Além da Carne Fraca, a BRF está mergulhada em uma crise provocada pelo processo de reestruturação societária.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A BRF perdeu R$ 5 bilhões em valor de mercado nesta segunda-feira (5) depois que a Polícia Federal deflagrou nova fase da Operação Carne Fraca e prendeu Pedro de Andrade Faria, ex-presidente da empresa, a maior processadora de alimentos do país.

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Os papéis recuaram 19,74%, para R$ 24,75. Isso equivale a uma perda de R$ 4,95 bilhões em valor de mercado ante sexta-feira. A Bolsa brasileira fechou em leve alta de 0,30%, para 86.022 pontos.

Por contágio, as ações da JBS recuaram 5%, para R$ 9,50. A Marfrig teve queda de 0,94%, para R$ 6,26. E a Minerva, fora do Ibovespa, caiu 0,42%, para R$ 9,30. Somadas, todas as empresas perderam R$ 6,4 bilhões em valor de mercado nesta sessão.

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A forte queda nas ações da BRF ocorreu após Faria ser preso pela PF em investigação que apura que setores de análises do grupo e cinco laboratórios credenciados junto ao Ministério da Agricultura fraudavam resultados de exames em amostras do processo industrial, informando dados fictícios ao Serviço de Inspeção Federal (SIF/Mapa).

Segundo a Polícia Federal, o ex-presidente teria tentado acobertar as fraudes, reveladas na petição inicial da ação trabalhista de uma ex-funcionária do grupo. As fraudes tinham como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal, impedindo que o Ministério da Agricultura fiscalizasse com eficácia a qualidade do processo industrial da BRF. Em comunicado ao mercado, a BRF disse que está se inteirando dos detalhes da operação e está colaborando com as investigações para esclarecimento dos fatos.

Além da Carne Fraca, a BRF está mergulhada em uma crise provocada pelo processo de reestruturação societária. Nesta segunda, o Conselho de Administração da empresa se reuniu, não discutiu a prisão do ex-presidente e marcou novo encontro para decidir sobre a troca no órgão. A tendência é de que Abilio Diniz seja removido da presidência do colegiado e substituído por Augusto Marques da Cruz Filho, um desafeto do empresário.

A empresa registrou prejuízo líquido de R$ 784 milhões no quarto trimestre, uma piora em relação ao resultado negativo de R$ 442 milhões registrado um ano antes. 

“A BRF é uma empresa que está passando por uma reestruturação e que tentou um movimento de corte  de custo agressivo e foco na marca que não deu certo. Toda mudança de gestão que foi tentada não funcionou”, diz Phillip Soares, analista da Ativa Investimentos.

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“Houve uma tentativa de produtos grandes decolarem que não deu a rentabilidade esperada. Além disso, o corte de custos fragilizou a base operacional da empresa. Foram demitidas muitas pessoas, incluindo algumas consideradas importantes em termos operacionais”, complementa.

Para Carlos Soares, analista da Magliano Invest, a queda também refletiu o temor de que ocorra o mesmo que aconteceu no ano passado, na primeira fase da Carne Fraca.

Muitos países, em resposta às investigações que envolveram suspeita de corrupção, crime contra a ordem econômica e falsificação de produtos alimentícios, estabeleceram embargo à importação da carne brasileira.

“Há um componente de incerteza com a consequência das denúncias em relação a possíveis embargos. Isso penaliza o setor como um todo. O mercado tenta precificar esse impacto nas empresas, buscando saber quais serão os embargos, quanto terá de impacto nas vendas, quais serão os países a estabelecerem embargo”, ressalta.

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Ações

Apesar da pressão das processadoras de alimentos, o Ibovespa conseguiu fechar no azul, com ajuda de Petrobras e de bancos.

Das 64 ações do índice, 31 subiram, 31 caíram e duas fecharam estáveis.

As ações da Petrobras lideraram as altas, com a recuperação dos preços do petróleo.