| Foto:
Rodolfo Botelho: R$ 1,2 milhão em secador e novos silos

Os milhares de quilômetros de estradas esburacadas, a falta de ferrovias e a baixa capacidade operacional dos portos não são as únicas dificuldades enfrentadas pelos produtores brasileiros para escoar a safra. Mesmo antes de a produção seguir para a exportação ou para as indústrias, o setor produtivo precisa lidar com a falta de armazéns e silos para acomodar os grãos retirados dos campos. Em alguns casos, os agricultores e cooperativas fazem verdadeiro malabarismo para não deixar a colheita à mercê do ‘humor’ do clima.

CARREGANDO :)

Nas contas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a capacidade de armazenagem do Brasil é de 121 milhões de toneladas – considerando apenas os espaços destinados a granéis, os mais comuns para estocar soja, milho e trigo, produtos que representam quase 90% da produção total do país. Considerando a projeção da supersafra de grãos de 185 milhões de toneladas, segundo levantamento da Expedição Safra Gazeta do Povo, o país possui uma defasagem de 64 milhões de toneladas, pouco mais de um terço da produção.

A situação fica ainda mais preocupante se o estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) for levado em consideração. De acordo com a entidade, o ideal é que o país tenha capacidade para armazenar 120% de sua produção. Com base nesta meta, o déficit de armazenagem brasileiro saltaria para 100 milhões de toneladas.

Publicidade

“Com a falta de armazéns é preciso ter um esquema de logística para escoar [a safra] rapidamente. Colheu, tem que exportar. O problema é que a velocidade do transporte não é adequada em função dos gargalos logísticos”, ressalta o superintendente adjunto da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Nelson Costa.

Rodolfo Botelho: R$ 1,2 milhão em secador e novos silos 

Desafio nacional

O problema de armazenagem da produção é realidade em todo o território brasileiro. Dos 27 estados, apenas cinco, todos sem tradição agrícola, teriam capacidade nominal para acomodar suas safras. Nos demais – incluindo Paraná e Mato Grosso, os dois maiores produtores brasileiros –, a falta de espaço para estocar a colheita chega a quase metade da capacidade dos armazéns instalados (veja tabela abaixo).

Em Mato Grosso, a capacidade de armazenagem é suficiente para acomodar somente a colheita da soja, que deve superar a marca de 24 milhões de toneladas neste ano. Segundo o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Otávio Celidonio, apenas um terço dos produtores mato-grossenses têm armazéns na propriedade. O estado precisaria de armazéns para receber mais 17 milhões de toneladas e, para suportar o crescimento previsto para as próximas safras, outras 50 milhões de toneladas até 2050.

Publicidade

O Paraná enfrenta situação semelhante. Na safra 2010/11, ano em que a produção paranaense de soja passou de 15 milhões de toneladas, cooperativas do estado chegaram a alugar ginásios de esportes para abrigar a safra. Atualmente, 55% da capacidade estática de armazenagem do estado estão nas mãos do sistema cooperativista. “As cooperativas têm realizado um trabalho intenso de investimento. Nos últimos 10 anos a capacidade de armazenagem delas cresceu 75%. Mesmo assim é preciso reforçar o trabalho”, relembra Costa.

Rodolfo Botelho tem seguido essa recomendação. Neste ano, está investindo R$ 1,2 milhão em dois novos silos e um secador – estruturas que, mesmo somadas aos quatro armazéns e dois secadores já existentes na propriedade que mantém em Guarapuava (Centro-Sul), são suficientes para abrigar apenas 60% dos grãos que produz anualmente. “Muitos produtores não investem em silos porque demora de oito a dez anos para que a dívida seja amortizada”, analisa.

Setor aguarda linha de crédito específica

Apesar dos esforços e investimentos realizados nos últimos anos, o Brasil ainda está longe de zerar o déficit de armazenagem. De acordo com dados do grupo de armazenagem da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o setor agrícola, incluindo os agricultores, cooperativas, indústrias e governo, precisa investir cerca de R$ 10 bilhões para construir a quantidade necessária de armazéns e silos. Nos últimos cinco anos, ainda segundo a entidade, foram injetados entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões.

A Castrolanda, nos Campos Gerais, é um exemplo. No ano passado, a cooperativa investiu mais de R$ 25 milhões na aquisição de novas unidades e na ampliação, melhoria e modernização das unidades de recepção, secagem e armazenagem de grãos. Hoje, tem capacidade estática própria para 505 mil toneladas, além de outras 148 mil toneladas nas propriedades dos associados, totalizando 653 mil toneladas.

Publicidade

“As colheitas de milho e soja vêm se concentrando e, em muitos casos, se sobrepondo. É necessário um poder de fogo de infraestrutura muito maior”, diz Márcio Copacheski, gerente de negócios agrícolas da Castrolanda. “Também é preciso secadores maiores e mais potentes.”

Para o superintendente adjunto da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Nelson Costa, o aumento da capacidade de estocagem do país passa por um aporte do governo federal. O setor está reivindicando uma linha de crédito a juros baixos e prazo longo de pagamento especialmente para essa finalidade. A expectativa é que a medida seja anunciada junto com o Plano Safra (PAP) 2013/14, em maio. “Hoje a armazenagem não cria interesse porque a renda não paga os custos do investimento”, conta Costa.