| Foto: Daniel Derevecki / Gazeta Do Povo

Num ano em que o Brasil amplia suas exportações de soja a níveis recordes e se consolida como o principal fornecedor do produto para o mundo, o Porto de Paranaguá não acompanha o ritmo do crescimento nacional. Levantamento do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo a partir de dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) revela que o terminal paranaense movimentou 7,7 milhões de toneladas do grão, um salto de 13% sobre igual período de 2012, mas quase metade do índice brasileiro (30%). Com isso, o porto, que no ano passado foi responsável por 21% das vendas externas do país, tem sua participação reduzida a 18% neste ano.

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Quem se beneficia com o recuo são os próprios vizinhos sulistas. Juntos, Rio Grande (RS) e São Francisco do Sul (SC) movimentaram mais de 12 milhões de toneladas da oleaginosa nos primeiros onze meses do ano – volume semelhante ao registrado por Santos. Desde 2004, quando ultrapassou Paranaguá e assumiu a liderança no ranking nacional, o porto paulista é a principal porta de saída para a soja exportada pelo Brasil.

Até o ano passado, o corredor paranaense mantinha a segunda colocação e agora está sendo superado por Rio Grande, que cresce quase cinco vezes acima da média nacional. Com 8,2 milhões de toneladas embarcadas até novembro, os gaúchos “roubam” a posição de Paranaguá. O line-up (programação) de navios indica que o quadro não será revertido em dezembro.

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Mas o quadro deste ano não deve se sustentar por muito tempo, defendem especialistas. “Essa saída se deveu a uma conjunção de fatores que vai da condição de preço para exportação à ineficiência de outros portos”, avalia o analista de mercado da Informa Economics FNP Aedson Pereira. Ele lembra que as filas nos portos de Santos e Paranaguá – que no pico do escoamento passaram de 200 e 100 embarcações, respectivamente, numa espera de até dois meses – acabaram deslocando alguns navios para Rio Grande, onde o tempo de espera era de menos de uma semana. “Além disso, o Rio Grande do Sul tem uma logística que favorece a saída de soja. O porto está próximo da principal região produtora do estado”, pontua Pereira.

O superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Henrique Dividino, nega que o congestionamento em alto mar tenha tirado cargas do terminal paranaense. Segundo ele, somente três navios que estavam na baia de Paranaguá foram deslocados para os portos vizinhos. “E por questão de contrato, não de opção.” Ele reconhece, no entanto, que o porto está operando no limite de sua capacidade. “Enquanto Paranaguá parou por dez anos, os outros portos cresceram. Não conseguimos avançar nem sequer um metro de cais, isso nos custa caro hoje. É claro que precisamos de novos terminais, mas isso está travado. Brasília retardou o processo [de licitação de novas áreas],” ressalta.

O superintendente da Appa acrescenta que o porto gaúcho trabalhava com capacidade ociosa e por isso tinha condições de absorver cargas extras. “Prova disso é que você não vê Rio Grande no programa de investimento do governo federal”, argumenta. A reportagem tentou contato com o superintendente do Complexo Portuário Termasa/Tergrasa, responsável pelo escoamento dos grãos a partir de Rio Grande (RS), mas não obteve retorno às ligações até o fechamento desta edição.EstratégiaDemanda motiva investimentos em portos vizinhosO aumento do apetite dos importadores de grãos, principalmente pela soja, milho e farelo produzidos no Brasil, assegura o terreno para obras de ampliação de capacidade de exportação nos três principais portos do sul do país. Paranaguá, São Francisco do Sul (SC)e Rio Grande (RS) devem elevar em ao menos 4 milhões de toneladas a movimentação total de cargas já no próximo ano.

Somente o Corredor de Exportação paranaense deve ter incremento de 2 milhões de toneladas em cargas. O aumento é esperado em função da nova norma para carregamento de navios e da compra de equipamentos. O governo promete investir mais de R$ 200 milhões no porto em 2014.

O terminal catarinense, que tem ampliado de 20% a 30% o volume de grãos enviados ao mundo nos últimos anos, promete manter o ritmo de crescimento e movimentar ao menos 1 milhão de toneladas a mais do que neste ano. Além disso, a iniciativa privada pretende tirar do papel um projeto que vai aumentar em 5 milhões de toneladas a movimentação anual. “Estamos nos preparando e assimilando o mercado excedente. Um novo terminal de exportação, próximo ao porto, deve ficar pronto em dois anos”, revela o presidente da Administração do Porto de São Francisco do Sul, Paulo Corsi. Segundo o executivo, a obra deve demandar cerca de R$ 300 milhões, que serão desembolsados por empresários.

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Até mesmo porto de Itapoá (SC), que tem concentrado embarques de carnes e madeira, cogita participar das vendas externas de soja. “Desde 2012 o Porto Itapoá tem recebido uma demanda considerável de clientes que exportam grãos em contêineres. Esta modalidade tem atraído os clientes que preferem agilidade, perdas baixíssimas e segurança na exportação de seus produtos. A tendência desta operação tende a se intensificar nos próximos”, afirma o porto através de sua assessoria.2014Com safra nova, quadro deve ser revertido“Rio Grande é o melhor exemplo do que aconteceu no Brasil em 2013”, aponta Aedson Pereira, analista de mercado da Informa EconomicsFNP. Ele explica que o estado, que costuma consumir internamente 55% de tudo o que produz, neste ano vai exportar 65% da safra na forma de grão e processar apenas 35% da produção. Os números confirmam a avaliação do analista. Levantamento do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo a partir de dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) revela que 95% da soja exportada via Rio Grande foi produzida dentro do próprio estado gaúcho.

No próximo ano, contudo, com a recuperação da produção nos Estados Unidos e a colheita de uma safra recorde na América do Sul, deve haver retomada no processamento, afirma o analista. “Se conseguirmos produzir de mais de 90 milhões de toneladas, vamos gerar oferta suficiente para o mercado externo e também para baixar a taxa de ociosidade da indústria. E se os nossos vizinhos Argentina e Paraguai aumentarem sua produção na mesma proporção que o Brasil, o mercado será inundado pelo grão e talvez a indústria encontre uma cotação mais baixa e que viabilize o esmagamento”, prevê.

Com margens apertadas por preços internacionais recordes após uma safra de quebra nos Estados Unidos, a indústria brasileira foi obrigada a pisar no freio. Desabastecido, o mercado externo demandou mais produto brasileiro e as exportações de soja em grão explodiram, ultrapassando, pela primeira vez, o volume processado. De acordo com a Abiove, associação nacional que reúne a indústria de soja, apenas 43% da produção da safra passada (2012/13) foi esmagada internamente. “O preço da soja na época em que a indústria costuma comprar, no pico da safra, estava muito alto. Não dava margem, porque tinha de cobrir o custo de processamento e de frete mais altos”, relata Pereira.