Mais de 12% de todas as exportações brasileiras em receita; ou 1,64 milhão de carretas carregadas até a boca; ou mais de sete vezes a distância do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), os extremos do país, caso essas mesmas carretas estivessem estacionadas em fila (ou, considerando os 30,43 mil km deste último exemplo, muito mais do que a distância entre o Polo Norte e o Polo Sul do planeta, estimada em 21 mil km).
O fato é que os 65,8 milhões de toneladas de soja exportados pelo Brasil em 2017 ou US$ 24,8 bilhões (sem considerar o que ainda vai ser embarcado em dezembro) representam um marco para o agronegócio brasileiro e para a balança comercial do país. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
“É um recorde absoluto, supera o número da safra 2015 que tinha sido de 54,3 milhões de toneladas”, salienta o analista da corretora Granopar, Aldo Lobo.
Como explicar tanta soja
No início da safra, a expectativa do mercado era de que os embarques totais ficassem em torno de 60 milhões de toneladas. Veio, então, uma safra sem precedentes, calculada pelo AgroGP em 110,2 milhões de toneladas. Mesmo com a comercialização mais tímida dentro de casa, com preços prejudicados pela oferta ampla, a demanda forte no exterior e episódios em que o dólar disparou favoreceram os embarques.
“A maior parte das negociações foi para o mercado externo, tivemos um percentual bem menor de vendas internas”, diz o analista da Safras e Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque. “A demanda internacional estava aquecida de maneira geral, mas principalmente na China, que responde por 80% das exportações. “Conseguimos ganhar a parcela do mercado internacional que disputamos com Estados Unidos. Por mais que eles tenham competitividade por causa do dólar, a safra brasileira trabalhou com esse volume.”
As cotações ainda mais pressionadas do milho em virtude, principalmente, da colheita abundante nos Estados Unidos também interferiram nas exportações de soja. “O que ocorre é que o Brasil não é competitivo com o milho logisticamente. O pessoal comprou espaço em ferrovia e esperava usar para o milho no último trimestre, o que não aconteceu. Então, para garantir, mandaram soja”, afirma Aldo Lobo.
Além disso, pontua o analista, o percentual de proteína na soja brasileira é maior do que na norte-americana. Em geral, são 38% contra 33%, o que interfere diretamente na utilização do grão pela indústria de carnes, por exemplo. “E, nesse ano, a diferença foi ainda maior. O nível de proteína da soja dos EUA ficou perto de 30%. Então, o mercado prefere comprar no Brasil, mesmo pagando um pouco mais caro.”
Com mais de 2 milhões de toneladas já previstos para serem despachados nos portos brasileiros ao longo de dezembro, as exportações de soja devem romper a barreira de 68 milhões de toneladas em 2017. O que já dá o que falar a respeito do que pode ser o mercado no próximo ano. “Ano que vem será muito especulativo por causa do clima, já estão ‘quebrando’ a safra da Argentina, mesmo antes da colheita. É um ano eleitoral, com dólar em alta. O produtor tem que aproveitar os repiques”, avalia Lobo.
“Mesmo com todas essas exportações, a gente vai fechar com 6,3 milhões de toneladas de estoque de passagem, bem superior ao ano passado, quando o número era 2,6 milhões de toneladas. Isso interfere na formação dos preços”, acrescente Gutierrez Roque. “Mas depende do que vai acontecer com a safra brasileira, do volume de colheita. Hoje o mercado trabalha com uma safra de potencial produtivo cheio, mas temos três meses pela frente.”