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Na guerra comercial, China vê Brasil como parceiro estratégico para obter alimentos

Em 2017, os chineses investiram US$ 10,6 bilhões  no Brasil | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Em 2017, os chineses investiram US$ 10,6 bilhões no Brasil (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

Nem a recente crise brasileira nem a guerra comercial entre China e Estados Unidos abalaram os plano de investimento dos chineses no Brasil. Pelo contrário, a disputa global que vive o país asiático pode reforçar sua aposta no Brasil como, mais que um mero parceiro de negócios, uma aliança estratégica.

“Para o chinês, o investimento não é resultado de uma parceria geopolítica, ele é parte dessa parceria”, diz Eduardo Centola, sócio do Banco Modal, instituição que é parceira da estatal CCCC (China Communications Construction Company).

No mapa dos investidores chineses, o Brasil desponta como o único país de dimensão continental onde não há entraves políticos, de fronteira ou de supremacia, como ocorre no caso de Rússia, Índia e, claro, Estados Unidos, afirmam os analistas.

“A China olha o Brasil como um país onde pode escoar capital, tecnologia e capacidade ociosa”, diz Kevin Tang, diretor-executivo da Câmara de Comércio Brasil-China.

A energia elétrica, um dos setores em que os chineses mais investiram nos últimos dois anos no país, é um exemplo disso. “A China compra linhas de transmissão porque é uma grande fabricante, tem ‘know how’ de engenharia, de gestão. Ela [também] é a maior fabricante de equipamentos solares e eólicos.”

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O agronegócio é outro setor que deverá atrair mais investimentos chineses, principalmente com o agravamento da guerra comercial com os americanos, que são importantes parceiros no setor.

“À medida que um grande fornecedor de algo que é vital e estratégico para o país assume uma postura agressiva, a China precisa se resguardar. Na parte de alimentos e toda sua cadeia de insumos e logística, o Brasil é visto como um parceiro mais confiável”, afirma Tang.

“[O Brasil] faz parte de uma estratégia global de garantir acesso à matéria-prima e de construir a infraestrutura necessária para importá-la”, diz Marianna Waltz, diretora da agência de risco Moody’s.

Movimentos como a venda de ativos agrícolas da chinesa Dakang, controladora há dois anos da Fiagril , são pontuais, avaliam os analistas.

“Tem empresas perdendo dinheiro, pela questão do câmbio e pela crise no Brasil. Isso não vai impedir futuros investidores”, afirma Tang.

O avanço na América Latina deverá se acelerar ainda mais com a inclusão da região na “nova rota da seda” traçada pelo país, segundo relatório da Moody’s, divulgado nesta segunda(25).

No início deste ano, foi anunciado que a América Latina passaria a fazer parte da política de “One Belt, One Road”, um megaplano de investimentos do governo chinês para injetar bilhões de dólares em grandes projetos de infraestrutura na Ásia, África, Oriente Médio e Europa.

Para o Brasil, essa inclusão teria um forte peso, já que o país atraiu 56,4% de todos os recursos chineses aplicados na região entre 2003 e 2016, que somaram US$ 110 bilhões, de acordo com o estudo.

Mesmo com o recente avanço dos chineses no país, a participação da China no total de investimentos diretos estrangeiros ainda é pequena para a dimensão do Brasil -e, portanto, ainda há muito espaço para expandir, afirma Waltz.

Investimento

No ano passado, os chineses investiram US$ 10,6 bilhões no Brasil, apontam dados da consultoria Dealogic, que não incluem operações cujo valor não foi revelado.

Em 2018, entre janeiro e abril, o Ministério do Planejamento contabilizou ao menos US$ 1,3 bilhão, também deixando de fora projetos sem a divulgação de valores.

Se depender dos chineses, o patamar subirá ao mesmo de 2017, afirma Daniel Lau, sócio-diretor da KPMG e especialista em negócios chineses.

O resultado, porém, vai depender dos projetos de infraestrutura, nos quais empresas chinesas já demonstraram interesse, mas que terão dificuldade para sair do papel em pleno ano eleitoral.

É o caso, por exemplo, dos projetos bilionários de ferrovias, cuja viabilidade neste ano é considerada remota. A Eletrobras é outro ativo que atrai interesse --no caso das distribuidoras, o leilão está marcado para julho, mas a privatização da controladora deverá ficar na gaveta.

Ainda assim, aquisições, investimentos privados e projetos que dependam menos da União seguirão o mesmo ritmo, diz Lau. “Onde houver espaço, o chinês vai entrar.”

Para Centola, as recentes revisões para baixo do PIB brasileiro e o cenário político pouco influenciam nos planos para 2018. “O chinês investe com um horizonte mais longo que o europeu ou americano”, diz.

“As empresas estatais seguem um programa anual de investimento, norteado pelo governo chinês. Se eles não se concretizam, elas precisam dar explicações.”

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