Passadas cinco semanas desde o fim da greve dos caminhoneiros , continua o impasse sobre o preço mínimo dos fretes. Como reflexo da falta de acordo nas negociações, o setor de fertilizantes segue paralisado no país. Os problemas ocorrem tanto nos portos como na distribuição do produto para regiões agrícolas distantes.
Pelo menos 12 navios estavam no Porto de Paranaguá na última terça. Três deles em processo de descarregamento. Mesmo com três berços dedicados exclusivamente ao desembarque, o problema maior ocorre do lado de fora do porto.
O adubo, em geral, é transportado pelos caminhões no chamado frete de retorno. Deixam grãos e levam o fertilizante para as áreas de produção. Agora, pelo menos 50% dos caminhões que trazem grãos estão retornando vazios. Em situações normais, 80% dos veículos que deixam grãos retornam com fertilizante.
A dificuldade no escoamento do produto está provocando um gargalo no armazenamento no porto. A capacidade, que é de 4 milhões de toneladas, pode chegar ao limite.
Armazéns lotados
Além disso, as misturadoras de adubo estão com os seus armazéns cheios. Esse produto deveria estar a caminho das regiões produtoras do país, mas não há acordo no valor do frete.
As entregas em pequenas distâncias ocorrem, mas as de longa distância estão travadas. O custo do frete teve uma acelerada elevação, de até 100%, e o peso deste é grande no setor. Chega a 20% dos custos, segundo as indústrias.
As entregas de adubo, um produto essencial para os produtores neste segundo semestre, ocorriam em ritmo normal no primeiro semestre. A greve dos caminhoneiros, contudo, provocou uma forte redução no ritmo. O mercado estima uma queda de 27% em maio e de 30% em junho, em relação a iguais períodos do ano anterior.
Tradicionalmente, as entregas de fertilizantes se concentram em agosto e setembro, meses que antecedem o plantio de grãos em todo o país. Só a área destinada à soja deverá atingir 36 milhões de hectares neste ano.
Impactos
O Brasil importa 80% do fertilizante que consome, e oito estados são responsáveis por 90% desse consumo. Os maiores consumidores do país são Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
O fertilizante entra no país por oito portos e, em alguns casos, chega a viajar 2 mil quilômetros para chegar ao produtor.
Números da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) indicam que ainda restam 27 milhões de toneladas de adubo para serem entregues nas diversas regiões do país. Esse volume deverá movimentar pelo menos 600 mil caminhões.
O cenário atual afeta toda a cadeia de produção. O custo maior do frete vai afetar empresas e deve chegar aos produtores. Estes vão receber menos pelas mercadorias que vão produzir.
A Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) estima que, pressionados pelos custos, os produtores deverão produzir menos, acarretando elevação dos preços finais dos alimentos. A conta vai chegar ao bolso dos consumidores e à inflação.
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