Os três laboratórios pegos pela Polícia Federal na Operação Trapaça são os mesmos flagrados em fraudes em março de 2017, na primeira fase da Carne Fraca.
O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luís Eduardo Rangel, disse que, em um primeiro momento, as empresas foram descredenciadas. Depois, sob o argumento de que se adequaram, elas voltaram a atuar, mas sob ação controlada da PF.
Desde então, segundo ele, escutas telefônicas e outras medidas permitiram verificar que as empresas reincidiram nas fraudes com a BRF.
Ainda segundo o secretário, sua equipe está pronta para estender o escopo [das investigações].
“Esses laboratórios também prestaram serviços para outras empresas”, disse.
Diante da crise no setor, o governo quer implementar ainda neste ano um novo sistema de fiscalização de laudos laboratoriais de carnes para tentar prevenir fraudes como as que foram reveladas.
Rangel afirmou que pretende fazer os primeiros testes do novo sistema até o fim de julho.
“O nível de fraude superou nossas expectativas”, disse. “Por isso, tivemos de pensar numa forma mais sofisticada [de fiscalização].”
A ideia é que os laboratórios hoje credenciados sejam obrigados a fazer testes cruzados. Um vai refazer um teste feito pelo seu concorrente.
Em outra frente, os seis laboratórios oficiais do ministério farão uma checagem por amostras dos testes realizados. “Para isso, devem deixar de fazer os exames de rotina a fim de se dedicarem à nova tarefa”, disse Rangel.
O secretário informou que a medida é uma consequência das investigações que vinham sendo conduzidas pela PF e pelo ministério desde abril do ano passado.
A parceria, no entanto, só deslanchou depois de março de 2017 com a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal -- que não contou com a participação do ministério.
Naquele momento, a Polícia Federal já tinha evidências de fraudes praticadas pelos frigoríficos com laboratórios que atestam a qualidade da carne.
Meta
No caso da carne de frango, a meta do governo é baixar os índices de contaminação por salmonela de 20% para 7%. “É impossível atingir essas metas se as empresas mentem para a gente”, afirmou Rangel.
O secretário acredita que o novo sistema de fiscalização das auditorias fitossanitárias que o ministério desenvolve deve ajudar a coibir as fraudes, mas, mesmo assim, os resultados só devem surgir no longo prazo. “Não dá para fazer em 18 meses. É coisa para dez anos.”
Ainda segundo ele, a Operação Trapaça não deve comprometer as vendas de carnes do Brasil porque, no caso do frango, a presença de salmonela não representa risco para a saúde.
“Existe um consenso internacional sobre isso porque essa bactéria não sobrevive a temperaturas superiores a 60ºC.”
De acordo com ele, os países já fazem notificações de presença de salmonela rotineiramente. “Isso não é tão polêmico”, disse.
“Apenas 12 destinos têm requisitos específicos e não aceitam a presença da salmonela”, disse o secretário.
Por isso, Rangel acredita que os países devem entender a Operação Trapaça como mais um passo do Brasil para um sistema capaz de atestar a qualidade da carne brasileira.
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