Maior processadora de alimentos do Brasil, a BRF - que surgiu da fusão entre Sadia e Perdigão - atravessa um dos momentos mais delicados de sua história de quase dez anos, com prejuízo acumulado de R$ 1,1 bilhão somente em 2017.
Tanto que o empresário Abilio Diniz convocou para a próxima segunda (5) a reunião do Conselho de Administração da companhia para debater sua destituição.
Ele respondeu à solicitação dos fundos de pensão Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil), detentores de 20% do controle da maior processadora de alimentos do Brasil. Abilio se queixou da forma como o debate sobre a gestão da BRF está ocorrendo.
Os fundos haviam pedido a substituição dele e de todo o conselho da empresa em carta no sábado (24). Eles estão insatisfeitos com a gestão da empresa. No comando do conselho desde 2013, o empresário experimenta uma série de notícias negativas desde o ano passado.
“Não gosto de explicações, mas de resultados. E os resultados da BRF não são bons. Entendo a posição dos fundos, sua necessidade de informar seus cotistas, e compartilho da insatisfação de todos os acionistas com os resultados da empresa. Mas discordo das ações, da forma e do momento em que estão se manifestando”, disse Abilio, em nota.
Ele alegou que o assunto foi tratado anonimamente “via imprensa” e reclamou da falta de diálogo.
A Operação Carne Fraca, que apurou irregularidades em frigoríficos, atingiu a empresa em abril. Um conselheiro politicamente importante, Aldemir Bendine (ex-BB e ex-Petrobras), deixou a posição e acabou sendo preso depois pela Operação Lava Jato. E a delação da JBS revelou que dois ex-conselheiros da empresa agiam como infiltrados da rival, visando facilitar a venda da BRF.
Além disso, houve problemas de gestão. O braço direito de Abilio teve de deixar uma vice-presidência por ter sido condenado por fraude em segunda instância, num caso sem relação com a BRF. E o presidente da empresa, Pedro Faria, caiu, sendo substituído em dezembro por José Drummond.
Faria, oriundo do fundo Tarpon (7,26% da BRF), foi aliado de Abilio (3%) ao longo de seu mandato, quando a empresa teve valorização e chegou a vender ações a R$ 70. Nesta segunda (26), elas eram negociadas a R$ 28,60, mesmo nível de 2011. Depois do tombo de 8,33% da sexta, posterior à divulgação do prejuízo de 2017, as ações estão em leve alta, na expectativa de uma definição da disputa no conselho.
Abilio e Tarpon estão, segundo informações de executivos da área, com relações frágeis. Fundos estrangeiros como o Aberdeen (5%) estão alinhados com Petros e Previ, assim como provavelmente os acionistas minoritários oriundos das famílias que controlavam a Sadia, a marca que foi fundida em 2009 com a Perdigão e deu origem à BRF, sob as bênçãos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo a reportagem apurou, a disposição no Palácio do Planalto é de não intervir em favor de Abilio, como ocorria durante o governo Dilma Rousseff (PT) e até o ano passado sob Michel Temer (MDB).
Abilio defendeu a nova diretoria-executiva da empresa. “Após imersão profunda, esse time construiu um plano de ação aprovado e elogiado pelo conselho no último dia 22 de fevereiro. Mas não foi sequer dada a chance aos acionistas de conhecerem o novo plano, que deveria ser detalhado no BRF Day nos dias 7 e 8 de março”, queixou-se. “Reitero que toda a minha ação será focada na defesa dos interesses da companhia e de seus acionistas”, completou o empresário.
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