Parte da supersafra de milho de inverno do Centro-Oeste do país e inclusive do Paraná vem sendo exportada por uma rota alternativa. O prazo de espera para carregamento de grãos no Porto de Paranaguá, que pode chegar a 90 dias, tem feito o setor produtivo direcionar cargas para os portos de São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS), percorrendo 500 quilômetros a mais dependendo do destino. O setor afirma que a agilidade dos portos vizinhos acaba compensando os gastos com frete.
“Paranaguá está muito complicado. Em São Francisco do Sul, o trabalho de descarregamento não ultrapassa 12 horas”, afirma Jaime Alfredo Binsfeld, presidente da Fiagril, trading que atua em 10 municípios mato-grossenses e que não tem enviado cargas para Paranaguá. A empresa prioriza a entrega o cereal no Porto de Santos (SP), a cerca de 2 mil quilômetros de sua sede em Lucas do Rio Verde (Médio-Norte de MT). A distância maior – de 90 quilômetros – e mais um pedágio no percurso resulta em acréscimo de R$ 5 a R$ 10 por tonelada no frete, segundo Binsfeld.
Por enquanto, os terminais de Rio Grande receberam volumes não muito significativos do cereal, mas diante da situação de excesso do produto no Centro-Oeste, operadores acreditam que terão de absorver mais cargas da região. “Até agora, recebemos 180 mil toneladas de milho, vindas principalmente do Oeste do Paraná e de Mato Grosso do Sul. O auge da safra do Rio Grande do Sul já passou. Como tem uma produção muito grande na área de influência de Paranaguá e Santos, a fila de navios se dilata e faz sentido trazer cargas para cá”, diz Guilhermo Dawson, superintendente da Termasa, um dos terminais que atuam em Rio no porto.
O socorro às exportações do Centro-Oeste começou logo no início da colheita da safra passada, conforme Dawson. Tradicionalmente, o porto de Rio Grande escoa mais soja do que milho para o mercado internacional. No acumulado deste ano, 700 mil toneladas do cereal deixaram o país pelo porto gaúcho. Já a previsão de embarques de soja é de 8 milhões de toneladas para este ano. Até o momento, as exportações de soja em grão pelo Rio Grande do Sul acumulam alta de 60% em relação ao ano passado. Mais de 4,5 milhões de toneladas do produto deixaram o Brasil pelo estado.
Congestionamento
A espera para carregamento no porto de Rio Grande é de quatro dias, conforme o setor produtivo. Já a baía paranaense acumula uma fila de embarcações de mais de 100 navios. Alguns deles estão à deriva em alto-mar desde o dia 25 de maio esperando serem chamados para atracar e carregar grãos. O superintendente da Appa, Luiz Henrique Dividino, diz que maior parte dos navios que está na fila não tem carga programada. “Eles vêm e se posicionam na baía porque sabem que uma hora a carga terá de sair. O porto é público. Em Rio Grande, os terminais são privados e podem selecionar quem entra para carregar. Mesmo que estivéssemos totalmente livres, não acredito que todo esse milho de Mato Grosso desceria, porque não tem preço nem mercado para o milho”, afirma.
180 mil toneladas é o volume de milho que o porto de Rio Grande recebeu até o momento. Cargas que seriam direcionadas a Santos ou Paranaguá equivalem a 4 mil carretas com 45 toneladas cada. Enfileiradas, elas somariam 120 quilômetros, a distância entre Curitiba e Ponta Grossa.
20 milhões de toneladas é quanto de milho o Brasil terá de guardar em estoques neste ano por conta de duas supersafras do cereal. Ao todo, o país colheu cerca de 80 milhões de toneladas do produto.
Próxima safra corre o risco de ficar sem espaço em armazéns
Carlos Guimarães Filho
O atraso nas vendas e no escoamento do milho deve comprometer a estocagem da próxima safra de verão, a maior do país, que começa a ser plantada na segunda quinzena de setembro. Como existe déficit nacional na capacidade de armazenagem, a situação poderá se agravar caso as vendas não ganhem ritmo nos próximos meses. Nas contas da Companhia Nacional de Abastecimento, o Brasil tem capacidade para estocar apenas dois terços dos grãos que produz.
“Sem sombra de dúvida teremos problemas no verão. O governo precisa decidir se orienta o produtor a baixar a tecnologia e reduzir a produção ou se investe em logística”, pondera Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja. “Até janeiro precisamos escoar 80% da safra. Mesmo com preço baixo, é preciso abrir espaço”, crava Leonardo Carloto, analista de grãos da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul.
No Paraná, o risco é menor, em função da capacidade de estocagem – 27 milhões de toneladas – e do forte consumo interno, motivado pela avicultura e suinocultura. Mas, para a engenheira agrônoma Juliana Yagushi, do Departamento de Economia Rural da Secretaria Estadual da Agricultura, não está descartada a possibilidade de problemas. “O estado tem momento diferente, pois há um pouco mais de espaço. Mas se for pensar que vai entrar trigo, mesmo com a quebra da geada, ainda haverá soja e bastante milho. Isso pode ter limitação no verão”, resume.
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