O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, criticou as ações realizadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelo próprio Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que está vinculado à pasta administrada por ele. Segundo o ministro, os órgãos têm agido, muitas vezes, de forma subjetiva e “distantes da realidade”, ao tratarem de temas como autuações ambientais e fiscalizações.
“Há um excesso de voluntarismo, de ingerência da Funai e do Ibama nessas situações”, disse Ricardo Salles, ao participar de um seminário sobre temas indígenas realizado pelo Ministério Público Federal.
Salles citou a situação dos índios parecis, etnia que vive em Mato Grosso e que produz soja. Essa comunidade indígena vinha produzindo com a parceria de agricultores, mas fez um termo de ajuste de conduta (TAC) para que passasse a plantar de forma independente.
O ministro disse que eles acabam de ser multados por uso de grãos geneticamente modificados. “Os parecis foram autuados de maneira injusta. Estão tolhendo o desejo deles de participarem da agricultura empresarial”, comentou. Segundo Salles, os índios disseram que fizeram o TAC, cumpriram o prazo, capacitaram seus povos sem a participação dos parceiros de fora, mas foram impedidos de prosseguir. “Por causa de uma interpretação do órgão ambiental, deram uma infração de quase R$ 130 milhões contra uma comunidade indígena”, disse Salles.
“O que fazer com uma tribo que quer trabalhar na agricultura e que se capacitou para isso? Os parecis foram autuados porque tinham um organismo geneticamente modificado e não tinham licença ambiental, uma licença que não tinha sido exigida. Passou-se 12 anos fazendo vista grossa e agora se exige isso”, disse.
Ao falar para uma plateia formada por representantes de instituições defensoras dos direitos dos povos indígenas e representantes do MPF que atuam a favor desses povos, Ricardo Salles disse que “não há nada mais prejudicial do que desvirtuar a política pública da realidade” e que “cenários hipotéticos não ficam de pé quando colocamos de frente à realidade”.
“Nos últimos anos tivemos a comprovação de que a gestão irrealista e ineficiente de recursos públicos só casou malefícios à consecução dos objetivos estatais”, disse Salles, ao lado do ex-ministro do Meio Ambiente Sarney Filho. “Muitas das atividades que ocorrem nas áreas indígenas decorrem da total distância do tamanho do território e da capacidade do Estado. Melhor seria se nós tivéssemos noção realística de quais são os critérios demarcatórios.”
O ministro disse ainda que a delegação de especialistas para definir demarcações de terras não pode ignorar que, “por trás da caneta, há um ser humano falível” e que pode chegar a conclusões equivocadas. “Esse processo não é algo inconteste. Precisamos realmente ter muito critério do que fazemos. Precisamos aproximar teoria e prática. Estamos falando de extensões enormes, maiores que muitos países do mundo. É preciso debater sem medo do debate ideológico, do politicamente correto.”
Ministro do Meio Ambiente defende direito de índios participarem da agricultura empresarial
Para ministro Ricardo Salles, órgãos ambientais tratam índios de maneira injusta por excesso de voluntarismo e agem “distantes da realidade”
- Brasília
- Estadão Conteúdo
- 23/01/2019 16:58
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