Ingrediente responsável pelas substâncias que conferem amargor e aroma às cervejas, retirado da flor de uma trepadeira típica do clima frio do hemisfério Norte, o lúpulo está com o passaporte carimbado para adaptação às terras tupiniquins. Atualmente, 99,9% do lúpulo ainda é importado, mas pequenos produtores se organizam para ganhar pelo menos um naco de mercado deste produto que é vendido por até R$ 300 o quilo.
Um passo importante para o abrasileiramento do lúpulo foi a concessão, há um ano e meio, de registro do Ministério da Agricultura para cultivo de oito variedades comerciais importadas: Centennial, Cascade, Fuggle, Hallertauer Magnum, Brewers Gold, Nugget, Northern Brewer e Columbus.
Sete das variedades (com exceção da Columbus) foram registradas a pedido do Viveiro Porto Amazonas, no sul do Paraná, de propriedade do biólogo Leonel Anderman. “Tive contato com plantas de lúpulo na cervejaria Bodebrown (em Curitiba), achei interessante e comecei a produzir. Para minha surpresa, fui o primeiro a pedir o registro das variedades no Ministério da Agricultura”, conta Anderman. No próximo dia 23, o biólogo vai fazer palestra sobre a cultura do lúpulo para interessados durante a 6ª Feira de Plantas (Feplan), em Porto Amazonas, e já separou 250 mudas para comercialização, ao preço de R$ 35 cada.
O ‘boom’ das cervejarias artesanais nos últimos dez anos colocou o lúpulo em evidência e vem despertando o interesse dos agricultores. Dos quatro ingredientes fundamentais da cerveja – água, levedura, malte e lúpulo – é o único que depende quase totalmente de importação. A adaptação ao clima brasileiro é difícil, devido à necessidade de baixas temperaturas e dias mais longos, com maior tempo de exposição à luz solar. A chegada de novas variedades, no entanto, e a demanda ‘cervejeira’, tem animado mais gente a se aventurar no cultivo da planta.
No ano passado foi criada a Associação Brasileira dos Produtores de Lúpulo, em Lajes, Santa Catarina, que começou com 50 associados e já conta com 91 participantes. “Temos inclusive associados da Escola Superior de Cerveja e Malte, de Blumenau, e da Universidade Estadual de Santa Catarina. As coisas estão evoluindo até mais rápido do que esperávamos”, diz Alexander Creuz, presidente da Aprolúpulo.
O mercado do lúpulo, no entanto, tem players pesos-pesados. Creuz observa que apenas duas grandes companhias dominam o comércio internacional. Para que o sonho dos pequenos produtores possa vingar comercialmente, é preciso ter escala e encontrar uma forma de processar a flor do lúpulo e não depender apenas do fornecimento do produto fresco. “Claro que dá para usar o lúpulo fresco, de uma única colheita anual. Se eu souber onde tem, vou comprar. Mas não dá para depender de um fornecedor que só entrega uma vez por ano. O grande desafio é processar a flor do lúpulo rapidamente e fazer o beneficiamento, e isso envolve muita tecnologia”, avalia Alessandro Oliveira, mestre cervejeiro da paranaense WayBeer, que produz 50 mil litros mensais de cerveja artesanal, com lúpulo importado.
Creuz, da Aprolúpulo, sabe que o beneficiamento é o gargalo a ser vencido para viabilizar a cadeia produtiva. Ele conta que os produtores planejam formar uma cooperativa para dividir os custos de secar e transformar a flor de lúpulo em pellets, o que atenderia as expectativas da indústria e multiplicaria a vida útil do produto. “O pessoal até faz o comércio do lúpulo em flor, desidratado, mas são vendas em pequenas quantidades. Existe a demanda e vamos ter de peletizar nosso lúpulo. Se for para atender ao mercado cervejeiro de micro e pequenas cervejarias e, no futuro, das médias e grandes, teremos de fazer esse processo de peletização”, enfatiza Oliveira. A mecanização da colheita e a profissionalização do processo de secagem são outros desafios igualmente importantes, segundo ele. Na cadeia do lúpulo, como se vê, as práticas artesanais só são promissoras na etapa de produção de cerveja.
Os mestres cervejeiros torcem pelo sucesso do lúpulo em terras brasileiras. “Se criarmos uma variedade diferente, se tiver um terroir com aroma e sabores diferenciados, talvez cítrico – não sei para que lado irá – pode ser que fique muito interessante. É um mundo a ser descoberto”, destaca Alessandro Oliveira, da WayBeer.
A importação de lúpulo, dividida ao meio entre a produção de cerveja e o mercado farmacêutico, movimenta cerca de 100 milhões de dólares por ano. A Alemanha, onde foram registrados os primeiros cultivos no século VIII, se mantém como maior produtor mundial.
SERVIÇO
Palestra sobre a cultura do lúpulo com biólogo Leonel Anderman
Dia 23 de março, das 9 às 12 horas
Viveiro Porto Amazonas - Estrada da Nova Restinga, km 5 - Zona Rural, Porto Amazonas - PR
Mais informações: (42) 3256-1594 e (42) 99122-1661.
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