Por muito tempo, as profissões das áreas de exatas foram vistas como uma área masculina e com poucos cargos ocupados por mulheres. Nos últimos anos, no entanto, elas têm lutado diariamente para desmistificar os tabus, reduzir as diferenças de salários - que ainda são recorrentes - e combater o assédio no ambiente de trabalho. Esse cenário vem passando por mudanças aceleradas, com as mulheres conquistando um espaço considerável na área, em especial nos últimos três anos.
Dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) apontam que o número de mulheres engenheiras registradas por ano no sistema passou de 13772 em 2016 para 19585 em 2018 – um crescimento de 42%. O número total de mulheres no Brasil ativas no sistema hoje é de 196.372. Para a professora do curso de engenharia florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ana Paula Dalla Corte, este é um reflexo das discussões de igualdade de gênero que vêm aumentando atualmente e fazendo com que as mulheres se sintam mais à vontade em ingressar nos cursos de engenharia.
“Nós fizemos um levantamento no curso, analisando desde o seu início (1960), e identificamos que a presença masculina era muito forte até os anos 90. Isso começou a se reverter nos últimos anos e o número de mulheres formadas começou a crescer. Nos anos de 2004 e 2011, por exemplo, 51% da turma de formandos de engenharia florestal eram mulheres”, exemplifica Ana Paula.
A engenheira-agrônoma Vanessa Sabione avalia que esta inserção das mulheres será cada vez mais acentuada na engenharia, porque, além de perceberem as mudanças e o surgimento das oportunidades, elas estão buscando capacitação para atender à demanda. “Elas se sentem mais apoiadas pelos grupos formados por mulheres e todos os trabalhos de empoderamento para as meninas da engenharia. Com isso, a gente acaba fortalecendo e atraindo mais mulheres para se inserirem neste cenário”, observa.
Para a engenheira eletricista e de segurança no trabalho Fabyola Gleyce, as empresas vêm se sensibilizando e entendendo que é preciso avaliar a capacidade técnica e não o gênero do profissional de engenharia. “Os números estão aí para comprovar essa mudança. Espera-se, sem dúvida, que a participação da mulher se amplie cada vez mais”, aponta.
Conquistas
No Paraná, a representação feminina na área também tem crescido de maneira expressiva. Uma pesquisa recente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) indica que o número de engenheiras no estado aumentou 24% nos últimos cinco anos. O número de engenheiras registradas no Conselho passou de 9.609, em 2014, para 12.546 em 2018.
O estado registra mais uma conquista significativa, tendo pela primeira vez, em 85 anos, uma mulher na coordenação da Câmara de Engenharia Civil no Crea-PR. A cadeira é ocupada pela engenheira civil Celia da Rosa. “É um marco muito importante. A câmara de engenharia civil é a maior dentro do Crea-PR. Isso aumenta a expectativa e a responsabilidade que tenho como coordenadora, de buscar fazer um bom trabalho”, afirma Celia. “Atualmente já se tem uma visão diferenciada sobre o tema e as mulheres vêm conquistando seu espaço pouco a pouco. Porém, ainda há muito preconceito. Existe todo um contexto envolvido, principalmente em se tratando dos cargos de liderança”, sublinha.
Iniciativas
Há iniciativas em curso para desmistificar alguns conceitos e avançar nas conquistas. Para promover a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens nas engenharias, o Crea-PR criou o Comitê das Mulheres. Encontros estaduais, palestras e campanhas têm sido algumas das ações do grupo.
A engenheira agrônoma e coordenadora do projeto, Márcia Laino, declara que “não é ter mais e nem menos”, mas sim a igualdade de possibilidades. “Muitas mulheres ainda se sentem inseguras em entrar na profissão, precisamos desconstruir alguns paradigmas. Movimentos como esses são de extrema importância, pois dão visibilidade à causa e incentivam para que as mulheres se sintam mais seguras e apoiadas”, explica.
Uma das principais causas do Comitê tem sido combater o assédio ainda presente nos espaços de trabalho. Márcia Laino explica que existem dois tipos de assédio: o declarado e o velado. “Um exemplo do declarado é aquela ‘típica’ cantada. É uma das formas mais comuns de assédio. Outra forma bastante comum, e que pode ser considerada como velada, é quando uma mulher está em uma reunião com vários homens, começa a expor suas ideias e a sua fala é interrompida por um homem”, exemplifica.
Rede Digital Agromulher
Um projeto que tem buscado incentivar as engenheiras, com foco nas mulheres da área do agronegócio, é a Rede Agromulher. Criado em maio de 2017 pela engenheira-agrônoma Vanessa Sabioni, o Portal Agromulher compartilha conteúdo sobre carreira, gestão, tecnologias, marketing e mercados. O objetivo é dar apoio e fortalecer o desenvolvimento pessoal e profissional das mulheres do agronegócio.
“Hoje o nosso portal contempla a maior rede digital de mulheres do agro, que tem como propósito capacitar, integrar, inserir e valorizar as mulheres, através de capacitação presencial e online, divulgação de vagas de emprego pelo aplicativo Agromulher e também pelas redes sociais”, diz Vanessa, que se prepara para em maio deste ano lançar uma nova versão do aplicativo que irá conter cursos voltados para diversas áreas do agronegócio.
Incentivada por suas próprias experiências na área, Vanessa incentiva e aconselha as mulheres que desejam empreender no agronegócio. “O mais importante é saber quem a gente é e aonde queremos chegar. Quando temos autoconhecimento, conseguimos traçar estratégias, focar e chegar no ambiente que se quer. Não existe um único caminho. O caminho certo é aquele que você escolheu trilhar”, arremata.
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