Produtores de leite do município paulista de Cerqueira Cesar, na região de Bauru, estão jogando leite fora após o fechamento da fábrica de leite UHT da empresa de alimentos Mococa. “A Mococa fechou as portas e não avisou os produtores. Isso é desrespeito”, reclamou o pecuarista Tadeu Vilalta.
Segundo Vialta, o leite “está sendo jogado fora porque a empresa deixou de fazer a coleta de um dia para o outro e não avisou os produtores”. Nos últimos dias, fornecedores passaram a procurar outras empresas para vender a produção.
A empresa diz que os parceiros foram avisados. “Nós avisamos os parceiros dentro do normal”, afirmou Max Schaefer, diretor de administração e finanças da Mococa. “É uma decisão estratégica da empresa”, acrescentou. Segundo o executivo, a Mococa negocia a venda da unidade de Cerqueira César, mas vai manter a operação da unidade do município de Mococa, local de nascimento da empresa, em 1919. Segundo o diretor da empresa, a Mococa tem uma história de 99 anos e “não há histórico de conflito com fornecedores”.
A decisão de fechar o laticínio, implementada na semana anterior ao carnaval, interrompeu a produção de cerca de 500 mil litros/dia do leite de caixinha. Pelo menos 157 trabalhadores foram demitidos. As informações foram confirmadas por Max Schaefer,
“Nós estamos revendo o nosso mix de produtos e investindo em uma nova unidade para produção de achocolatados em Alagoas”, disse o diretor da empresa. Desde o dia 6, a Mococa não faz a captação do leite nas propriedades fornecedoras na área de Cerqueira César.
O produtor Tadeu Vilalta postou um protesto numa rede social criticando a interrupção da coleta. Para ele, a empresa deveria ter informado os fornecedores “com pelo menos 30 dias de antecedência”. Ele acrescenta que “não se discute a decisão da empresa de fechar. Isso é uma decisão comercial deles”. “Mas o produtor também não pode ser surpreendido sem aviso da decisão”, argumenta.
Segundo o produtor Paulo de Tharso Bittencourt, que produz cerca de 2 mil litros por dia e que até o dia 5 vendia para a empresa, a decisão da Mococa era esperada. Ele sustenta também que os fornecedores deveriam ter sido avisados para que pudessem buscar uma solução para a entrega. “Eu já estava vendo indícios disso”, diz o advogado e produtor, lembrando que tem a receber da Mococa o fornecimento de janeiro e dos primeiros dias de fevereiro no valor de cerca de R$ 75 mil. “Eu não sei o que os outros produtores vão fazer; eu sei”, afirmou, adiantando que vai à Justiça.
Para o analista de mercado leiteiro Valter Galan, “a produção de leite é um bom negócio”, mas o ano de 2017 foi difícil para os produtores. O preço médio do litro ao produtor no Estado de São Paulo, caiu de R$ 1,2321 em janeiro do ano passado para R$ 1,0709 no mês passado, segundo dados do Cepea/USP. “Isso dá uma redução de 13,1% no preço ao produtor”, calcula Galan.
Segundo o analista, a tendência de queda nos preços já começa a se inverter com um movimento de retomada em janeiro na relação atacado/varejo. Para ele, a retomada deve se refletir em fevereiro valor do litro pago ao produtor. Galan explica que o mercado brasileiro de leite crescia entre 3% e 4% até 2015, mas o ano passado foi de queda. No País, segundo dados de Cepea/USP, a o preço médio ao produtor caiu de R$ 1,2152, em março de 2017, para R$ 0,9832 em janeiro último. O consumo nacional está em torno de 172 litros por pessoa ao ano, somados todos os produtor da cadeia de laticínio.
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