O acordo entre Abilio Diniz e os fundos de pensão Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil) está suspenso. Os sócios se desentenderam novamente e o empresário não apresentou sua renúncia ao comando da BRF.
Depois de mais de dez horas de um duro embate nesta quinta-feira (5), o conselho de administração da gigante de alimentos, formada pela fusão de Sadia e Perdigão, volta a se reunir nesta sexta-feira (6).
Estava tudo preparado para que Abilio renunciasse à presidência do conselho e, em contrapartida, os fundos alterassem a composição do novo colegiado, incluindo dois representantes do empresário. A chapa será votada em assembleia de acionistas no dia 26.
O acordo, no entanto, começou a dar errado logo pela manhã quando o advogado Francisco Petros, representante da Petros, não apareceu e mandou seu voto por escrito. Petros se opôs a um dos pontos sugeridos por Abilio: um bônus de retenção para a diretoria executiva.
Abilio havia proposto pagar R$ 40 milhões de bônus para cerca de 50 pessoas - desse total, R$ 6 milhões para o presidente executivo José Aurélio Drummond Jr, que assumiu o cargo cerca de um mês atrás. Seu argumento é que não podiam perder talentos neste momento de crise.
No voto enviado por escrito, Petros argumentava que aquele bônus não tinha sentido em uma empresa que havia registrado R$ 1 bilhão de prejuízo no ano anterior - o maior da sua história - e que o tema deveria ser avaliado pelo próximo conselho.
A partir daí, a diretoria executiva se rebelou e ameaçou renunciar. Drummond afirmou que só permaneceria no comando da empresa se o advogado deixasse de fazer parte do conselho. A Petros, no entanto, decidiu bancar seu representante e se instalou um impasse.
Abilio já vinha tentando tirar Petros da nova chapa desde o começo das negociações do acordo, mas sem sucesso. Ele continuava insistindo para que o advogado pelo menos perdesse o cargo de vice-presidente do conselho e deixasse de fazer parte do comitê de auditoria. Os dois vinham tendo inúmeros desentendimentos.
Pessoas próximas a Petros dizem que há muitos mal feitos na empresa que estão sendo escondidos pela administração - não apenas os revelados pela Operação Carne Fraca, que investiga fraudes sanitárias. Fontes ligadas a Abilio retrucam que o advogado usa o comitê de auditoria para aterrorizar os funcionários.
Até o início da noite desta quinta-feira (5), Walter Mendes, presidente da Petros, se mantinha inflexível na manutenção de seu conselheiro. Abilio, o fundo Tarpon, e as famílias Fontana e Furlan tentavam atrair Walter Malieni, representante da Previ no conselho, para o seu lado, mas ele dava sinais de que os fundos continuariam unidos. Procurada, Previ, Petros, Abilio e BRF não se manifestaram.
Outro ponto de divergência era quem assumiria o lugar de Abilio na presidência do conselho de administração. No início das negociações, o empresário havia sugerido Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento e ex-presidente da Sadia, mas os fundos foram contra.
Petros e Previ querem emplacar um desafeto de Abilio: o executivo Augusto Cruz, presidente do conselho da BRF Distribuidora e ex-CEO do Pão de Açúcar. As fundações propuseram então que Furlan permanecesse no cargo interinamente até o dia 26, mas o ex-ministro não aceitou.
Se os sócios da BRF não conseguirem salvar o acordo nesta sexta-feira (6), Abilio tem duas opções: tentar votar uma chapa alternativa, mas é improvável que consiga arregimentar apoio, ou pedir voto múltiplo, em que cada conselheiro é votado separadamente. Neste caso, ele poderia tentar garantir pelo menos um representante.
Os sócios estavam costurando o acordo exatamente para evitar o voto múltiplo e passar uma mensagem para o mercado de que estavam unidos, já que a briga no comando da empresa é um dos fatores que derrubou o preço das ações. Mas com todas essas divergências é provável que os investidores acabem convencidos de que o conflito está longe de terminar.
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