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Com 2 mil habitantes, Brianorte fica a 90 quilômetros do asfalto, não tem hospital nem telefone fixo. Poderia se render ao isolamento, não fosse a insistência de dois em cada três habitantes, que trabalham em alguma função relacionada ao agronegócio e sonham com o desenvolvimento. Os pioneiros da vila, que surgiu no início dos anos 80, não têm dúvida: um dia, Brianorte – distrito de Nova Maringá, no Centro-Norte do estado, a região brasileira que mais planta soja – será um polo de produção de grãos como os que, em poucos anos, transformam vilarejos em cidades efervescentes no sertão de Mato Grosso.

O ponto de comércio mais estruturado de Brianorte é uma revenda de produtos agropecuários, que testemunha a transição na economia local. O paranaense Fábio Rosseto, de Palotina (PR), montou a loja para atender pecuaristas. Mas, em sete anos, teve de mudar o perfil do negócio. "A soja está em sua oitava safra e chega a 50 mil hectares. Hoje vendo mais para os agricultores do que para os criadores de gado", diz o veterinário.

A expansão da área agrícola sobre a pecuária, numa região sem qualquer infraestrutura, deve-se à perseverança dos produtores. Eles aprenderam com Sorriso, Lucas do Rio Verde, Sapezal, Campos de Júlio que o primeiro passo para o desenvolvimento de uma cidade em Mato Grosso é a estruturação das lavouras de soja. Em seguida, é preciso brigar por asfalto. Com um loteamento urbano, o dinheiro da agricultura se encarrega de estruturar comércio, gerar impostos, transformar distritos em municípios.

O plantio de soja em Brianorte pode ser multiplicado por dez de forma sustentável. Os produtores estimam que 80% do território ainda estão cobertos de mata fechada e Cerrado. Para ser exportada, a produção percorre 90 quilômetros de estrada de chão e 700 de asfalto até Alto Araguaia (MT) mais 1,2 mil quilômetros de ferrovia até o Porto de Santos (SP). Com melhor estrutura, poderia ser escoada também pelos portos fluviais do Arco Norte.

As apostas dos produtores são altas. Com 1,3 mil hectares de agricultura, Paulo Ambiel investiu R$ 950 mil e um pivô para irrigação de 14% da área. Toda a estrutura está pronta desde junho, mas o plantio de feijão foi suspenso no mês seguinte por falta de energia elétrica para o bombeamento de água. Agora, na época das chuvas, o lote recebe soja e, em seguida, milho. Porém, se o problema não for resolvido, apesar do dinheiro gasto, não será possível implantar a terceira safra anual novamente em 2013.

Mas confiança não falta. O agricultor está deixando aos poucos a pecuária para se dedicar aos grãos e programa a instalação de mais quatro pivôs. Ainda restam mil hectares de pastagens degradadas para cultivar. E o desenvolvimento é meta coletiva. Para ter acesso a telefone celular, os produtores fizeram uma "vaquinha" de R$ 83 mil e instalaram uma torre que amplia o sinal de Nova Maringá. Hoje, metade dos moradores usam aparelhos celulares, relatam.

Produtores que viveram a aventura da soja nas décadas de 80 e 90 incentivam os novos expansionistas. "Passamos dez anos sem energia elétrica. Tínhamos que esquecer o conforto. Mas esse lugar é abençoado, não dá para reclamar", conta Avelino Gasparin, que detém 420 hectares (120 irrigados) em Lucas do Rio Verde, na região mais produtiva do estado.

Terminal novo não escapa de gargalos

Igor Castanho, enviado especial

Com quatro meses de funcionamento, o Terminal Itiquira – instalado em plena zona rural do município de mesmo nome, no Sudeste de Mato Grosso, para o transbordo de grãos de caminhões para vagões de trem – se transformou em termômetro da necessidade de investimentos em logística na região. A exportação do milho colhido no último inverno mantém a estrutura ocupada 24 horas por dia e, quando há qualquer interrupção do transporte ferroviário, centenas de carretas lotam o estacionamento (com capacidade para 500 cargueiros) e ainda fazem fila na rodovia MT-299, também recém-construída.

O projeto tem o objetivo de atender apenas a região, mas recebe grãos inclusive do Norte do estado, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo. Os outros três terminais intermodais disponíveis – Alto Araguaia (MT), Alto Taquari (MT) e Chapadão do Sul (MS) – também enfrentam sobrecarga. A expectativa é que uma nova estrutura em construção em Rondonópolis (MT) alivie o quadro.

Victor Goltz, gerente de Operações do Terminal Itiquira, revela que o modal pretende atender a um raio de 250 quilômetros. O limite de carregamento, por enquanto, é a própria capacidade da ferrovia, que leva a produção para o Porto de Santos (SP), relata.

Instalações que permitem aos caminhoneiros descansar, assistir à televisão ou simplesmente banho sem filas também elevam a demanda do Terminal Itiquira. "Prefiro ficar três dias esperando aqui do que um dia em Alto Araguaia. As condições são muito precárias nos outros terminais", explica o caminhoneiro Rodrigo Rigo. "Essa estrutura precisa servir de modelo", exalta. Por outro lado, a espera incomoda transportadores como César Ferronato. Atualmente, o risco é de os caminhoneiros ficarem dois dias na fila. Quando o carregamento de trem é normal, relatam que o tempo se resume a duas horas.

Os gestores do terminal informam que a média é de 8 a 10 horas de espera para descarga. "Esperamos movimentar 1,2 milhão de toneladas ainda neste ano e 2,5 milhões no ano que vem", relata Goltz.

O Terminal Itiquira foi construído com investimento de R$ 25 milhões do Grupo Seara, de Sertanópolis (PR). Presta serviço de carregamento de vagões para a concessionária ALL e exportadores de grãos via Santos (SP). Em relação ao transporte rodoviário, permite redução de 15% no preço do frete, para R$ 125 por tonelada. Ainda está em estruturação e deve contar com um terceiro armazém – um novo pulmão de embarque – a partir da próxima safra.

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