Se fosse um avião, o número de furtos e roubos em ambientes rurais estaria decolando. Enquanto em 2015 foram registrados, em média, 800 crimes por mês desse tipo no campo, neste ano, são mais de 900 casos. Em 2016, foram 940 ocorrências mensais.
De acordo com o levantamento solicitado pela Gazeta do Povo à Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp), há dois anos, foram registradas 9,6 mil ocorrências nas zonas rurais. Em 2016, foram mais de 11,2 mil - 17% a mais que o ano anterior. Até abril deste ano, foram 3,6 mil ocorrências: 32% do total do ano passado.
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Os dados foram compilados pela Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico (CAPE), vinculada à Sesp. A Gazeta do Povo solicitou também os principais tipos de materiais furtados e roubados, mas recebeu a resposta de que essa análise não seria possível.
“Os boletins de ocorrência são preenchidos conforme a sua natureza criminal (furto, roubo, etc.) e o ambiente em que ocorrem, porque são informações que auxiliam no trabalho de análise do crime e que podem nortear ações policiais para inibir tais atos. Para o detalhamento de cada roubo, apenas lendo cada uma das 24 mil ocorrências, o que não seria viável”, destaca a nota enviada.
Também foi solicitada a palavra do diretor do CAPE, mas a assessoria de imprensa informou que o diretor não poderia conceder entrevistas. Apesar disso, o delegado Adriano Chohfi, da Polícia Civil de Cascavel, dá uma luz sobre o que buscam os criminosos. “Percebemos um aumento principalmente nos casos de furtos de agroquímicos e sementes. São produtos com alto valor no mercado”, informa.
Coopavel: vítima recente
Além dos produtores rurais, que sofrem com roubos de gado, assaltos às propriedades e furtos de equipamentos agrícolas, as cooperativas também são alvos dos bandidos, mesmo com forte esquema de segurança. “Isso acontece por conta do armazenamento alto de produtos”, explica Chohfi.
Na madrugada da última quinta-feira (15), a Coopavel sentiu o baque, em Juvinópolis, distrito de Cascavel. “Seis indivíduos entraram armados, renderam dois seguranças e funcionários e levaram sementes, agroquímicos e outros produtos com alto valor agregado”, conta o delegado. Os criminosos chegaram em dois carros e levaram outros dois veículos da empresa.
O prejuízo estimado seria de R$ 1 milhão, mas a polícia conseguiu identificar o local da carga roubada, devolvida à cooperativa nesta terça-feira pela equipe da Polícia Civil.
Campeãs da violência
Londrina - 536
Guarapuava - 339
Apucarana - 331
Umuarama - 286
Paranavaí- 268
Ortigueira - 255
Cascavel - 248
Cianorte - 234
São José dos Pinhais - 231
Maringá -211
Fonte: Sesp/Cape
Receptação de roubos agrícolas
O delegado considera que o aumento está diretamente ligado ao crescimento no número de receptadores. “Tem gente comprando esses produtos por metade, um terço do preço. Se o receptador não for combatido, a incidência vai aumentar. O valor roubado vale mais a pena para o criminoso do que explodir um caixa eletrônico”, exemplifica.
Neste sentido, o delegado destaca a importância do trabalho conjunto com a comunidade e com os sindicatos rurais. “Aqui em Cascavel fazemos serviços juntos. É importante que os sindicatos informem onde há mais reclamações dos associados para fazermos visitas nas propriedades e demonstrar que estamos no campo”, conta.
Alternativas de alto, médio e baixo custo
Assim como automóveis, equipamentos e locais de armazenamento agrícolas também podem ser monitorados através de GPS. Rigoberto Costa, gerente de negócios da ztrax, empresa especializada em monitoramento à distância, conta que é possível monitorar a presença de pessoas em locais como silos, por sensores de proximidade para identificar pessoas não autorizadas. “Mas é importante que o local tenha sinal de celular, para transmitir em tempo real as informações”, explica.
Rigoberto admite que o custo pode ser elevado para o produtor familiar. Nestes casos, esta cartilha de segurança rural pode ajudar. Elaborada pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), em parceria com Polícia Militar do Paraná, entre as recomendações estão: a instalação de alarmes em galpões, não deixar o gado próximo a estradas, principalmente à noite, e depositar rapidamente valores recebidos.
Presidente de sindicato rural é assaltada duas vezes em sete meses
O delegado Adriano Chohfi estima que o número de roubos e furtos no campo pode ser muito maior do que o oficial. “Uma coisa que dificulta nossa atuação é que as pessoas não fazem o boletim de ocorrência. Pela distância ou falta de informação, as pessoas não sabem a quem recorrer”, revela.
Vítima de dois assaltos em sete meses, Mery Terezinha Halabura Woiciekovski teve prejuízo superior a R$ 55 mil em materiais e dinheiro - fora três carros roubados. “A primeira vez foi por três indivíduos jovens, armados, em maio de 2015. A segunda foi em janeiro de 2016”, afirma a também presidente do sindicato rural de Agudos do Sul.
Na primeira “oportunidade”, foi levada a produção de linguiça da família, equipamentos e uma quantidade em dinheiro que a produtora não sabe estimar. “Era dinheiro vivo, que minha sogra sempre guardou em casa”, declara. Mery relata ter feito boletim de ocorrência, mas que não teve retorno sobre possíveis investigações.
Sete meses depois, a situação foi pior. “Eu tinha construído uma pequena indústria de costura e quatro indivíduos entre 35 e 40 anos ficaram mais de uma hora em casa e levaram nossos três carros”, conta.
Os veículos serviram de transporte para o roubo e passaram de R$ 40 mil na estimativa da presidente do sindicato. “Chegamos a pensar em largar tudo e buscar uma nova vida na cidade, mas desistimos porque meu marido e sogra passaram a vida toda aqui”, conta. Mery completa, ainda, que propriedades vizinhas também já passaram por situações similares e que roubos de veículos são comuns na região.