Um número cada vez maior de chineses está optando em trocar à mesa a carne de porco pela de frango, diante da crescente preocupação com o alastramento da febre suína africana. Como resultado, o preço do frango no mercado doméstico chinês alcançou seu maior valor em pelo menos três anos.
A mudança de hábitos dos chineses afeta diretamente o setor de carnes no Brasil. Entre 160 países, a China é o segundo maior importador do frango brasileiro. Nem mesmo a sobretaxa de 18% a 38% aplicada pelo governo chinês em junho - alegando a prática de dumping - impediu a expansão das vendas para o país asiático. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a China importou 364 mil toneladas de frango do Brasil entre janeiro e outubro deste ano, volume 9% superior ao realizado no mesmo período de 2017.
E não é somente a carne de frango brasileira que está sendo mais demandada. “Hoje já está indo mais carne suína para lá também. A China já sacrificou mais de 600 mil animais. E fala-se em milhões de matrizes sacrificadas. A febre suína africana vai mudar todo o mercado mundial, porque os volumes que a China está precisando são absurdos. Não podemos festejar a desgraça alheia, mas é uma grande oportunidade para o Brasil”, diz Ricardo Santin, diretor de mercados da ABPA.
A China é o maior produtor mundial de carne suína, com 55 milhões de toneladas por ano. A estimativa da ABPA é que o país asiático precisará importar de 4 a 5 milhões de toneladas para compensar as perdas pela febre suína africana. “Hoje exportamos 640 mil toneladas por ano de carne suína para a China. A Rússia agora voltou a importar do Brasil. Em 2019, teremos um drive de recuperação muito forte na suinocultura brasileira”, destaca Santin. “Depois da tempestade de 2018, esperamos que venha a bonança. Mas o pilar básico, a regra de ouro, é não permitir nenhum problema sanitário”, complementa.
Alastramento
Focos do vírus mortal da febre suína já foram identificados em mais de metade das províncias chinesas. As autoridades baniram o transporte de animais vivos nas áreas afetadas. A província de Sichuan, maior produtora de carne suína no país, proibiu a entrada de suínos vivos e produtos derivados vindos de outras regiões, numa tentativa de proteger sua cadeia produtiva.
“Em 2017, exportação global de carne suína foi de 8,19 milhões de toneladas. Agora a China precisa de 50% a mais de toda a exportação global. Olha o tamanho do desafio!”
“A carne de frango é quem mais ganha com o declínio do consumo da carne suína”, diz Pan Chenjun, analista do banco Rabobank em Hong Kong. Um aumento súbito no preço do frango indica que restaurantes e cantinas escolares estão intencionalmente substituindo a carne suína, buscando minimizar as preocupações dos consumidores, ainda que o vírus da doença não seja transmissível aos seres humanos.
Segundo Chenjun, a demanda por frango, uma proteína animal mais barata, vem aumentando na medida em que as restrições ao transporte de suínos vivos desorganizam a oferta. O consumo de carne de frango em algumas regiões aumentou mais de 10%, aponta Feng Yonghui, analista chefe do portal da indústria www.soozhu.com.
A maior indústria processadora da China, a Wens Foodstuffs Group, informou que as vendas de carne suína caíram mais de 10% em outubro, após o vírus da febre africana se espalhar e prejudicar a logística de transporte e de comercialização. Neste cenário, a granja Shandong Yisheng, uma das maiores da China, acelerou a produção e a venda de frangos, e mais que dobrou os lucros nos primeiros nove meses do ano.
Em outra medida restritiva, o Ministério da Agricultura chinês publicou recentemente uma resolução que exige que todos os caminhões de transporte de suínos sejam registrados e rastreados por satélite. O transporte desses animais em longas distâncias foi apontado como uma das principais causas da disseminação da doença.
O preço do frango à saída da granja em Shandong subiu 30% neste ano para cerca de 10 mil yuans (R$ 5.600,00) a tonelada, o maior em pelo menos três anos.
Decisão do STF que flexibiliza estabilidade de servidores adianta reforma administrativa
Lula enfrenta impasses na cúpula do G20 ao tentar restaurar sua imagem externa
Xingamento de Janja rouba holofotes da “agenda positiva” de Lula; ouça o podcast
Lula e Janja rebaixam de vez o Brasil no G20; assista ao Sem Rodeios
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast
Deixe sua opinião