A agência responsável pela avaliação de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos (Food and Drug Administration - FDA) aumentou em 90 dias o prazo para dar uma resposta à consulta da empresa Impossible Foods Inc.’s, que pediu um parecer de segurança alimentar sobre um suposto “ingrediente mágico” que faz os hambúrgueres vegetarianos ter o mesmo gosto da carne.
O novo prazo do FDA foi comunicado à companhia por email. A resposta deveria ter chegado em 24 de abril e não foram apresentados motivos para a mudança.
Segundo Rachel Konrad, porta-voz da Impossible Foods, a extensão do prazo em três meses seria uma rotina de protocolo administrativo. A companhia espera uma resposta positiva da agência. Enquanto isso, o Impossible Burger (Hamburguer Impossível) é “totalmente seguro para comer, e milhões de pessoas gostam dele”, afirma Konrad. O FDA, por sua vez, não respondeu às solicitações de comentários.
A empresa californiana, com sede em Redwood City, disse que solicitou ao FDA a revisão da segurança alimentar do produto em nome da transparência, ainda que a substância já esteja em conformidade com as regulações existentes.
O Impossible Burger contém um ingrediente chamado heme (pronuncia-se: reem), uma molécula abundante no sangue e músculos de animais. Também existe em quantidades menores em plantas, que a Impossible Foods extrai das raízes de soja.
A companhia usa uma levedura geneticamente modificada para produzir a substância. CEO da Impossible Foods, Patrick Brown afirma que o heme é um “ingrediente mágico” que faz com que o hambúrguer vegetariano tenha o mesmo gosto, textura e aparência da carne bovina.
Seguro, em termos gerais
Essa é a segunda rodada de registros da empresa junto ao FDA. Na primeira tentativa, a agência federal solicitou que fossem apresentadas mais “evidências diretas” sobre a segurança alimentar da inovação.
Na maioria das nações desenvolvidas, as companhias geralmente precisam da aprovação do governo antes de poderem lançar produtos com ingredientes inovadores. Contudo, os Estados Unidos seguem a regra da “segurança em termos gerais” que permite a venda de alimentos com novos ingredientes sem a aprovação do FDA, contanto que especialistas declarem que esses aditivos são seguros. A Impossible Foods convocou um painel em 2014 onde obteve essa declaração de segurança.
Brown discorda de alguns exames solicitados pelo FDA. “São testes inúteis, sem nenhum sentido”, afirmou, acrescentando que, às vezes, parecem que estão fazendo “piada’ com o assunto. Para o novo processo, de mais de mil páginas, a Impossible Foods incluiu dados de testes de ratos que foram alimentados com heme por 28 dias. Brown, inclusive, disse que isso era desnecessário. “Fizemos só por fazer, não achamos que poderíamos aprender algo novo com isso”, afirmou.
Alguns grupos de segurança alimentar e ambientalistas questionaram o “ingrediente heme”, afirmando que ele não deveria ser comercializado antes de o FDA dar seu parecer final. Outros grupos elogiam o Impossible Burger por ser uma forma de desapegar as pessoas do consumo de carne, o que seria prejudicial ao meio ambiente.
Agora, o heme está envolvido em uma nova controvérsia. Uma pesquisa de março da Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer, ligada à Organização Mundial de Saúde, afirmou ter encontrado “fortes evidências” de que a substancia pode contribuir com a formação de células cancerígenas no intestino. A Impossible Foods discorda do estudo, citando “falhas científicas” nas evidências.
Produtos como o Impossible Burger estão em alta. Analistas da Consultoria L.E.K, de Chicago, estimam que esse mercado cresceu 8%, chegando a US$ 5 bilhões em 2017. A Impossible Burger destaca que vem conquistando novas redes de fast-food, como White Castle, e que recentemente começou as vendas em Hong Kong.
Segundo o site do FDA, uma resposta definitiva à consulta da Impossible Foods ainda está pendente. Conforme a regra do “seguro em termos gerais”, a agência costuma responder em 180 dias, mas o prazo pode ser estendido por mais 90 dias, se necessário.