O governo reforçou as conversas para impedir a greve dos caminhoneiros, marcada para a próxima segunda-feira, em todo o país. No Palácio do Planalto, a avaliação é que a greve, se concretizada, pode provocar muita confusão e protestos contra a presidente Dilma Rousseff, justamente num momento em que a ameaça de impeachment contra ela começa a perder força.
A paralisação é vista no Planalto como mais uma agenda negativa quando o governo tenta sair da crise política e votar até o mês que vem as medidas do ajuste fiscal, para dar um sinal de recuperação econômica.
Os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e José Eduardo Cardozo (Justiça) foram encarregados por Dilma de monitorar o movimento e tentar impedir a greve. Preocupa o governo o fato de grupos favoráveis ao impeachment da presidente se infiltrarem na paralisação dos caminhoneiros.
Para auxiliares de Dilma, o movimento é de cunho “político” e pode provocar grave desabastecimento no país, agravando a crise econômica.
A partir de sábado, serão acompanhadas movimentações para identificar potenciais ameaças de fechamento de rodovias federais. Se isso acontecer, a Polícia Rodoviária Federal vai agir.
Histórico
A greve foi convocada pelo Comando Nacional do Transporte, que se declara independente de sindicatos. O movimento surgiu na internet e não tem personalidade jurídica. A página no Facebook foi criada em dezembro de 2014 pelo caminhoneiro autônomo Ivar Luiz Schmidt.
Schmidt decidiu usar as redes sociais para, segundo ele, representar direitos de caminhoneiros que não se sentiam representados por sindicatos tradicionais. São 26 mil seguidores no Facebook e 5,5 mil participantes em 58 grupos de Whatsapp. Ele diz que o movimento é apartidário, mas admite o cunho político.
No comunicado distribuído no fim do mês passado pela entidade, os trabalhadores informaram que a manifestação conta com o apoio de grupos que pedem a saída de Dilma da Presidência, como o Movimento Brasil Livre, o Vem Pra Rua, o Revoltados On Line e o Movimento Brasil Livre (MBL).
Além do pleito para redução do diesel e da prorrogação das condições financeiras do Procaminhoneiro, programa de financiamento de caminhões do BNDES, Schmidt quer que o governo arque com os custos de um novo sistema de monitoramento dos caminhões.
Segundo ele, a partir de 16 de novembro, os caminhões serão obrigados a ter um tag que permite o acompanhamento do trajeto dos veículos e o envio de dados para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O dispositivo, diz Schmidt, terá um custo de R$ 250 para o caminhoneiro, além de cerca de R$ 350 por ano que terão de ser pagos a sindicatos, a título de taxa de serviço para o envio dos dados para a agência.
Sem unanimidade
Sindicatos já se manifestaram contra a paralisação. Em nota, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos disse que repudia “qualquer mobilização que se utilize da boa-fé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país e pressionar o governo em prol de interesses políticos ou particulares“.
Nelio Botelho, presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro, ao qual estão vinculados 107 sindicatos da categoria, também disse que não vai aderir à paralisação. Em fevereiro o movimento apoiou o Comando. “Não apoiamos a greve agora. É um movimento político”, declarou.
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