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A  logística de escoamento da safra é o calo no calcanhar do setor produtivo brasileiro. Impede que o país arrecade cerca de US$ 4 bilhões a mais por ano, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Em entrevista à Gazeta do Povo, o diretor-geral da entidade, Sérgio Mendes, afirma que os gargalos que geram congestionamentos em terra e no mar atrasam os embarques de commodities e comprometem a imagem do Brasil no mercado internacional. E poderiam, sim, ser evitados. Mesmo diante de obstáculos dessa magnitude, o cenário é positivo, aponta Mendes. Ele calcula que o país caminha para ampliar em 3 milhões de toneladas sua participação no fornecimento mundial de soja e milho em relação ao ano passado e exportar 57 milhões de toneladas dos dois produtos neste ano. Um novo recorde.

As exportações de soja ainda não engrenaram neste ano. O que está acontecendo?

Normalmente temos um respiro nas exportações entre janeiro e fevereiro. Como o ano passado foi excepcional para o milho, sabíamos que um pouco do volume extra iria ficar para o início deste ano. Dobramos um recorde, que era 11 milhões de toneladas de três anos atrás e exportamos 22 milhões de toneladas. Só que os embarques do cereal coincidiram com o início das exportações de soja, em março. E ainda tivemos chuva. Com isso, é preciso parar o carregamento de navios, o armazém fica cheio e os caminhões não podem descarregar.

O Brasil vai conseguir cumprir sua meta de exportação de soja e milho em 2013?

Exportaremos mais soja, mas os embarques de milho serão menores. Se somar os dois produtos, o retrato é um pouco melhor que o de 2012, mas não é muito diferente. Poder carregar com chuva protegendo os porões do navio é fundamental para não acontecer o que está acontecendo. É um problema que poderia ser resolvido no curto prazo. O investimento é grande, mas não é como construir uma ferrovia ou uma hidrovia. Pode ser feito rapidamente.

É possível calcular quanto o país perde por causa dos problemas logísticos?

Pagamos pelo menos US$ 70 por tonelada a mais de frete em relação aos Estados Unidos e Argentina. Se multiplicarmos esse valor por 57 milhões de toneladas, temos US$ 4 bilhões que saem pelo ralo todos os anos. Isso daria para implantar duas ou três hidrovias. Não é prejuízo, mas receita que o agricultor está perdendo por conta de uma matriz inadequada para grãos. O transporte rodoviário é três vezes mais caro que o ferroviário e cinco vezes mais que o hidroviário. Mas, no nosso caso, o frete de ferrovia e rodovia é quase o mesmo, o que não é normal. Exatamente porque falta hidrovia, que é um competidor à altura. Para distâncias menores, poderíamos até pagar melhor o frete do caminhoneiro.

Os portos do Arco Norte e as novas estradas e ferrovias prometem abrir novas rotas de exportação. Há risco de sobrar estrutura em Paranaguá e Santos?

De forma alguma. A gente tem de se aparelhar e rapidamente para conseguir dar vazão a toda essa produção. E melhor, sem a perda que está existindo hoje, de forma que o produtor tenha a receita que está perdendo e se torne mais competitivo.

O governo federal deve desonerar a exportação de processados. Como isso vai interferir no desempenho dos grãos?

Não vai interferir. A notícia é muito bem vinda. Não tem por que punir a indústria. Se o pessoal começar a falar em valor agregado, aí, sim, é perigoso. Vamos parar de exportar grão? Aí perdemos mercado. A tendência mundial vai ser sempre comprar o grão.

Não é viável para o Brasil exportar farelo e óleo?

É viável sim. E a gente quer. Mas é difícil igualar com os argentinos, porque eles têm vantagem de frete. Se quisermos competir com a Argentina, teríamos de estabelecer um imposto de exportação. Mas, se fizermos isso, vamos punir ainda mais o produtor. Nessa situação que temos de logística não tem como competirmos com a Argentina.

Em sua avaliação, o ciclo de expansão da produção de grãos do Brasil corre risco?

Evidentemente. Se os problemas perduram, o pessoal também para de investir em produtividade. Se a engrenagem parar, para tudo. Um bom começo seria garantir coberturas para permitir embarques em dias de chuva. Essa providência poderia ser tomada imediatamente, mas não está sendo executada. Se não começar por aí, é difícil acreditar em hidrovia, ferrovia. Isso tudo vai demorar. Essa é a impressão que causa ao importador lá fora e o que me dá mais medo.

 

Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec)

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