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INDÚSTRIA DA CARNE

Balanços mostram prejuízo bilionário da BRF em 2018 e volta dos lucros à Marfrig

 | Daniel Caron/Gazeta do Povo
(Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo)

A BRF, maior processadora de alimentos do país, registrou prejuízo líquido em 2018 de R$ 4,466 bilhões, uma alta de 306,4% em comparação aos números do ano anterior. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira pela empresa, que tem forte presença no abate e industrialização de aves e suínos.

A Marfrig, gigante do setor de carne bovina, também divulgou o balanço financeiro de 2018 nesta semana e obteve resultados na contramão da BRF: pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2015, a Marfrig reportou lucro contábil. No último trimestre de 2018 o lucro líquido da Marfrig foi de R$ 2,2 bilhões, o que reverte o prejuízo dos outros nove meses do ano e resultou num lucro líquido acumulado de R$ 1,4 bilhão em 2018.

Aves comemorativas

Apesar do acumulado negativo, a receita líquida da BRF no quatro trimestre de 2018 somou R$ 9,546 bilhões, avanço de 7,2% na comparação com o mesmo período de 2017. Segundo a empresa, o faturamento do período foi favorecido pela venda de aves comemorativas, destinadas a festas de fim de ano. A receita líquida de comemorativos cresceu 10,8% no comparativo anual, com elevação de volumes (+8,8%) e preços médios (+1,8%).

Entretanto, a BRF informa que esse desempenho positivo foi afetado negativamente pelo custo unitário médio que aumentou 12,6% no comparativo anual, como consequência do aumento dos preços dos grãos, da mudança do mix de produção, com maior participação de produtos in natura, e menor diluição dos custos fixos em função da ociosidade medida na produção.

“Além disso, tivemos um impacto adicional de R$ 76 milhões referente à liquidação de matéria-prima como estratégia de normalização do nível do estoque”, informou a companhia.

O Ebitda ajustado da BRF caiu 8,4%, para R$ 2,61 bilhões. Já a receita líquida anual subiu 3,2%, para R$ 34,259 bilhões.

Marfrig focada em carne bovina

A volta dos lucros contábeis à operação da Marfrig, o que não acontecia há três anos, foi creditada pela empresa à estratégia de “retorno às origens” iniciada nos últimos meses.

Em agosto de 2018, a Marfrig fechou a venda da Keystone, unidade internacional de alimentos processados, para a Tyson Foods por US$ 2,4 bilhões.

De acordo com Eduardo Miron, CEO global da empresa, foi graças a essa venda que a dívida caiu mais de 40% no período, o que fez com que a alavancagem da empresa atingisse 2,39 vezes – ante meta de 2,5 vezes. “Vendemos a empresa com um múltiplo de 10 vezes antes da crise do mercado de aves”, comemora o executivo em entrevista ao InfoMoney. “Agora, somos a empresa com menor alavancagem do setor”.

Mas a mudança é mais estratégica do que numérica. Este negócio, logo após a compra da National Beef Packing Company no primeiro semestre, marcou um passo essencial na transformação do grupo em uma operação totalmente focada na carne bovina.

Para o ano que inicia, a perspectiva é positiva para o mercado doméstico, com esperança de retomada da economia – e do consumo de carne. Com 70% das operações nos Estados Unidos, a Marfrig se beneficia de momentos bons tanto nacionalmente quanto internacionalmente. Em ambos os países, o CEO vê probabilidade grande de manutenção de um bom ciclo do gado, o que significaria custos baixos para a empresa.

Mesmo uma eventual queda do dólar tem pouco impacto na empresa, de acordo com ele, já que, enquanto quase 90% das receitas da empresa são em dólar, praticamente 90% da dívida também está indexada à moeda norte-americana.

“Fechamos todas as operações em 2018 e estamos em um ‘fresh start’”, diz Miron. Todas as expectativas podem animar o investidor que busca empresas para o longo prazo [na Bolsa]”, diz o executivo.

Com 33,74% de participação na Marfrig, via BNDESPar, o BNDES pretende se desfazer dos papéis, conforme sinalizado pelo secretário de desestatização do governo Bolsonaro, Sallim Mattar. A venda de um volume como esse sempre tem potencial enorme de desvalorizar, mesmo que temporariamente, um papel.

Para Miron, é pouco provável que o BNDES, como investidor, tome uma decisão “irracional” sobre as ações da empresa. “Logicamente não podemos falar por eles, mas temos uma relação positiva de colaboração com o BNDES, eles têm dois assentos no nosso conselho”, diz. “Ele deve obedecer uma racionalidade, levando em conta a queda da alavancagem e as perspectivas para a empresa”, diz.

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