. Neste ano, perto de 7,9 milhões de toneladas da oleaginosa vão viajar sobre as águas no país (leia mais abaixo).

22 milhõesde toneladas de soja  em grão percorrem os rios da América do Sul. Esse volume corresponde a um terço das exportações. A proporção é menor no Brasil, mas vem crescendo com estruturação de portos ao Norte e Nordeste.

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No Paraguai, os rios Paraguai e Paraná formam um Y que escoa mais de 90% da soja exportada pelo país: perto de 4,3 milhões de toneladas de janeiro a dezembro. Um volume que tende a dobrar nos próximos anos, caso a expansão na produção prevista pelo setor se concretize, aponta a Administração Nacional de Navegação e Portos (ANNP) paraguaia.

As embarcações do Paraguai descem o mapa em direção à Argentina, onde mais de 80% da produção local exportada saem do país pelos portos fluviais da região de Rosário. Ali funciona o maior complexo fluvial exportador de grãos sul-americano. Neste ano, perto de 7 milhões de toneladas do produto em grão com origem argentina – sem contar farelo e óleo – vão descer a correnteza em direção ao Rio de La Plata, ambiente de transição entre o Rio Paraná e o Atlântico.

Ao todo, são 22 milhões de toneladas – o equivalente a 35% da produção argentina ou a 23% da colheita brasileira de 2014/15 – se somadas as 2,5 milhões de toneladas de soja uruguaia exportadas pelo Rio Uruguai. As embarcações carregadas em Nueva Palmira, com a soja da principal região produtora do país (Oeste), viajam 40 quilômetros em águas fluviais  até o Rio de La Plata, para também alcançarem o Atlântico.

Barcaça recebe soja em Porto Velho (RO), no Rio Madeira, com 2,5 mil km pela frente. 
Após mil km, comboio d e Rondônia chega a Itacoatiara (AM), e segue a Belém (PA) pelo Rio Amazonas. 
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Terminal de Miritituba (AM) usa o Rio Tapajós como canal de embarque para os portos de Santarém e Belém (PA). 
Terminal de embarque de San Antonio, na região de Assunção, dá acesso à hidrovia dos rios Paraná e Paraguai. 
Navios formam fila na região de Rosário, como se o mar entrasse no continente. 

A principal vantagem do transporte fluvial sobre o rodoviário é o custo. No Brasil, um estudo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) mostra que a estruturação da hidrovia que transporta soja de Rondônia e de Mato Grosso até Belém (PA) reduz o frete de US$ 110 para US$ 65 por tonelada. Comparativos do Paraguai, com base em dados da ANNP, apontam redução de pelo menos 20% no “desconto”  que o custo de transporte representa sobre a cotação da soja.A principal desvantagem é o tempo. O percurso de 2,5 mil quilômetros entre Porto Velho (RO) e Belém  ( PA), que leva quatro horas de avião, exige uma semana na viagem sobre as águas.Colaborou Luana Gomes

 

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No Brasil, hidrovias crescem mais que a produção

Segundo a Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq), o  transporte de soja nos rios brasileiros cresceu 33,5% nos primeiros quatro anos desta década. A produção aumentou 30%, ou seja, três pontos a menos. Com isso, a proporção da safra que passa por hidrovias aumentou de 5% para 8%.

A soja representa 8,8% das cargas fluviais do país, conforme a Antaq, e cresceu 8,97% em volume no ano passado, mesmo com a escassez de chuvas e a redução no volume das águas.

O que puxa esse aumento são as exportações a partir de hidrovias, que eram 1,9 milhão de toneladas em 2010 e chegaram a 3,2 milhões em 2014, ou seja, aumentaram 68% (quase o dobro do índice de 33,5%). Perto de 45% da soja que entra nos rios brasileiros vai direto ao exterior.

Os dados marcam avanço logístico no Brasil, mas as hidrovias não estão isoladas, aponta a analista Natália Orlovicin, da INTL FCStone. Com melhora em rodovias, hidrovias e armazenagem, “isso pode fazer diferença no custo e, consequentemente, na competitividade da soja brasileira”, aponta.

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O volume de soja transportado por hidrovias no Brasil passou de 5,5 milhões (2010) para 7,34 milhões de toneladas (2014). O produto subiu uma posição e se tornou o quarto mais embarcado nos portos fluviais (atrás de bauxita, combustíveis e minério de ferro). A maior parte dessa carga (4,61 milhões de t ou 63%) percorre a região hidrográfica amazônica.

Neste ano, o transporte fluvial de soja deve somar aproximadamente 7,9 milhões de toneladas, ou seja, 8% da colheita ou 15% das exportações brasileiras do produto em grão.Hoje, 58% da produção anual de 165 milhões de toneladas de milho e soja do país ocorre acima da linha do paralelo 16 e pressiona o país a desenvolver o transporte hidroviário ligado aos portos do Arco Norte, aponta o consultor de logística Luiz Antônio Fayet.