A abertura de um novo canal de exportação deve ampliar o acesso do Brasil a um mercado que importa mais de 20 milhões de toneladas de milho ao ano. Malta, uma ilha que fica ao Sul do continente Europeu e norte da África, acaba de colocar sua infraestrutura portuária à disposição dos exportadores brasileiros. A ideia é que o ponto no Mar Mediterrâneo funcione como um centro de distribuição de cargas para países do Oriente Médio e Europa, que hoje compram individualmente em pequenos lotes, inclusive do Brasil. São oito clientes com potencial de aumento na importação do grão: Irã, Egito, Arábia Saudita, Marrocos, Argélia, Tunísia, Itália e Líbia. No ano passado, eles receberam 7 milhões de toneladas do cereal produzido em lavouras brasileiras e 16,4 milhões de toneladas de outras origens. Estados Unidos e Canadá são os principais competidores na região.
Quem está à frente das negociações com o governo maltês é Steve Cachia, diretor de Inteligência de Mercado da Cerealpar, com sede em Curitiba (PR). A empresa assinou um acordo de intenções de negócios com o país europeu, que tem um consumo interno muito pequeno e por isso estava subutilizando a infraestrutura do terminal KGT (Kordin Grain Terminal). A intenção é que o primeiro embarque ocorra ainda na safra 2014/15. “Qualquer exportador poderá usar essa rota” ressalta Cachia, que é maltês e vive no Brasil há mais de 20 anos.
O canal deve beneficiar o milho, porque não há indústrias esmagadoras de soja na região. Segundo Cachia, há uma expectativa de aumento no consumo do grão especialmente nos países do Oriente Médio e Sul da Europa, por causa de uma tendência de maior poder de compra da população. O desafio, segundo ele, está em despachar um navio com pelo menos metade da carga já comprometida. Ao desembarcar no país, o volume seria repartido aos compradores, que normalmente adquirem lotes de 5 a 20 mil toneladas em navios menores. O restante poderia ser amarzenado em silos nas proximidades do porto. “Existe uma capacidade instalada para 90 mil toneladas”, destaca Cachia.
A alternativa surge num momento em que o cereal brasileiro perde espaço no comércio exterior para os Estados Unidos. Em 2014, as vendas externas nacionais devem cair 25% em relação ao volume embarcado no ano passado e somar 20 milhões de toneladas.
EntrevistaSteve Cachia, diretor de Inteligência de Mercado da Cerealpar.
Como se deu o acordo entre Malta e Brasil?Firmamos um acordo de intenção de negócios. Agora é só operacionalizar.A estrutura existe, mas estava sendo subutilizada, porque o consumo interno de Malta é muito pequeno e agora o governo de lá quer oferecer serviços a grandes players de grãos no mundo. Não é algo milagroso, mas sim uma nova opção, que tendo viabilidade econômica, ser importante ao agronegócio brasileiro. Somos grandes exportadores e temos de estudar todas as oportunidades possíveis.
A operacionalização depende de que?Não é uma operação simples. O ideal seria vender parte do navio para países de menor demanda e consumo. Porque parte da carga seria necessário fazer transbordo para navios menores. Exemplo: você manda um Panamax de 55 a 65 mil toneladas e de Malta, tem compradores que mandam navios menores de 5 a 20 mil toneladas. Como tem armazém de 90 mil toneladas de capacidade colados nos portos graneleiros, o restante pode ser vendido aos poucos, até em contêiner. A ideia é trabalhar com o conceito de “hub”, um centro de distribuição para outros países.
Quais seriam os países com maior potencial de consumo?Egito, Irã, Marrocos, Itália, Libya, Argelia, Arábia Saudita e Tunísia. Tem também os países do Norte da África, onde estudos apontam que vai crescer a demanda por grãos.
Quando pode ocorrer o primeiro embarque do Brasil para Malta?O acordo é muito recente. A fase é de mostrar a viabilidade do negócio para os players brasileiros. Quando a conta fechar, é possível mandar um navio amanhã. Acredito que o primeiro seja para 2015. Brasil e EUA estão competindo forte agora com entrada da safra recorde deles, o que deixa pouca margem. Isso deve ocorrer na entressafra. Existem empresas do estudando a possibilidade de usar a rota de modo esporádico e outros que buscam presença direta.
Infraestrutura
Malta tem dois terminais para atracação de navios de grande porte. Ambos com menos de 30 anos de construção.
Folga no calado
Voltado à movimentação de granéis, o Kordin Grain Terminal (KGT) tem calado de 15 metros e berço de 440 metros de comprimento, suficientes para navios de 60 mil toneladas. Já o porto privado de contêineres tem 17 metros de calado e 2,14 mil metros de comprimento.
Equipamento
O porto graneleiro de Malta conta com um shiploader (carregador) com capacidade de embarque de 1,25 mil toneladas por hora e um ship unloader (descarregador) de 1,1 mil t/h. O terminal de contêineres conta com 894 tomadas para frigorificados e 15,1 mil pontos para contêineres normais.
Armazenagem
Ao redor do porto de malta existem 30 silos verticais com espaço para 90 mil toneladas de grãos.
Localização
O porto fica a 90 km da Itália e a 280 km da Tunísia. Pode atender tanto os países ao Sul da Europa como do Oriente Médio e Norte da África.
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