Mercado da agricultura de precisão deverá movimentar US$ 240 bilhões em 2050| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Uma batalha judicial entre dois dos maiores fabricantes de maquinários agrícolas do mundo revela a intensidade da atual corrida tecnológica para automatizar o trabalho no campo.

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A Deere & Co., maior fabricante mundial de tratores – dona da marca John Deere - , está processando a rival AGCO Corp. – proprietária das marcas Massey Ferguson e Valtra – sobre a suposta violação de patentes de dispositivos como dosadores de sementes e sulcadores acoplados a plantadeiras. Esses acessórios integram o mercado da agricultura de precisão, estimado em US$ 240 bilhões, que utiliza milhares de informações (big data) para automatizar as operações e incrementar a produtividade.

Essas empresas estão “avançando rápido” na tecnologia de precisão para transformar a indústria, diz Karen Ubelhart, analista da Bloomberg Intelligence. “É muita coisa em jogo e as companhias não economizam dinheiro para largar na frente”.

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Na ação judicial em que denuncia a violação de patentes, impetrada no dia 1º de junho na corte federal de Wilmington, em Delaware, a John Deere acusa a AGCO de copiar sua tecnologia ExactEmerge, que permite aos produtores plantar em velocidade maior, mantendo uma distribuição milimétrica de sementes e o espaçamento entre linhas. O dosador vSet e o sistema SpeedTube de deposição de sementes, da AGCO, violariam pelo menos 12 patentes da John Deere. A empresa pediu uma ordem judicial impedindo novas violações e compensação financeira pelos prejuízos já causados.

A AGCO, terceira maior fabricante de tratores, comprou da Monsanto, no ano passado, a empresa que produzia esses componentes, a Precision Planting. O negócio se concretizou poucos meses depois de a John Deere oferecer US$ 190 milhões pela empresa, numa transação que foi vetada pelo Departamento de Justiça.

Acusações “sem sentido”

Em nota, a AGCO disse que as alegações da John Deere “não fazem sentido e serão refutadas cabalmente nos tribunais”.

“A Deere está processando a AGCO por causa da tecnologia da Precision Planting que a AGCO adquiriu, e que, anteriormente, a própria John Deere queria comprar”, diz o professor de engenharia agrícola Dennis Buckmaster, da Universidade de Purdue, em Indiana. “Deve haver diferenças significativas nas tecnologias em questão, caso contrário, não faria sentido a John Deere querer comprar a empresa”.

O processo contra a AGCO “não está relacionado a atividades anteriores à proposta da John Deere para comprar a Precision Planting”, disse Ken Golden, porta-voz da John Deere. “A ação judicial é um esforço para fazer valer os direitos de propriedade industrial, para proteger o valor da inovação criada por nossa companhia e seus funcionários e para restringir o uso não autorizado de dispositivos únicos, criados com o uso dessas patentes”.

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Após vários anos desenvolvendo suas tecnologias, a Deere e a Precision Planting fizeram lançamentos no mercado num intervalo de apenas duas semanas, em 2014, de acordo com relatório do Departamento de Justiça contrário à fusão das empresas. À época, a John Deere tinha 44% e a Precision Planting 42% dos sistemas de plantio de alta velocidade. A união das empresas levaria a preços mais caros para os agricultores, afirmou o Departamento.

Em cinco anos devem chegar ao mercado tratores que dispensam a figura do condutor 

Na nota distribuída dia 1º de junho sobre o processo judicial contra a AGCO, a John Deere diz que as patentes em questão “se relacionam a vários aspectos únicos e inventivos” das plantadeiras da empresa.

O que incomoda a John Deere é que os equipamentos da Precision Planting podem ser conectados a plantadeiras de qualquer marca, e o número de vendas desses acessórios no ano passado foi praticamente o mesmo das vendas de novas plantadeiras em toda a indústria.

Carro popular

“É como se existisse um pequeno dispositivo que você implantasse no seu carro popular e o fizesse rodar forte e macio como um carro de luxo”, disse Buckmaster. “O fabricante do carro de luxo não gostaria que isso fosse lançado no mercado”.

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Plantadeiras de alta velocidade são “disruptivas de mercado”, diz Scott Shearer, professor na Universidade Estadual de Ohio. A tecnologia da Precision Planting, em particular, tem elevado as expectativas dos produtores, que agora demandam uma precisão quase perfeita na semeadura – destaca Shearer.

Alguns dos maiores fabricantes de maquinários agrícolas “começaram a adotar novas tecnologias de semeadura por causa dessa startup, que vinha chamando muita atenção e interesse dos agricultores”, diz o professor.

As novas tecnologias da agricultura de precisão – que incluem tratores autônomos, sensores de plantio, drones e softwares de processamento de informações – representam um mercado que chegará a US$ 240 bilhões em 2050, e ajudarão a elevar a produtividade das lavouras em 70%, segundo um estudo de 2016 da Goldman Sachs.

A AGCO acaba de lançar no mercado americano uma colheitadeira de precisão totalmente concebida a partir de conceitos de inteligência artificial, que traz sensores de fábrica que comandam automaticamente todo o corte das plantas, a separação dos grãos e a limpeza da máquina.

“Estamos tornando as máquinas cada vez mais autônomas. O papel do operador na cabine vem se reduzindo drasticamente”, diz Eric Hansotia, vice-presidente da AGCO, que assegura que seus maquinários contêm muito mais códigos computacionais embarcados do que uma nave espacial.

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Em cerca de cinco anos chegaremos à era dos tratores completamente autônomos, avalia John Nowatzki, especialista em maquinário agrícola da Universidade Estadual de North Dakota. A CNH Industrial, segundo maior fabricante do mundo, já tem um protótipo deste trator. É uma máquina de linhas modernas e agressivas, que sequer traz um banco para o operador.

O produtor Matt Swanson, 31, que cultiva 400 hectares em LaHarpe, no estado de Illinois, investiu US$ 100 mil para equipar sua plantadeira com componentes da Precision Planting. Pelo fato de administrar melhor a quantidade de defensivos e sementes aplicadas, eles calcula que recuperará o investimento no prazo de dois a três anos.

“Você literalmente elimina os erros”, enquanto no sistema anterior “era uma questão de torcer e rezar para dar certo”, diz Swanson.