O pacote de ajuda financeira do governo Trump para os agricultores atingidos pela Guerra comercial com a China pode acabar “salvando” algumas centenas de milhares de hectares de soja que estavam para ser substituídos pelo milho no próximo ciclo de plantio.
Os preços da soja despencaram neste ano após a China virtualmente suspender as compras dos Estados Unidos. Enquanto isso, o mercado do milho segurou-se relativamente bem, levantando especulações de que pelo menos dois milhões de hectares poderiam ser acrescentados à área plantada, migrando da soja. Mas a luz verde dada pelo presidente Trump para uma segunda rodada de pagamentos de subsídios, nesta semana, pode fazer os agricultores reconsiderarem os planos, segundo operadores e analistas.
“Vai ser difícil ver entre 1,5 milhão e 2 milhões de hectares da soja migrarem para o milho”, diz Ted Seifried, estrategista-chefe de mercado do Zaner Group, em Chicago. Seifried disse que, em contato com revendas, ouviu muita gente surpresa com o ritmo de comercialização de sementes de soja. Ele espera uma diminuição de 600 mil a 1,2 milhão de hectares na área plantada com a leguminosa.
Em 2018, os agricultores americanos semearam 36 milhões de hectares de soja, a mesma área destinada ao milho, segundo o Departamento de Agricultura (USDA). O preparo do solo serve para as duas culturas e os produtores, com frequência, decidem o que semear em função da perspectiva de lucros.
Os contratos futuros para soja mais procurados caíram cerca de 5% neste ano, indicando que a guerra comercial entre EUA e China fez crescer os estoques e manteve a demanda refreada. Ainda assim, os preços reduziram as perdas depois de cair até 16%. Sinais de que o alívio das tensões entre Pequim e Washington trouxe alguma esperança ao mercado. Enquanto isso, as cotações do milho cresceram 7% em 2018.
Para amenizar o impacto da guerra comercial sobre os agricultores, o USDA estima que fará pagamentos de auxílio-direto na ordem de US$ 9,57 bilhões (cerca de R$ 37 bilhões). O socorro aos produtores de soja deve alcançar a cifra de US$ 7,3 bilhões (R$ 28 bilhões), ou 76 do total, segundo o USDA.
Na medida em que as tensões entre China e Estados Unidos diminuem, o distanciamento entre as cotações de soja e de milho aumentou. No início deste mês, o prêmio destinado à soja alcançou o valor mais alto em seis meses, tornando a oleaginosa mais atraente para os produtores. O país asiático retomou compras de soja dos EUA nas duas últimas semanas. São os primeiros volumes mais significativos desde que foram aplicadas sobretaxas nos produtos agrícolas americanos, em julho.
“Os agricultores continuarão a monitorar os preços até que chegue a primavera e a época de plantio”, assinala Don Roos, presidente da trader US Commodities, que espera uma redução de 1,2 milhão de hectares na área plantada com soja. Ele lembra que fatores como o custo de fertilizantes também serão determinantes na tomada de decisão de plantio por parte dos produtores.
“É um quadro em constante evolução. Os produtores estão fazendo seus planejamentos e, claro, esses pagamentos diretos definitivamente têm seu impacto”, diz Roose. “Mas não acho que a redução (de soja) será em níveis colossais, como muita gente chegou a falar antes”.
Farm bill
Na quinta-feira (20), o presidente americano Donald Trump assinou o plano agrícola do país para os próximos dez anos, conhecido como Farm Bill. O programa tem orçamento de US$ 867 bilhões (R$ 3,35 trilhões) e envolve tanto o financiamento e subsídios aos agricultores do país como o programa de benefício social do governo, conhecido como Food Stamps. “Precisamos cuidar de nossos agricultores e pecuaristas, e é isso que estamos fazendo”, disse Trump ao assinar a lei.
Antes de assinar a Farm Bill, Trump compartilhou pelo twitter um vídeo do Emmy Awards de 2005, principal premiação da TV americana, em que aparece trajado como fazendeiro e cantando a música tema da série “O fazendeiro do asfalto” (Green Acres), uma sitcom popular no anos 60.