Taxação de produtos agrícolas dos EUA estão na mira da Chjna, como resposta às barreiras criadas pela política America First, de Trump| Foto: Divulgação/Xinhua

Mais um tiro foi disparado no ensaio do que se desenha como uma nova guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. O Ministério de Comércio da China informou que iniciou investigações para apurar suposta prática de dumping nas exportações de sorgo dos Estados Unidos ao país. De acordo com a pasta, informações preliminares apontam que grandes volumes do produto têm sido vendidos pelos EUA ao país asiático a preços baixos e com subsídios do governo dos EUA, prejudicando pequenos produtores chineses.

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Ao anunciar a ação, o governo chinês não mencionou a recente decisão da administração Trump de impor tarifas de até 30% sobre as importações norte-americanas de máquinas de lavar e painéis solares chineses.

Autoridades da China disseram a representantes de empresas dos EUA que Pequim está preparando medidas de retaliação caso as exportações chinesas sejam afetadas pela política de Trump conhecida como “America First”.

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Há cerca de duas semanas, o presidente americano anunciou abertura de investigações contra a China por suposto roubo de propriedade intelectual. O país asiático foi acusado de roubar ideias e softwares americanos, além de exigir que empresas dos EUA transfiram tecnologia para o país em troca de permissão para fazer negócios. Trump também determinou instauração de processos que podem impor à China penalidades relacionadas ao comércio de aço e alumínio.

Alvo agrícola

Produtos agrícolas dos EUA são um alvo provável na lista de retaliações do governo chinês, já que estados agrícolas norte-americanos são vistos como base política do presidente Donald Trump. “Da perspectiva do governo chinês, acho que eles pensam em retaliar em setores específicos, que têm ressonância política nos Estados Unidos, como a agricultura e a indústria de aviação”, disse ao New York Times, na semana passada, o diretor da Câmara do Comércio EUA-China em Pequim, Lester Ross.

A China tem se destacado como um grande mercado para o sorgo produzido nos EUA. Desde 2013, mais de 27 milhões de toneladas do produto foram vendidas para o país asiático, conforme dados da associação de produtores de sorgo dos EUA. Isso representa 75% do total exportado. A preocupação é que a disputa chegue ao mercado da exportação de soja, onde Trump tem forte base política, e que somente em 2016 obteve US$ 14 bilhões com vendas à China, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Se a briga comercial se acirrar, haverá efeito sobre todo o comércio global. O Brasil, teoricamente, poderá ser beneficiado com uma fatia ainda maior do mercado chinês para commodities agrícolas, como milho e soja. Mas não é nada garantido, lembra Tatiana Palermo, ex-secretária de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. “Ninguém ganha com guerra comercial. O Brasil não será beneficiado se o mundo não continuar crescendo. Quando os PIBs são prejudicados, isso não leva a nada de bom”, diz Tatiana.

“Quando um país se fecha para o outro, ele irá procurar alternativas com melhor custo-benefício. Neste caso, sim, serão abertas oportunidades. Dizer que o Brasil vai exportar mais, é outra questão. Depende de nossa competitividade, de nosso custo de transporte, de contratos já estabelecidos e da concorrência com países como Canadá e Argentina. Não há relação direta de causa e efeito”, observa.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, importando principalmente soja (43% do total importado), minério de ferro e concentrados (22%) e óleos brutos de petróleo (15%). Em 2017, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), as exportações brasileiras para a China totalizaram US$ 47,48 bilhões, enquanto as importações dos produtos chineses somaram US$ 27,32 bilhões, gerando um superávit para o lado brasileiro de US$ 20,16 bilhões.

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