Apesar de a fila de navios ao largo do Porto de Paranaguá ter caído a um terço em seis meses, a demurrage, uma espécie de multa paga pelos contratantes quando a espera para carregamento vai além do previsto, deve chegar a US$ 200 milhões neste ano. O valor indica que a sobrecarga no Corredor de Exportação paranaense aumentou pelo menos um terço em relação a 2011 e colocou a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) em alerta. Em balanço apresentado ontem na última etapa do Ciclo de Palestras da Gazeta do Povo, o diretor empresarial da entidade, Lourenço Fregonese, assumiu esse quadro e prometeu soluções para 2014, ano que promete safra e exportações recordes.
Projeções oficiais indicam que o Brasil terá de exportar no próximo ano mais de 60 milhões de toneladas de grãos, óleo e farelo de soja, 6% mais do que neste ano. Boa parte desse volume deve sair pelo porto paranaense. De janeiro a novembro deste ano, Paranaguá embarcou volume 10% superior ao movimentado no mesmo período do ano passado, ou 13,5 milhões de toneladas dos três itens. Com o aumento da movimentação, houve congestionamentos de navios em alto mar e a fila de espera para atracação no porto ultrapassou 40 dias, conforme os traders. Em julho, havia mais de 110 embarcações ao largo da Baía de Paranaguá. Ontem, segundo o site da Appa, eram menos de 50.
Os gastos diários para manter um navio ao largo além do tempo previsto em contrato podem chegar a US$ 40 mil e incluem despesas com alimentação, hospedagem ou troca dos tripulantes, além de manutenção marítima. “Este ano, além de ter sido extremamente chuvoso, o que paralisa os carregamentos, perdemos muito tempo por falta de dragagem no acesso ao porto. Quando um navio encosta ao fundo, é preciso esperar até 10 horas pelo aumento da maré”, explica Fregonese. Outras 9 mil horas foram perdidas durante as pausas para carregamentos em terminais diferentes no Corredor de Exportação de Paranaguá, conforme dados da Appa. Atualmente, maior parte dos navios que atraca no porto faz mais de três paradas para pegar cargas de diferentes exportadores antes de seguir viagem.
Os R$ 220 milhões que devem ser investidos em Paranaguá em 2014 devem elevar a produtividade do porto. Além da conclusão da dragagem do canal, um novo shiploader (carregador) será instalado até junho para acelerar os embarques. Hoje, em dias de sol, o porto consegue carregar 90 mil toneladas por dia. Com o novo equipamento, a previsão é de que o carregamento seja de 150 mil toneladas.
“Estamos otimistas com as mudanças operacionais previstas. Neste ano, não tivemos um decréscimo de movimentação em relação a anos anteriores, e com a mesma estrutura. Não exportamos menos para justificar que houve ineficiência. Com nossos equipamentos, acredito que teremos ganho de produtividade”, avaliza o presidente da Associação dos Operadores Portuários do Corredor de Exportação de Paranaguá, Luciano Denardi.
Bancos preveem reviravolta na busca por financiamentos
Igor Castanho
O real interesse do agronegócio em financiar a construção de armazéns, aproveitando os R$ 5 bilhões do crédito rural anunciados em junho, ainda não foi sentido pelos bancos. O tempo gasto nos últimos meses para elaboração e análise de projetos adia esse diagnóstico. Os agentes suspeitam que a viabilidade dos silos e secadores – que depende do tamanho da fazenda e de sua localização – ainda não foi medida pelos produtores. Uma reviravolta deve ocorrer, porém, nos próximos meses.
No Ciclo de Palestras Informação e Análise do Agronegócio, da Gazeta do Povo, o BRDE confirmou que o programa ainda “não decolou”. Para Alexandre Accioly, da gerência de Planejamento do banco, a nova linha de crédito ainda não foi popularizada. “O produtor não conhecia o programa. A procura deve aumentar no começo do ano, com maior divulgação e as feiras agrícolas.”
A Federação de Agricultura do Paraná (Faep) assegura que estruturas de menor porte também são viáveis para agricultores com áreas de menos de 100 hectares. “A partir de 420 sacas de capacidade, é possível fazer um armazém viável economicamente”, argumenta Nilson Hanke Camargo, assessor da instituição.
No Banco do Brasil, o vice-presidente de Agronegócios e Micro e Pequenas Empresas, Osmar Dias, garante que há demanda pelas novas linhas de armazenagem, mesmo considerando os produtores com mais de 350 hectares. “É um programa novo, e o normal é que ele estivesse emperrado, mas ele não está. O compromisso do Banco do Brasil é de R$ 2 bilhões, mas tenho certeza de que vamos pedir mais recursos”, afirma.